A decisão tomada pelo apresentador de TV Luciano Huck de não concorrer à presidência da República faz com que a bússola política nacional volte a apontar para candidaturas de nomes mais tradicionais, já testados eleitoralmente e, que não representam a renovação no cenário público. Além dos atuais líderes nas pesquisas eleitorais, colocados em polos extremos da disputa — Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro —, abre-se uma brecha para uma candidatura de centro, que, no momento, poderia ser representada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
A situação repete-se nas expectativas de renovação do Congresso, que não deve fugir muito do percentual verificado em anos anteriores, na casa dos 45%. No caso dos governos estaduais, a expectativa de mudanças é ainda menor, à exceção do Rio, um estado que se encontra em situação conflagrada com todos os governadores eleitos desde 1998, todos os presidentes da Assembleia Legislativa Estadual (Alerj) e cinco dos seis desembargadores do Tribunal de Contas Estadual presos. Lá, o Partido Novo lançou o nome do ex-técnico da seleção brasileira Bernardinho ao governo estadual. Este já adiantou que poderá ter o ex-secretário de segurança pública José Mariano Beltrame como vice.
Alckmin ganhou fôlego após a pacificação do PSDB (leia mais na página 3). Já Meirelles avisou, durante evento em São Paulo, que tem até março para decidir se concorrerá ou não à presidência da República. Pesquisas mostravam que Huck tinha uma aprovação de 60% — na prática, uma avaliação positiva, o que não significa intenção de voto. Ontem, o apresentador publicou artigo na Folha de S. Paulo dizendo que chegou a ser seduzido pelo canto das sereias, mas que desistiu. Colocou-se como alguém disposto a ajudar no debate, mas não para ser candidato neste instante.
“O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país (…) Mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional”, afirmou ele, no artigo.
Durante debate promovido pela revista Veja, em São Paulo, Huck afirmou que “nunca chegou a ser candidato de fato e disse que seria uma insanidade promover uma ruptura tão grande na sua carreira como apresentador e com sua família”. Ele é casado com a apresentadora Angélica e tem três filhos. Para o também apresentador de televisão João Soares, Huck errou ao desistir da candidatura. “Ele é inteligente, preparado. Até qual idade vai ficar apresentando programas que distribuem prêmios?”
Huck tornara-se a moda da vez, embora o prefeito de São Paulo João Doria já tenha flertado com esse adjetivo de novo na política. Mas como os próprios tucanos admitem, ele queimou a largada. Munido de pesquisas internas que mostram o derretimento de sua imagem perante a população, resolveu recolher os flaps e admite, agora, concorrer ao governo de São Paulo. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa conversou diversas vezes com o PSB e a Rede, até sinalizou simpatia com a possibilidade de ter como vice Marina Silva mas, até o momento, não bateu o martelo quanto a nada.
Experiência complexa
Na opinião do cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo Rui Tavares Maluf, Huck conseguiu distinguir a pré-campanha da campanha, quando as críticas e os ataques tenderão a se tornar ainda mais duros. Maluf afirma que, mesmo sendo um nome acima da média, que frequenta a academia e tem um certo embasamento intelectual, a vida de Huck poderia ser fácil em um determinado momento, mas governar seria uma experiência complexa. “Se é possível sonhar com uma candidatura sem um partido relativamente forte para apoiar, é impossível governar sem legendas estruturadas ao seu lado”, afirmou Rui Tavares.
O professor de ciência política do Insper Carlos Melo é mais cético quanto às palavras de Huck, ao lembrar que ele próprio escreveu que não seria candidato, mas que permaneceria disposto a ajudar no debate. “Na prática, significa dizer: estou aqui, qualquer coisa me chamem”, disse Melo. Ele afirmou, contudo, que, embora haja a dificuldade de encontrar uma opção de candidatura outsider, esse espaço permanece aberto. “A grande questão é saber qual é embate dessa eleição: é entre um candidato reformista e outro conservador? É entre esquerda e direita? É entre o representante do sistema e um que esteja fora dele?”, questionou Melo. “Sem isso, não há como definir qual o perfil desse outsider”, concluiu.
Alckmin diz que aceita disputar a presidência do PSDB
O governador Geraldo Alckmin disse, na noite desta segunda-feira (27), após um jantar com integrantes do PSDB no Palácio dos Bandeirantes, que aceitou ser candidato à presidência do PSDB. Ele afirmou, porém, que sua candidatura só será oficializada no dia 9 de dezembro, na convenção do partido.
A reunião teve a participação do ex-presidente Fernando Henrique, do senador Tasso Jereissati e do governador de Goiás, Marconi Perillo. Segundo Alckmin, durante o encontro, Perillo e Jereissati disseram que abririam mão das suas pré-candidaturas, caso ele tivesse disposição de participar do processo.
“Essa é uma escolha que só vai ocorrer no dia 9, foi só uma conversa e a retirada de ambas as candidaturas [de Perillo e Jereissati], mas a escolha da executiva será na convenção do dia 9. O presidente Alberto Goldman vai conduzir esse processo. Se o meu nome puder unir o partido, fortalecer o partido como um vigoroso instrumento de mudança para o Brasil, de implementar as mudanças que o Brasil precisa para avançar mais, é nosso dever. (…) É uma escolha que ocorrerá no dia 9. Nosso nome está à disposição”, afirmou. Questionado objetivamente por jornalistas se ele aceita ser candidato ao cargo, ele respondeu: “Topo”.
O governador confirmou que é a alternativa para uma “chapa de unidade”, mas negou ser candidato único. “Não se pode dizer isso porque quem quiser pode ser candidato e a escolha será feita pelo diretório nacional”, defendeu.
“Nunca me ocorreu disputar a presidência do PSDB em nível nacional. O presidente Fernando Henrique lembrou que se nós conseguíssemos uma unidade, evitar disputa, seria melhor”, comentou.
O nome de Alckmin, tem como objetivo unir o partido e buscar aliados para 2018.
Ainda de acordo com o blog, o governador chegou a resistir por algum tempo, mas acabou decidindo acumular a presidência do PSDB com a candidatura à presidência da República como forma de evitar o aprofundamento do racha no partido e conquistar apoios de outros partidos para sua provável candidatura.
O último movimento de pressão partiu do governo Temer, que deixou claro aos tucanos aliados ao Palácio do Planalto que, se Tasso Jereissati fosse eleito para o comando partidário, o PMDB seguiria outro caminho na campanha do ano que vem, isolando o PSDB na disputa presidencial.
Isso aconteceu enquanto a disputa entre Marconi Perillo e Tasso Jereissati dava sinais de confronto entre alas do partido.
Desde o final da última semana, a palavra estava com Alckmin. Ele ouviu tanto de Marconi quanto de Tasso que, se ele quisesse ser o nome de consenso, os dois retirariam as candidaturas. Mas que isso deveria ser feito logo porque, mais adiante, as campanhas estariam irreversíveis.
Nos últimos dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu publicamente a indicação de Alckmin, mas o governador paulista aguardava, ainda, uma palavra pública de apoio dos senadores José Serra e Aécio Neves.
Foto: Reprodução
Fonte: Correio Braziliense
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