A Polícia Civil de Minas Gerais descartou a possibilidade de sabotagem como motivo da contaminação dos lotes de cerveja da Backer que provocaram nove mortes e intoxicaram 42 pessoas. Em coletiva de imprensa na tarde de ontem, a corporação indicou que as perícias estão “na reta final”. “Neste momento, a linha de sabotagem foi descartada. Não evoluímos com essa linha de sabotagem. Ela foi retirada. A negligência é uma das linhas sendo investigadas”, disse o delegado responsável pelo caso, Flávio Grossi.
Há algumas semanas, sabotagem, erro de procedimento na fábrica ou contaminação dolosa eram as três linhas nas quais a polícia se debruçava para desvendar a presença de substâncias tóxicas em lotes das cervejas da empresa mineira, cuja fábrica fica em Belo Horizonte. Ao ser questionado sobre a possibilidade de vazamento em tanques ou sistemas de refrigeração, o delegado apontou que “ainda não é o momento de se indicar”.
Quanto à responsabilização pelos casos, em que, conforme a perícia, foi constatada a presença da substância tóxica dietilenoglicol (usada para refrigerar a bebida), o policial indicou que não se limitaria à empresa: “Não se fala em responsabilidade penal de pessoa jurídica, mas todos os envolvidos na produção cervejeira estão passíveis de ser investigados e responsabilizados”.
As investigações estão “avançadas”, segundo a autoridade. “Hoje, completamos três meses. As perícias estão em andamento e na reta final. Elas não pararam”, disse. Com relação ao número de vítimas, o delegado explica que se mantém em 42. “O que não impede que outras pessoas que se sentiram prejudicadas possam registrar a ocorrência e venham até a delegacia para as primeiras entrevistas e, quem sabe, para prestar depoimento”, explicou. Ainda que a incidência maior tenha sido a partir de dezembro de 2019, são investigados casos de meados de 2018 ao início de 2020.
INDIGNAÇÃO
Em nota, o grupo de familiares e vítimas do envenenamento pelo consumo das cervejas Backer demonstrou a indignação diante da falta de ação da cervejaria no sentido de dar apoio às vítimas. No documento, questiona-se a morosidade da Justiça em fazer o levantamento dos bens da empresa para indenizar as famílias envolvidas. Confira alguns trechos da nota ao lado:
NOTA DAS VÍTIMAS DA CERVEJARIA BACKER
A Backer mais uma vez se utiliza de interpretações distorcidas para tentar indicar que está cumprindo ordem judicial, o que em verdade não está! Mas a questão é simples: estaria o juiz da 23ª Vara Cível procurando bens da cervejaria se a decisão estivesse sendo cumprida?. Obviamente que não. A Backer faz parecer como se estivesse impossibilitada de ajudar, quando na verdade nunca quis realmente prestar qualquer auxílio.Todos os documentos para comprovar a intoxicação e os gastos já foram apresentados por parte das vítimas (um grupo de 13 vítimas até a presente data, que se habilitaram como assistentes do Ministério Público de Minas Gerais no processo judicial em curso).
Tanto que com base neles é que a Backer começou a custear as despesas de apenas uma das famílias.E não são só essas 13 vítimas que atuam no processo que devem ser amparadas pela Backer. São todas as famílias que, conforme é do conhecimento da Backer, já somam 42 vítimas efetivamente envenenadas e que foram listadas no inquérito policial que transcorre há três meses, investigando as responsabilidades criminais dos sócios da Backer.Se quisessem, teriam procurado as famílias, teriam conversado sobre o que poderia ser feito, mas nada disso aconteceu. A Backer dá a entender que a Justiça é lenta para efetivar o necessário – mas isso ocorre porque ela se coloca como obstáculo a todas as decisões judiciais em favor das vítimas. Nunca ofereceu nenhum bem, nunca se dispôs a prestar nenhuma ajuda, NADA.
Não faz sentido uma empresa que faturou R$ 72 milhões em 2019 ter em fevereiro de 2020 só R$ 12.200 em suas contas bancárias.O grupo de empresas da família Khalil Lebbos tem nove ou mais empresas. Onde foi parar todo esse patrimônio? Bloqueado na Justiça não está. Por mais que a Backer se defenda com palavras vazias, a verdade está escancarada pela voz das vítimas: estão sofrendo, sem auxílio e sem contato da Backer. Essa é a verdade nua e crua!
Grupo de familiares e vítimas do envenenamento pelo consumo das cervejas Backer
Nota da Backer
A Backer espera que as autoridades concluam as investigações o quanto antes e que forneçam respostas definitivas sobre o que ocorreu. Exceto a confirmação, pelo delegado do caso, de que a Backer jamais adquiriu dietilenoglicol, nenhuma informação oficial sobre o resultado das perícias técnicas foi comunicado à empresa até este momento.
Após 90 dias de apurações, a fábrica encontra-se paralisada, o que leva apreensão aos seus funcionários, colaboradores e clientes.A afirmação de que a Backer não tem prestado assistência é inverídica. Argumentação explícita, em sentido contrário à afirmação, pode ser lida na decisão do juiz Sérgio Henrique Cordeiro Caldas Fernandes, da 23ª Vara Civel da Comarca de Belo Horizonte, do dia 2 de abril. A decisão se refere a um grupo de 13 pacientes e familiares que fazem parte de ação movida pelo Ministério Público.
O texto relata que medidas foram adotadas para garantir a prestação de auxílio pela empresa e reitera determinação anterior da Justiça que define as condições para que tal ajuda seja realizada.Segundo o despacho, bens da empresa foram bloqueados para “custear despesas médicas não cobertas pelos planos de saúde, bem como assistência aos familiares de pessoas que apresentaram exame toxicológico ou relatório médico indicativo da intoxicação e comprovante de despesas”.
Por: em.com.br