Michel Temer e outras 9 autoridades tiveram telefones publicados pela Câmara

 

O telefone celular de uso pessoal do presidente Michel Temer é apenas um dentre dezenas de números de autoridades tornados públicos pela Câmara dos Deputados. Nesta segunda-feira foi revelado que a Câmara, em seu site, publicou o número de Temer, a partir de dados extraídos de um aparelho iPhone do ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência Geddel Vieira Lima, apreendido pela Polícia Federal (PF) numa operação derivada da Lava-Jato. No mesmo telefone estavam anotados os contatos de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF); de nove ministros do governo Temer; um governador; cinco senadores; oito deputados; um prefeito; um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU); e de três investigados que protagonizaram os principais momentos da Lava-Jato.

Todos os dados foram publicados pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), dentro do material relacionado à segunda denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente, por organização criminosa e obstrução de Justiça. Para a denúncia prosseguir, a maioria dos deputados precisa dar o aval – a primeira análise é na CCJ. O compartilhamento das investigações associadas à denúncia – o que inclui o relatório sobre o iPhone de Geddel, centenas de documentos e vídeos de delação premiada, como a do doleiro Lúcio Funaro – foi autorizado pelo STF.

Estão na lista de contatos de Geddel os telefones celulares do ministro do STF Alexandre de Moraes; dos ministros do governo Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo da Presidência), Bruno Araújo (Cidades), Eliseu Padilha (Casa Civil), Gilberto Kassab (Ciência), Henrique Meirelles (Fazenda), Marx Beltrão (Turismo), Mendonça Filho (Educação), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Ricardo Barros (Saúde); do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB); dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Ciro Nogueira (PP-PI), Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Romero Jucá (PMDB-RR); do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de outros sete deputados, como Beto Mansur (PRB-SP), um dos principais aliados de Temer; do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM); e do ministro do TCU Bruno Dantas. Desde o fim da semana passada, para consulta por qualquer cidadão, os números estão disponíveis no site da Câmara.

A divulgação dos vídeos da delação de Funaro pela CCJ já havia causado uma crise entre o presidente da Câmara e o advogado de Temer, Eduardo Carnelós. Após Carnelós divulgar uma nota em que manteve críticas à divulgação dos vídeos, Maia disse que a nota não elimina o erro por completo. Ele afirmou que os servidores da Casa devem processar Carnelós. E chamou o advogado de “incompetente” e “irresponsável”. O advogado afirmou que não sabia que os vídeos haviam sido publicados no site da Câmara. O telefone do próprio Maia está publicado no site da Casa.

SIGILO NÃO FOI RETIRADO

O gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF, informou que o sigilo da delação de Funaro não foi retirado. Fachin conversou com Maia sobre o assunto, em 25 de setembro, com a participação da presidente do STF, Cármen Lúcia. Na reunião, o presidente da Câmara recebeu orientação sobre qual parte era sigilosa e qual poderia ser divulgada. Procurada, a Câmara reafirmou que esteve com Fachin e que a determinação dele em relação à denúncia está sendo cumprida.

Outro contato da agenda de Geddel é Leo Pinheiro, dono da construtora OAS, com que travou uma intensa troca de mensagens quando era vice-presidente da Caixa Econômica Federal. O ex-ministro também tinha anotado o celular de Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, proprietário do frigorífico JBS. Joesley gravou Temer dentro do Palácio do Jaburu. O grampo que foi usado nas duas denúncias da PGR contra o presidente.

Marcelo Odebrecht, um dos donos da Odebrecht, também estava na agenda, assim como os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), habituados a trocar mensagens e ligações com Geddel. Todos esses números estão no relatório produzido a partir do celular do ex-ministro, disponível no site da Câmara.

‘ALÔ, PRESIDENTE’

Na tarde de ontem, a reportagem do jornal GLOBO ligou no número de Temer e falou com o presidente. Primeiro, o repórter questionou se o celular era do Palácio do Planalto. O presidente disfarçou e disse que não. Depois, foi detalhado que o número estava na agenda de Geddel como sendo do presidente da República. O ex-ministro está preso preventivamente no Presídio da Papuda, em razão das suspeitas de que manteve R$ 51 milhões num “bunker” em Salvador, também apreendidos pela PF. Temer pediu:

– Liga aqui para o gabinete do presidente e fala com a dona Nara (de Deus, chefe de gabinete de Temer).

– Eu estou falando com o presidente, não estou? – questionou o repórter.

– Está, perfeitamente – respondeu.

Temer disse não ver problema em seu número de celular pessoal estar disponível no site da Câmara, junto com o material relacionado à segunda denúncia da PGR:

– Se você ligar para… quem… Se você ligar para qualquer ministro ou qualquer ex-ministro, ou qualquer deputado, vai encontrar esse número também. Acho que centenas de pessoas têm esse número. (…) Aliás, umas das críticas que eu recebo é que eu atendo o meu celular – disse o presidente.

No mesmo material compartilhado com a Câmara, estão registros de e-mails enviados por Geddel a partir do iPhone que foi apreendido. O ex-ministro tentou por quatro vezes, em outubro de 2016, enviar uma mensagem a um endereço privado de e-mail de Temer. Geddel era ministro da Secretaria de Governo e despachava no Palácio do Planalto. Temer já era presidente efetivo há um mês e meio. Deveriam usar, portanto, e-mails institucionais.

– O senhor usa essa conta ainda?

– Conta?

– É, uma conta particular no Gmail.

– Não, conta não. Eu tenho o Gmail. Gmail, não, como é que se chama isso? E-mail.

– Ele enviou para (…) @gmail.com?

– É possível. É possível.

A Secretaria de Imprensa da Presidência afirma que o e-mail privado de Temer segue ativo, mas é pouco utilizado. Segundo a secretaria, é a chefia de gabinete do presidente que faz uso do e-mail, ainda mantido porque a conta vem desde a Vice-Presidência e porque “o sistema do Palácio do Planalto nem sempre é o mais eficiente”.

 

Foto: Reprodução
Fonte: OGlobo


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