Uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência nos últimos 12 meses no país. O dado, que equivale a 17 milhões de brasileiras, faz parte da terceira edição da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, divulgada nesta semana pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), em parceria com o Instituto Datafolha.
Segundo o levantamento, a cada minuto, oito mulheres são agredidas fisicamente e, para 50,8% das vítimas, a pandemia influenciou para agravar a violência sofrida.
Foram entrevistadas 2.958 pessoas entre os dias 10 e 14 de maio. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, mas a situação pode ser ainda mais grave que a mostrada no estudo, segundo a pesquisadora do FBSP Amanda Pimentel. “Com a pandemia, a gente notou não apenas um ‘boom’ nos casos, mas também um retrocesso em relação à denúncia”, explica.
A vulnerabilidade se dá por diversos motivos, de acordo com a pesquisa, como a perda de renda, o aumento do estresse em casa e a convivência com o agressor – em sete a cada 10 casos, conhecido da vítima. “A subnotificação se aprofunda porque a mulher acredita que a agressão que está sofrendo é de menor importância diante das novas circunstâncias que a família está enfrentando.”
A principal forma de violência relatada é a ofensa verbal, com insulto, humilhação ou xingamento. Em seguida, aparecem crimes como agressão física, ofensa sexual e ameaça com faca ou arma de fogo.
Nessas situações mais graves, o FBSP aponta que apenas 28% das entrevistadas disseram ter entrado em contato com autoridades, seja em delegacias (da mulher ou comum), ligando para a Polícia Militar ou acionando a Central de Atendimento à Mulher.
Para 45% das vítimas, porém, nenhuma atitude foi tomada. Entre os motivos está o medo de represálias pelo autor do crime, por julgar que resolveram o problema sozinhas ou porque não quiseram envolver a polícia. “Nosso trabalho busca contribuir para uma mudança de mentalidade e comportamento diante dessas situações que no Brasil são naturalizadas. São casos ainda muito vistos como um ‘atos de excesso’ ou um simples ‘erro’ e não uma violência propriamente dita. Precisamos entender que é violência sim”, defende Amanda.
Prevalências
O estudo da FBSP mostra que a violência é mais comum entre mulheres mais jovens – chegando a 35,2% para aquelas entre 16 e 24 anos e 28,6% da população feminina entre 25 a 34 anos.
Há ainda uma prevalência maior entre mulheres pretas (28,3%) e pardas (24,6%) comparadas às brancas (23,5%). Os crimes são mais constantes também entre as divorciadas ou separadas (35%).
Visível e invisível
1 em cada 4 mulheres de 16 anos ou mais foi vítima de algum tipo de violência nos últimos 12 meses no Brasil = 17 milhões de mulheres
Formas de violência
• 18,6% Ofensa verbal (insulto, humilhação ou xingamento)
• 6,3% Tapa, empurrão, chute
• 5,4% Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual
• 3,1% Ameaça com faca ou arma de fogo
• 2,4% Espancamento ou tentativa de estrangulamento
Perfil do agressor
• 25,4% Companheiro ou namorado
• 18,1% Ex-companheiro ou ex-namorado
• 11,2% Pai/mãe
• 4,9% Padrasto/madrasta
• 4,4% Filho/filha
• 6,1% Irmão/irmã
Atitude em relação à agressão mais grave
• 35% procuraram ajuda da família ou amigos
• 28% denunciaram à polícia ou no 180
• 45% não fizeram nada
Fatores de vulnerabilidade
• 25,1% Perda de emprego ou impossibilidade de trabalhar para garantir renda própria
• 21,8% Maior convivência com o agressor
• 9,2% Dificuldade de ir até a Delegacia da Mulher, até Polícia ou até outros locais que funcionam como redes de proteção
• 6.9% Dificuldades para encontrar outras pessoas que poderiam auxiliar na situação de violência sofrida
• 10,1% Outros