Há momentos em que a vida proporciona a chance de dar a volta por cima, escrever uma nova história, executar um giro de 180 graus na própria existência. Sempre tão sério, Cícero sorriu para a oportunidade recebida no Grêmio. E quase foi às lágrimas na noite desta quarta-feira, quando anotou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Lanús, pela ida da final da Libertadores, para euforia de 55 mil torcedores presentes na Arena.
“Na hora, você não sabe se chora ou se comemora. Eu não vim à toa, eu vim com um propósito.” (Cícero)
E de pensar que há menos de três meses Cícero vivia no limbo do afastamento no São Paulo. Vagava num mar de incertezas até receber a ligação do amigo Renato Portaluppi com um convite: defender o Tricolor gaúcho na Libertadores. Tratou-se de um chamado para que ambos unissem forças para esquecerem de vez a frustração de 2008, quando o Fluminense foi derrotado pela LDU na final da Libertadores.
– Na hora, você não sabe se chora ou se comemora. A família toda vendo. Eu falei no intervalo: “não vim à toa, eu vim com um propósito – disse Cícero na saída de campo.
Para aceitar o chamado do Grêmio, Cícero precisou arriscar. Afinal, não poderia atuar no Brasileirão. Somente na Libertadores. Ou quem sabe no Mundial de Clubes…
– Quando vim para o Grêmio, foi com um contrato de risco, mas eu sabia do meu potencial e não duvidava de mim mesmo. Vim com risco de quatro ou seis jogos. Espero que sejam seis, com o Mundial – apostou.
Em três partidas, Cícero executou três funções diferentes: meia-atacante, centroavante e, esta última, como segundo volante. E chegou ao primeiro gol pelo Grêmio no momento mais importante.
O jogo era encardido, difícil. Retrancado, o Lanús se defendia bem e não cedia espaços. Para piorar, ainda esbanjava toque de bola refinado, uma das principais características do Grêmio.
Se não dá pelo chão, que seja pelo alto. Com esse raciocínio, Renato Portaluppi resolveu arriscar. Colocou Cícero aos 26 minutos do segundo tempo, no lugar de Jailson. Jael entraria instantes depois, ao substituir Lucas Barrios.
E não é que a mudança soaria iluminada? Na primeira chance, porém, uma cobrança de falta para a área, Cícero e Jael voaram juntos na bola. Sem sucesso.
Até que, aos 37 minutos, chegaria o momento de Cícero escrever uma parte da história do Grêmio na Libertadores. Quase do meio-campo, Edílson resolveu arriscar ligação direta para a grande área. Jael desviou de cabeça, e o meio-campista aproveitou a sobra. Tocou na saída do goleiro Andrada.
Foi a hora de extravasar. Acompanhado de perto por Geromel, correu em direção à torcida, na linha de escanteio, como de praxe. Foi até o banco de reservas e, numa reverência, abraçou Renato. Foi como um agradecimento ao treinador pela oportunidade.
– O Cícero tem essa vantagem de entrar na área. Eu já conheço ele, sei que gosta de fazer gol. Quando jogamos contra, sempre pedi atenção especial. O atleta não precisa sair jogando. Mas quando entra, precisa fazer a diferença – elogiou Renato, em entrevista coletiva após o jogo.
A vitória magra sobre os argentinos soa como goleada. Afinal, proporciona vantagem para o Tricolor gaúcho atuar pelo empate em La Fortaleza, na próxima quarta-feira. Gol que pode fazer Cícero se tornar imortal no hall da fama gremista se o título vier. E, sobretudo, tornar realidade o meme da torcida e acabar com o planeta de uma vez.
Foto: Lucas Uebel / Grêmio, DVG
Fonte: ESPN/GE
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