Gabriel Medina e John John Florence são os únicos remanescentes na disputa pelo título mundial no Pipeline Masters, no Havaí, a derradeira de 11 etapas da temporada de 2017. Para manter vivo o sonho do bicampeonato, o brasileiro precisa chegar, pelo menos, na final. Os round 2 e 3 foram marcados por polêmicas no julgamento. Enquanto alguns não concordaram com as notas do brasileiro, outros consideraram que o havaiano não merecia ter vencido o australiano Ethan Ewing na terceira fase.
A subjetividade no critério de análise abriu margem para manifestações nas redes sociais. O assunto é um tabu na entidade que regula o surfe. Atletas, juízes e outros funcionários da WSL são proibidos de comentar sobre julgamento. Apenas o comissário da liga, Renato Hickel, tem autorização para falar. Segundo ele, as polêmicas não são uma exclusividade de Pipeline, e as condições eram difíceis para o julgamento, devido às mudanças nas condições do mar.
O campeão mundial de 2017 pode ser coroado nesta segunda-feira. A WSL faz uma chamada às 15h30 (de Brasília) para avaliar a possibilidade do encerramento da etapa havaiana. Ainda há uma chance de término nesta terça-feira. Kelly Slater deu fim às esperanças de Jordy Smith ao eliminar o sul-africano no round 3. O australiano Julian Wilson também ficou fora da corrida pelo título, mas segue em busca do segundo troféu no Pipe Masters.
– Baterias polêmicas não são exclusividade de Pipeline. Acontecem em qualquer evento. Teve juiz que achou que o Ethan merecia a nota, que recebeu nota suficiente para virar, e teve gente que não. A média determina o resultado da nota e, neste caso, não foi favorável ao australiano, mas sim ao John John e à campanha dele. Eu entendo perfeitamente, como torcedor, seja de futebol ou de qualquer esporte, que temos um olhar diferenciado para a decisão que favorece o nosso time ou para o time adversário. É o que faz o esporte ter essa paixão. A boa notícia é que o Gabriel, também em uma bateria polêmica, avançou e continua na disputa pelo título – analisou o comissário da WSL.
Normalmente, a avaliação é feita por cinco juízes, que dão notas de 0 a 10. A maior e a menor são descartadas, e a média é calculada pelas três restantes. Quando as baterias são disputadas de forma simultânea, como neste domingo, somente três juízes atribuem a pontuação, sem o descarte.
O sonho do bicampeonato continua para Medina
Depois de passar pelo havaiano Dusty Payne com um show de tubos e uma nota 9.00, Medina derrotou o australiano Josh Kerr em uma bateria polêmica. A disputa foi tensa, e Gabriel ficou mais de 20 minutos à espera de uma oportunidade. Por muito pouco, o brasileiro não foi eliminado e deus adeus ao sonho do bicampeonato. A vitória só foi definida no fim: 10.00 a 9.83. Nas redes sociais, os internautas se revoltaram com a última nota do local de Maresias (6.57), que emendou um tubo em uma esquerda de Pipeline com um giro completo em 360º.
– Estava difícil de achar as boas. Estou amarradão com a vitória, essa (bateria) foi bem difícil. Eu ainda tenho uma chance, isso é muito bom, estou me sentindo bem. Eu acho que Deus está do meu lado. Agora é hora de confiar, acreditar e correr atrás – disse Medina, que preferiu não comentar sobre o julgamento de suas notas.
“Ganhar baterias assim é estranho”, John John
Mas se houve uma bateria ainda mais polêmica foi a de John John Florence contra Ethan Ewing. A hashtag #WorldShameLeague (algo como Liga Mundial da Vergonha) foi repetida na internet em como protesto às notas distribuídas pela WSL (Liga Mundial de Surfe). O havaiano preferiu não comentar as notas e disse não ter visto as ondas do australiano campeão mundial jr. Se o local de Pipeline tivesse perdido, Medina precisaria apenas vencer mais uma para alcançar o bi mundial.
– Foi uma bateria definitivamente louca e bem apertada. O Ethan (Ewing) é um grande surfista. Ganhar baterias assim é meio estranho. Termina tão próximo… Eu obviamente estou amarradão de ter avançado no evento. Mas estava bastante difícil lá fora. Está difícil achar as (ondas) boas. Quero dizer, está tudo lindo e tem boas ondas, mas está difícil de encontrá-las – disse John John.
Neymar mostra apoio ao amigo Medina
Inconformado com o julgamento, Neymar se pronunciou em posts no Instagram. O craque do Paris Saint Germain criticou o julgamento e vê uma conspiração à favor do havaiano. “Dá o título para o John John logo. Foi feio demais. Medina, vai para cima, moleque, contra tudo e contra todos”, disse o atacante. O amigo de Medina pensou que o seu comentário havia sido apagado e ironizou: “apagaram meu comentário, tristão”.
O australiano Barton Lynch, campeão mundial em 1988 e comentarista da WSL, também não concordou com a nota do brasileiro pelo tubo com o aéreo no fim.
– Olha, é muito difícil para mim dizer que é justo ou não, não vou entrar no mérito de justiça na bateria do John John e do Ethan Ewing… Mas o que posso dizer é que esse 6.57 do Gabriel foi um 8.50 – declarou o ex-top da elite.
Slater avalia polêmica: “Não deve deixar juízes decidirem”
Onze vezes campeão mundial, Slater não conseguiu assistir às baterias de John John e Medina, mas recebeu uma série de mensagens de texto no celular. O americano procurou se informar sobre o assunto e acredita que a polêmica ainda vai render nas mesas de bar mundo afora.
– Recebi mensagens, conversei com pessoas que viram… Primeiro, falei com o John, e depois não prestei atenção à bateria do Gabriel, só nos últimos cinco, três minutos. Soube que o Ethan ficou perto em duas notas. Normalmente, na minha opinião, quando é uma decisão assim tão apertada, acho que a zebra provavelmente deveria ter levado, mas, acho que em uma situação destas, você tem que vencer o campeão com propriedade. Você precisa deixar claro. Não deve deixar os juízes decidirem, tem que vencer sem dúvidas. E quando há um título mundial em jogo, o certo seria o cara mais bem colocado ganhar, porque ele provou o ano inteiro, colocou todo o esforço ali. Se você é a zebra, é zebra por uma razão. Não pode deixar margem para dúvidas – destacou Slater.
Nas areias da praia de Banzai Pipeline, a opinião dos brasileiros era unânime. Não houve nenhum que concordasse com as notas atribuídas a Medina e John John. Os estrangeiros, em sua maioria, concordaram com a avaliação dos juízes.
– Tenho certeza que no mundo todo vão ter caras bebendo cerveja e debatendo sobre o assunto. Dependendo de onde você é geograficamente, terá uma opinião diferente – acrescentou Slater.
Dos nove representantes do Brazilian Storm no Havaí, quatro seguem na briga na etapa havaiana: Medina, Italo Ferreira, Caio Ibelli e Ian Gouveia. Jadson André se despediu da elite mundial ao ser eliminado na repescagem por Adriano de Souza, único brasileiro campeão do Pipe Masters. Na bateria seguinte, Mineirinho caiu diante do italiano Leonardo Fioravanti. Wiggolly Dantas foi outro na cair para a divisão de acesso (QS) após a derrota para o australiano Joel Parkinson. Miguel Pupo precisava passar a bateria pelo round 3 para se garantir entre os 22 melhores do ranking, mas, apesar do revés, ainda pode permanecer no CT em 2018.
Os cenários do título mundial:
– Se John John chegar à final em Pipeline, ele garante o título mundial
– Se John John ficar em terceiro, Medina precisa vencer o Pipe Masters para ser bicampeão mundial
– Se John John ficar em quinto (parar nas quartas de final), Medina precisa vencer o Pipe Masters para ficar com o título mundial
– Se John John ficar em nono lugar, Medina precisa de um segundo lugar em Pipeline para garantir o bicampeonato mundial
Confira as baterias da 1ª fase:
1: Julian Wilson (AUS) x Conner Coffin (EUA) x Ian Gouveia (BRA)
2: Joel Parkinson (AUS) x Caio Ibelli (BRA) x John John Florence (HAV)
3: Jeremy Flores (FRA) x Gabriel Medina (BRA) x Italo Ferreira (BRA)
4: Leonardo Fioravanti (ITA) x Kanoa Igarashi (EUA) x Kelly Slater (EUA)
Foto: Reprodução
Fonte: GE
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