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O problema não é novo, mas tem se agravado. Apesar do risco e da grande vigilância, as tentativas de travessia ilegal do Canal da Mancha entre a França e a Inglaterra aumentaram.

Neste ano, apesar da pandemia, a Prefeitura Marítima do Canal da Mancha e do Mar do Norte registrou 342 tentativas ou travessias envolvendo 4.192 migrantes. Em todo o ano de 2019, foram 203 tentativas ou travessias com um total de 2.294 pessoas.

A viagem clandestina pelos 33 quilômetros que separam os dois países é feita em pequenos barcos controlados por contrabandistas que exploram principalmente refugiados que buscam emprego e uma nova vida no Reino Unido.

As autoridades às vezes veem “várias dezenas de pessoas tentando a travessia em um único dia”, confirma Philippe Sabatier, procurador adjunto de Boulogne-sur-Mer.

O Reino Unido, agora fora da União Europeia, quer resolver de vez essa questão. Na última terça-feira, os governos britânico e francês fizeram uma reunião e anunciaram que os dois países implementariam um plano para tornar o Canal da Mancha “impraticável”, nas palavras do secretário britânico de imigração, Chris Philp.

A França pretende pedir que o Reino Unido contribua com € 33,2 milhões para financiar a fiscalização na fronteira, segundo informou o jornal Sunday Telegraph.

€ 3 mil por travessia

O fluxo de travessias no verão costuma ser maior, mas têm surpreendido François Guennoc, vice-presidente da associação Auberge des migrants, que atualmente lista “entre 1.000 e 1.200 migrantes” espalhados pela região Calais-Coquelles, no norte da França.

“Nunca pensamos que as travessias assumiriam tal escala, embora tenham crescido continuamente desde outubro de 2018”, observa. Para ele, o aumento está relacionado com a alta taxa de sucesso, “entre 60 e 70%”.

A prefeitura de Pas-de-Calais conta a história de outra forma: “de janeiro a julho de 2020, as travessias evitadas e as detenções de migrantes foram multiplicadas por 5, em comparação com o mesmo período de 2019”.

Os contrabandistas cobram em média 3 mil euros para embarcar os imigrantes em botes improvisados, a maioria feita com pneus. “É um modo de passagem particularmente lucrativo e mais fácil de organizar”, explica Sabatier.

Diante desse aumento, as autoridades mobilizaram recursos marítimos e terrestres significativos. Mas as dificuldades são múltiplas: o tamanho da área a percorrer e a dificuldade de intervenções durante a noite em praias com diversos relevos ou mesmo a “violência dos contrabandistas para obrigá-los a embarcar em barcos sobrecarregados”, enumera Sabatier

Para Claire Millot, secretária-geral da associação Salam, “o que leva as pessoas a partir nessas condições é a forma como são constantemente perseguidas e porque as suas condições de vida são intoleráveis”.

“Repetimos continuamente que é extremamente perigoso, mas sabendo que eles não se matam, eles querem passar, mesmo de maneiras absurdas como em pranchas de remo ou canoas.”

*Com informações da RFI