O saldo das cadernetas de poupança registrou mais um ano de queda em 2023, marcando o terceiro ano consecutivo de saques superiores aos depósitos. De acordo com relatório divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, 8, as saídas superaram as entradas em R$ 87,8 bilhões no ano passado.
O cenário de juros e endividamento ainda altos no país contribuiu para essa tendência. No total, foram aplicados R$ 3,83 trilhões nas cadernetas de poupança em 2023, enquanto os saques alcançaram R$ 3,91 trilhões. Apenas dois meses do ano apresentaram saldo positivo, com mais depósitos do que saques: junho, com R$ 2,59 bilhões, e dezembro, com R$ 13,77 bilhões.
Os rendimentos creditados nas contas de poupança somaram R$ 73,08 bilhões em 2023, elevando o estoque aplicado na poupança para R$ 983,03 bilhões. No entanto, o alto endividamento das famílias brasileiras tem levado ao saque de recursos das cadernetas.
Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias em operações de crédito atingiu 47,6% em outubro do ano passado. Além disso, dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicam que cerca de 76,6% das famílias brasileiras ainda estão endividadas.
A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamares elevados também tem incentivado os saques na poupança. Os investidores buscam alternativas com melhor desempenho, uma vez que o rendimento da poupança permanece limitado. Atualmente, a poupança rende 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), mas essa regra só é válida quando a Selic está acima de 8,5% ao ano. Quando os juros básicos estão abaixo desse nível, a poupança rende apenas 70% da Selic.
Apesar do resultado negativo em 2023, a fuga líquida de recursos das cadernetas de poupança foi menor do que a registrada em 2022, quando alcançou R$ 103,2 bilhões. Naquele ano, a inflação e o endividamento elevados contribuíram para o recorde de saques.
Em contrapartida, em 2020, a poupança registrou recorde de captação líquida, com mais depósitos do que saques, no valor de R$ 166,3 bilhões. Esse resultado foi impulsionado pela instabilidade no mercado de títulos públicos no início da pandemia da Covid-19 e pelo pagamento do auxílio emergencial, que foi depositado em contas poupança digitais da Caixa Econômica Federal.
Por Jovem Pan