As lâmpadas LED (sigla em inglês para “diodos emissores de luz”) azuis, no início dos anos 90, são uma grande invenção que permitiram criar luz artificial com menos gasto energético e mais durabilidade. O trabalho que levou à sua criação rendeu o prêmio Nobel de Física em 2014 a três cientistas japoneses: Isamu Akasaki, Hiroshi Amano e Shuji Nakamura.
Mas, apesar das LED terem contribuído para preservar o meio-ambiente, pesquisadores alertam para o perigo que elas podem representar para a visão. Há cerca de duas semanas, a Anses (Agência Nacional de Segurança Sanitária, Alimentação, Meio-Ambiente e Trabalho), na França, publicou uma recomendação alertando para os riscos dessas lâmpadas para a saúde em caso de excesso de exposição.
A preconização é privilegiar as LED “branco quente”, abaixo de 3.300 kelvins (temperatura de cor) e restringir as lâmpadas do tipo 2, usadas nos faróis de carro, por exemplo, ao consumo. Dois pontos essenciais são citados no documento: a toxicidade da luz chamada luz azul na retina e a perturbação do relógio biológico e do ciclo do sono, provocada pela exposição noturna, questão que já havia sido discutida em outro relatório, apresentado em 2010.
Desde então, novos estudos mostraram que as lâmpadas LED podem ter um efeito tóxico para os olhos a curto prazo em caso de “exposição violenta”. Mas, além disso, a exposição a longo prazo aumenta o risco de Degeneração Macular. Trata-se de uma doença grave, que provoca uma perda gradual da visão, provocada pela deterioração da porção central da retina. O risco maior, aponta o estudo, envolve o uso excessivo de celulares, computadores e tablets.
A diretora de pesquisa do Inserm (Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica), Alicia Torriglia, estuda os efeitos da toxicidade da luz artificial na visão em seu laboratório na Faculdade de Medicina de Paris, no 6° distrito. Ela participou do grupo de trabalho formado pela agência francesa que definiu as novas recomendações de uso das lâmpadas. Para isso, durante quatro anos, eles revisaram todos os estudos publicados sobre o tema.
Ela está convencida de que as lâmpadas azuis LED afetam microscopicamente a retina. “O grande problema da luz azul, e da luz em geral, é o tempo de exposição. Esse é a grande questão, que conhecemos e estudamos há bastante tempo”, diz a pesquisadora.
O relógio biológico é a antecipação desse fenômeno: o organismo sabe qual é a hora de se alimentar ou dormir e se prepara para isso. A retina segue essa regra, explica a pesquisadora, e se adaptou a conviver com 100 000 lux de luz do sol durante o dia e à luz da lua. O resultado é que o órgão diminuiu sua sensibilidade de dia e a aumentou à noite para que o homem pudesse enxergar melhor.
“Da mesma maneira que a sensibilidade à luz muda, a fotossensibilidade também. De dia somos mais resistentes à luz do que noite. E quando usamos luz artificial azul? De noite. Isso nunca foi feito na história da Humanidade. Até o surgimento das LED, usávamos a luz vermelha, como o fogo, a vela, as lâmpadas incandescentes”, exemplifica.
Em resumo, essa é a primeira vez na história que o olho humano é submetido a uma de forte intensidade à noite, quando é mais fotossensível. Todos esses elementos, cruzados com diversos estudos, levaram o grupo de trabalho da agência francesa a pedir prudência com o uso da luz azul das LED.
Foto: Prefeitura de Palmas/Divulgação
Por RFI