O papel da poluição e do pólen na propagação rápida da Covid-19

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Cientistas do programa europeu de observação da Terra “Copernicus” trabalham atualmente em cooperação com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com epidemiologistas para determinar o papel da poluição na disseminação da Covid-19. Com o início da primavera no hemisfério norte, pesquisadores também observam as consequências da polinização sazonal no cenário da pandemia.

Em entrevista publicada pelo jornal francês Libération, terça-feira (24), Vincent-Henri Peuch, diretor do Serviço Europeu de Monitoramento Atmosférico (Cams) do “Copernicus”, fala sobre a suspeita de que partículas finas estejam ajudando a transportar o novo coronavírus. Graças a ferramentas de observação por satélite e modelização, o Cams revelou, no dia 18 de março, uma redução semanal de 10% nas concentrações de um poluente – o dióxido de nitrogênio – no norte da Itália, desde meados de fevereiro.

Na véspera, um estudo realizado por 15 cientistas internacionais, publicado no “The New England Journal of Medicine”, concluiu que o novo coronavírus pode permanecer por aproximadamente três horas em meio a partículas finas em suspensão. Esses micropoluentes são liberados na atmosfera em processos de combustão, emitidos por carros, pela atividade agrícola ou industrial, o transporte aéreo, entre outras fontes.

A OMS e as universidades que trabalham em parceria com o Cams investigam se o novo vírus, em sua fase ativa, pode sobreviver “agarrado” às partículas em suspensão e por quanto tempo. Os cientistas tentam descobrir se o novo coronavírus poderia contaminar pessoas em longas distâncias, carregado pela poluição. Outros fatores, como a umidade do ar e a temperatura, são analisados nesse processo. Até agora são apenas hipóteses, mas, se confirmadas cientificamente, elas poderiam explicar, em parte, a velocidade de propagação da Covid-19.

Redução do transporte aéreo

A redução do transporte aéreo, na sequência das medidas de restrição de circulação adotadas por vários países europeus, poderá em breve fornecer dados interessantes aos cientistas. O confinamento já produz uma redução dos gases de efeito estufa, como o dióxido de nitrogênio e as partículas finas, em todos os países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos, com um ligeiro atraso no Reino Unido.

Segundo o diretor do Cams, como essas emissões são muito dependentes da variação sazonal e do clima, os cientistas precisam de pelo menos um mês de coleta de dados e observação para tecer uma evolução robusta. “Poderíamos, então, decidir reduzir certas fontes específicas de poluição”, diz Vincent-Henri Peuch nas páginas do Libération, com o objetivo de limitar a propagação da pandemia. Ele adverte, entretanto, que as concentrações de dióxido de carbono (CO2) e de gás metano na atmosfera já são tão elevadas e antigas, que uma diminuição temporária das emissões corresponderia a cerca de 1% do total.

Atualmente, o programa “Copernicus” trabalha no desenvolvimento de três satélites capazes de mensurar o CO2 com uma precisão suficiente para determinar a quantidade “recente” e a mais “antiga” desse poluente. Nos próximos dias, o Serviço Europeu de Monitoramento Atmosférico vai publicar um mapa, em tempo real, da evolução da concentração de alguns gases perigosos para a vida na Europa.

Com o início da primavera no hemisfério norte, o Cams também observa  a relação entre a propagação do coronavírus e as alergias provocadas pela polinização sazonal. Está claramente estabelecido que a poluição do ar, também estendida ao pólen, provoca doenças como a asma. Com a Covid-19, a questão agora é saber se a periculosidade do vírus e suas complicações pulmonares seriam ainda mais nocivas para pesssoas alérgicas ao pólen. Na Europa, 25% da população é sensível ao pólen.

Por: RFI