Debaixo do sol quente, Gilvênio Abade percorre a lavoura de feijão. As folhas acinzentadas revelam a morte da planta antes da colheita. O rastro da seca também está presente onde antes havia um reservatório de água. Faz três meses que só se vê terra rachada. Morador do Residencial Santos Dumont, área rural de Planaltina, há 30 anos, ele nunca tinha visto algo assim. O agricultor de 72 anos sobrevive graças à aposentadoria. “A última vez que plantei e consegui algo foi em abril. O plantio do feijão acabou interrompido durante um mês. Como planta com essa seca? Vim de São Paulo em 1986 e, naquela época, chovia muito em Brasília”, comenta.
A falta d’água também afeta a rotina de quem vive em Sobradinho, Planaltina e Brazlândia. Enquanto no restante do DF o racionamento tem data e hora marcadas, moradores dessas localidades não sabem quando faltará água, nem quando ela vai voltar a correr pelos canos. Famílias ficaram até seis dias desabastecidas. A Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) mantém a rotina de fazer cortes sucessivos de água, que não tem hora para acabar nem para voltar.
Moradores do Vale do Amanhecer se reuniram ontem para denunciar à Caesb e à Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) os episódios de falta de água e ligações clandestinas na área rural. A secretária Miriam Souza, 31 anos, moradora da região, contou que entre a última sexta-feira e domingo, precisou pedir ajuda a vizinhos. “No primeiro dia, já dava sinais de que acabaria. No sábado, continuava fraco, mas consegui limpar a casa. À tarde, a água acabou. Precisei bater na porta de um vizinho para pegar ao menos um balde. E isso se tornou comum.”
A Caesb alega que a redução significativa da disponibilidade de água do ribeirão Pipiripau, principal captação da região norte do DF, é ocasionada pela retirada de água para outros usos. “Isso causou o desequilíbrio do abastecimento nessa região e fomos obrigados a administrar o volume de água remanescente. Caso perdure essa situação, vamos apresentar um plano emergencial de racionamento para essas localidades”, informou a estatal, por meio de nota.
José Makiyama, 32 anos, também sofre com a seca em Planaltina. O produtor rural planta inhame, berinjela e batata-doce. Porém, como a água vinda do Rio Piripau não consegue chegar ao reservatório da chácara dele, José tem enfrentado prejuízos. “Desde quando começou a seca, não consegui plantar mais nada”, desabafa.
Calor recorde
Após os recordes de temperatura seguidos, que culminou no maior registro da história (37,3ºC), a máxima registrada ontem foi de 33,6° C. A previsão é de que os termômetros fiquem acima de 32°C até o fim de outubro, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A chuva só deve voltar a partir do dia 22, mas ainda com precipitações rápidas.
O governador Rodrigo Rollemberg usou as redes sociais, ontem, para anunciar que esteve com representantes do Inmet para a apresentação do quadro climático na capital. “Esses dados serão usados na reunião com a Adasa e Caesb para avaliar as próximas medidas para o DF. Neste momento, é importante que todos tenham muita consciência e cuidado no momento do consumo de água”, declarou.
Com a estiagem, moradores das regiões próximas ao Lago Paranoá passaram a se preocupar com uma queda no volume das águas. Em sete dias, o nível caiu de 1.064m para 1.030m. Segundo a Adasa, isso ocorreu porque a Companhia Energética de Brasília (CEB) voltou a gerar energia elétrica na usina do reservatório.
Para a companhia, nesta época do ano, devido ao período seco, é “natural o nível baixar”. Mas, como o período seco se estendeu além do previsto, a Adasa pediu que a CEB suspenda a geração de energia no lago, o que vem ocorrendo gradativamente.
Foto: Reprodução
Fonte: Correio Braziliense
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