Moradores da Rocinha vivem “lei do silêncio”

 

Há nove dias convivendo com clima de tensão em meio à guerra entre traficantes rivais, moradores da Rocinha, na Zona Sul do Rio, afirmam que os criminosos impuseram uma “lei do silêncio” na comunidade. Moradores da Rocinha nos arredores da comunidade relataram intimidação por parte dos criminosos.

Os moradores afirmaram que estão proibidos de utilizarem aparelhos celular para fazerem registros de imagens, seja em fotos ou vídeos, no interior da comunidade. Esta imposição acontece no momento em que as forças de segurança pedem o apoio da população no registro de denúncias que ajudem a identificar e prender os criminosos que aterrorizam a favela, além de localizar drogas e armas escondidas no morro.

Apesar dos relatos dos moradores, o ministro da Defesa Raul Jungmann afirmou em entrevista na manhã desta segunda-feira (25) à rádio CBN que houve “estabilização” na comunidade da Rocinha desde domingo, terceiro dia da operação conjunta entre forças armadas e a polícia do estado.

“Há uma estabilização de ontem para cá da situação dentro da comunidade da Rocinha e os tiroteios reportados não são mais entre traficantes, mas entre polícia e os bandidos”, disse Jungmann em entrevista à CBN.

Em entrevista coletiva realizada no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) no sábado (23), dia seguinte ao início da atuação do Exército na Rocinha, representantes da segurança do estado e do governo federal afirmaram que as ações na favela serão realizadas por tempo indeterminado. Na ocasião, eles pediram ajuda dos moradores da comunidade.

“A comunidade é que detém essa oportunidade de contribuir para que esse trabalho se perpetue no tempo. Eles [os moradores] são as pessoas que podem nos ajudar a limpar por um longo tempo a comunidade”, declarou o general Mauro Sinott, comandante da 1ª Divisão de Exército.

A guerra na Rocinha que aterroriza os moradores desde o dia 17 de setembro passado começou porque Rogerio Avelino, conhecido com Rogério 157, rompeu com o também traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, de quem era homem de confiança.

Nem não gostou de saber que o antigo aliado estava cobrando valores abusivos e monopolizando o fornecimento de água e gás na comunidade. De dentro do presídio de segurança máxima onde cumpre pena, ele determinou a invasão de seu bando à favela para tentar recuperar o território.

Somente cinco dias depois do início da guerra entre os traficantes, as autoridades do estado decidiram pedir ajuda federal. O emprego das Forças Armadas na Rocinha foi solicitado pelo governador Luiz Fernando Pezão na sexta-feira (22). O pedido foi autorizado no mesmo dia pelo Ministério da Defesa, que liberou 950 militares para auxilias as forças de segurança do estado.

Balanço das operações

Entre a sexta-feira (22), quando teve início a operação, até este domingo (24), forças federais e polícias estaduais registraram 3 mortos, 16 presos e 22 fuzis apreendidos na Rocinha, segundo balanço feito pela Secretaria de Segurança Pública do RJ. Na tarde deste domingo (24), um homem foi preso e um fuzil encontrado na comunidade.

Veja a lista das mortes, prisões, detenções e apreensões:

  • 3 mortes
  • 16 prisões
  • 2 detenções de menores de idade
  • 22 fuzis apreendidos
  • 8 granadas
  • 2 bombas de fabricação caseira
  • 2 pistolas
  • 84 carregadores de fuzil
  • 2.151 munições

Foco na captura de Rogério 157

O principal foco das operações conjuntas das polícias do estado e das tropas federais, além de conter os conflitos entre criminosos rivais na comunidade, é capturar o traficante Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157. Ele é apontado como o pivô da guerra iniciada no dia 17 de setembro.

As investigações da polícia apontaram que o traficante chegou a fugir da Rocinha. Mas a polícia crê que ele conseguiu voltar para o morro, onde estaria escondido. Imagens obtidas com exclusividade pelo Fantástico mostram o interior da casa do traficante no alto da Rocinha, descoberta por policiais federais. O imóvel, que tem vista para toda a favela, é repleto de luxo em todos os cômodos.

Segundo o delegado titular da 11ª DP (Rocinha) Antônio Ricardo Lima Nunes, que comanda as investigações, os relatos de um taxista que foi rendido e escapou de criminosos reforçam as informações obtidas pelos investigadores.

O taxista passava pela Rua Jardim Botânico quando bandidos entraram no carro e falaram para que seguisse até o Horto. Chegando lá, eles saíram e quatro bandidos armados embarcaram no táxi e o obrigaram a ir até a Rocinha. Um deles era Rogério 157, acredita a polícia.

“Eles davam [a ele] o nome de pai. Tava no táxi comigo, ao meu lado, sentou ao meu lado. Passamos por duas barreiras. Ele só disse que não ia abandonar, porque ele era cria do morro”, disse o taxista.

Quando chegou próximo à favela, o motorista viu os militares e policiais, parou o carro e se jogou no chão. Os criminosos trocaram tiros com os policiais, mas conseguiram fugir.

“É um relato verídico e bate com nossa investigação. Ele [Rogério 157] retornou para a favela. Ele não quer perder o controle da comunidade (…) Ele está sufocado. Então ele vai para a mata, para a favela. A prisão dele pode acontecer a qualquer momento”, declarou o delegado.

O Disque Denúncia aumentou de R$ 30 para R$ 50 mil o valor da recompensa a quem repassar informações que ajudem a localizar e prender 157. As investigações da Polícia Civil apontaram que ele havia deixado a Rocinha durante os confrontos, mas teria conseguido voltar à comunidade na madrugada deste sábado.

 

Foto: Reprodução

Fonte: G1


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