Com um maior leque de produtos disponíveis para investimento na Bolsa e uma safra de investidores mais jovens, os montantes dos primeiros investimentos em renda variável têm sido cada vez mais baixos nos últimos anos. É o que mostra uma análise feita pela B3 com base nos dados de investidores pessoas físicas divulgada nesta semana.
Segundo a B3, o primeiro investimento do brasileiro, que estava na casa dos R$ 5,7 mil, em 2015, caiu para cerca de R$ 1,6 mil em janeiro de 2020. Já em junho deste ano, o valor mediano do aporte inicial no mercado chegou a R$ 352 – o menor valor da série histórica da Bolsa.
Segundo Felipe Paiva, diretor de relacionamento com clientes e pessoas físicas da B3, o movimento acontece em meio à maior oferta de produtos que têm ganhado participação na carteira dos investidores.
Ao mesmo tempo que a entrada em Bolsa se mostra mais acessível, o brasileiro tem se preocupado em diversificar sua carteira.
No primeiro semestre de 2021, cerca de metade das pessoas físicas tinha mais de cinco ativos no portfólio. O dado representa mais do que o dobro do registrado em 2016, quando 21% dos investidores tinham essa quantidade de ativos na carteira.
Ao mesmo tempo, o percentual de investidores que detinham um único ativo na carteira caiu de 39% para 20% nos mesmos cinco anos.
Quando analisado o estoque de R$ 545 bilhões do investidor pessoa física na B3, 71% estão alocados em mais de cinco ativos, acima dos 50% de 2016. Em junho, o número de CPFs cadastrados na Bolsa (investidores individuais) chegou a 3,2 milhões, um crescimento de 42% ante o primeiro semestre de 2020.
Com relação ao número de contas cadastradas, foram 3,8 milhões ao fim do primeiro semestre. É importante destacar que um investidor pode ter conta em mais de uma corretora.
“O movimento de aumento de investidores na Bolsa não tem volta. O investidor sabe que pode experimentar pequenas quantias nos diferentes produtos, investindo menos em mais opções”, disse Paiva, durante coletiva de imprensa.
Diversificação da cesta
O levantamento da Bolsa mostra ainda que o percentual alocado em ações tem perdido espaço para outros produtos. É caso de fundos imobiliários, fundos de índice (ETFs) e dos BDRs, que são certificados que representam ativos emitidos por empresas em outros países, mas que são negociados aqui, na B3.
Em 2016, 78% das pessoas físicas na Bolsa detinham apenas ações na carteira, percentual que caiu para 50% em junho deste ano.
O levantamento mostra, por exemplo, que o percentual de investidores que detêm ações e FIIs na carteira cresceu de 9%, em 2016, para 26%, em junho deste ano.
Com investidores colocando os ovos em diferentes cestas, o saldo mediano nos produtos de renda variável tem recuado. Em ações, o valor, que estava na casa dos R$ 10 mil em 2019, caiu para R$ 7 mil em junho deste ano.
Em fundos imobiliários, o saldo atual é similar, de R$ 6 mil – também abaixo dos R$10 mil, de 2019, e dos R$ 37 mil de 2011. O mercado de FIIs tem hoje 1,43 milhão de investidores pessoas físicas.
Desde o primeiro semestre de 2020, a classe de ETFs já mostra alta de 104% na base de investidores pessoas físicas, para 438,7 mil.
Os BDRs, que foram liberados para negociação pelo investidor pessoa física em 2020, também viram o número de investidores disparar, de 2,8 mil, em 2019, para cerca de 300 mil, em junho deste ano. No produto, o saldo mediano em custódia está em R$ 2 mil, 64% abaixo dos R$ 5 mil de 2019.
Mulheres e jovens
A análise de dados da B3 constatou ainda que as mulheres entram com valores maiores que homens na Bolsa. Enquanto o primeiro investimento mediano mensal das investidoras está em R$ 481, o dos homens está em R$ 303.
A participação das investidoras na Bolsa, contudo, ainda é baixa, na casa dos 30% – patamar que tem se mostrado estável nos últimos anos.
A B3 destacou ainda a forte participação de investidores mais jovens, de 25 a 39 anos, que representam hoje 48% dos investidores na Bolsa. Em 2013, esse percentual era de 33%, e ficava abaixo da faixa etária de 40 a 59 anos, que era de 40%. Hoje, esse grupo de investidores representa 29% dos entrantes.
Regionalização da Bolsa
Outro destaque da análise da B3 recai sobre a regionalização das empresas da Bolsa e dos investidores de renda variável.
“Temos visto mais empresas indo para a Bolsa como forma de levantar capital. Já vimos alguns picos de IPOs anos atrás, mas 2021 está sendo muito diferente do ponto de vista de empresas e de dispersão dos investidores. Hoje, vemos movimentos tanto de demanda quanto de oferta vindos não só da região Sul e Sudeste, mas também do Norte, Nordeste e Centro-Oeste”, afirma Paiva.
Segundo o diretor da B3, apesar do ciclo de aperto monetário em curso, promovido pelo Banco Central, a grande entrada de investidores na renda variável é um “movimento que veio para ficar”.