Depois de mandar a sua equipe dar um “jeito”, o presidente Jair Bolsonaro acatou a recomendação do Ministério da Economia e vetou integralmente o Refis (parcelamento de débitos tributários) para as micro e pequenas empresas e os microempreendores individuais (MEIs).
A reabertura do programa poderia permitir a renegociação de R$ 50 bilhões em dívidas. Hoje, no Brasil, há 16 milhões de microempreendedores individuais e empresas de pequeno porte. A atual proposta de Refis foi aprovada com votação praticamente unânime no Congresso.
Bolsonaro foi aconselhado pela Advocacia-Geral da União (AGU) a não correr mais riscos jurídicos, depois da polêmica em torno da sanção da prorrogação da folha de pagamentos de 17 setores sem a adoção de medidas compensatórias para a perda de arrecadação. A AGU, que deu sinal verde à sanção da prorrogação da folha, contrariando posição da equipe econômica, desta vez acompanhou o Ministério da Economia e manifestou-se pelo veto.
Na justificativa para o veto, o presidente diz que o projeto apresenta “vício de inconstitucionalidade e contrariedade ao interesse público”, uma vez que o Refis conta com renúncia tributária e não foi atendido dispositivo do artigo 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que exige a compensação. A opção do presidente era aumentar tributos para compensar a renúncia, o que ele não quis fazer.
Intensas negociações
Na quinta-feira, 6, prazo final para a sanção da lei aprovada pelo Congresso que criou o programa, houve intensas negociações com os parlamentares e representantes dos empresários tentando reverter o risco de veto integral do projeto.
Eles se animaram no início da noite com a sinalização do Palácio do Planalto depois que o presidente criticou a recomendação do veto pela equipe econômica.
No início da transmissão semanal que faz pela internet, Bolsonaro reclamou, sem saber que a live já tinha começado: “Como são as coisas, né? O cara querendo que eu vetasse o Simples Nacional”, disse. Em seguida, perguntou: “Passou telefone do Pedro?”. Provavelmente, ele se referia a Pedro César Nunes, subchefe para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pelo assessoramento jurídico do Planalto.
Após o Estadão/Broadcast revelar que o Palácio do Planalto havia sinalizado a possibilidade de veto, no início da tarde de ontem, a repercussão negativa foi grande entre apoiadores do presidente.
À noite, o relator do projeto na Câmara, deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP), estava confiante de que o veto seria parcial. Segundo ele, a solução em estudo era vetar um trecho do projeto aprovado pelo Congresso para que as empresas que tiveram aumento do faturamento durante a pandemia da covid-19 não pudessem aderir ao Refis e fizessem a transação tributária. Ficaria mantido o Refis para todas as micro e pequenas empresas e microemprededores (MEI) que tiveram queda de faturamento durante a pandemia. Mas a ideia não prosperou.
Uma reunião da equipe econômica foi feita à noite com o secretário-executivo, Marcelo Guaranys, para encontrar a solução. Com o prazo apertado, a decisão acabou sendo pelo veto integral.
Ao longo do seu mandato, Bolsonaro tem contado com a derrubada pelo Congresso de vetos que assina contrariado para atender dispositivos legais.
O que é
Refis é o Programa de Recuperação Fiscal que tem como objetivo facilitar a regularização de tributos em atraso de pessoas jurídicas ou físicas. Dessa forma, o programa é regularizado por órgãos públicos federais. Tais como:
- Receita Federal do Brasil (RFB);
- Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN);
- Instituto Nacional do Seguro Nacional (INSS).
Além destes, podem ser incluídas também as Secretarias da Fazenda, estaduais e municipais. Nelas, o Refis pode incluir impostos como o ICMS e o ISS.
Em 2000 aconteceu o primeiro Programa de Recuperação Fiscal e sua lei (nº 9.964) foi instituída. Posteriormente, começou a acontecer também outros programas de parcelamento de dívida. Por exemplo, o Refis-Crise, em 2009 e o Refis-Copa, em 2014.
*Com informações do Estadão