Sobreviventes da Chapecoense comandam festa pela Libertadores

A vida e seus simbolismos. O que aconteceu na tarde deste domingo na Arena Condá vai além de uma vitória ou classificação para Libertadores. No mesmo gramado onde há exatamente um ano velava 50 das 71 vítimas fatais do acidente de 29 de novembro, a Chapecoense trocou o choro pela alegria, a consternação pela esperança e redefiniu palavras.

Reconstrução, superação e vida deviam vir acompanhadas no dicionário de um resumo da trajetória do clube neste ano e definidas em uma imagem: Follmann, Neto e Alan Ruschel no comando de volta olímpica no carrinho-maca ao apito final.

Ali, naquele instante, os 12 mil presentes celebravam muito mais do que resultados esportivos. A volta à maior competição de clubes do continente, com o bônus do título simbólico do segundo turno do Brasileirão, representaria muito para qualquer equipe. A imagem de Follmann dirigindo, Neto conduzindo as arquibancadas e Alan de carona, por sua vez, gritava vida. A volta por cima da Chape está consolidada como pouco poderia se imaginar em 6 de janeiro, data da reapresentação de um elenco ainda em formação.

Ao longo de 12 meses, o que mais se ouvia em Chapecó era que “era necessário honrar aqueles que se foram e dar continuidade ao seu legado”. E que maneira espetacular de transformar a teoria em prática. A Chape campeã estadual se tornou bi. A Chape classificada para Libertadores classificou-se novamente. E a Chape de 52 pontos da temporada passada terminou o ano da reconstrução com 54, na oitava colocação, a melhor da história do clube na Série A.

A festa sem fim nos vestiários passou por personagens marcantes e contou com indício dos céus desde o amanhecer. A chuva torrencial de um ano atrás deu lugar ao domingo de sol que emoldurou a tarde de renascimento na Arena Condá. O sorriso largo do presidente Maninho resumia a mistura de alívio, orgulho e satisfação de quem assumiu o papel de reconstruir o clube dias após perder dezenas de amigos e volta para casa com a cabeça raspada pelos jogadores em cumprimento de promessa pela vaga na Libertadores.

Jogadores que celebraram também com Gilson Kleina, comandante que surpreendeu-se ao admitir: “Nunca imaginei entrar para história de um clube em dez jogos”. E entrou. Dez jogos de invencibilidade que tiraram o time da boca da zona de rebaixamento para chegar à Libertadores. Durante entrevista coletiva, o banho de água gelada e isotônico lavou a alma de quem entra de férias com a missão cumprida.

Arrancada, vitórias e volta por cima que consolidam a reconstrução e dão orgulho àqueles que perderam a vida. Quem melhor para comprovar isso do que os três que representam o elo entre passado, presente e futuro da Chapecoense:

– A emoção tomou conta. Foi bacana poder comemorar, se abraçar, se emocionar, chorar com todo povo de Chapecó. É uma alegria muito grande. Temos que agradecer muito a Deus e aos nossos irmãos, que, com certeza, são parte de tudo isso aí. O principal de tudo é o legado, o caminho das vitórias. Foi um ano difícil e essa vaga na Libertadores é um título para nós – definiu o “motorista” Follmann.

Sempre comedido e sereno, Neto permitiu-se explodir em felicidade na festa. Batendo no peito no banco do carona, conduziu a torcida e celebrou a possibilidade de, enfim, jogar a Libertadores com o retorno aos gramados previsto para o ano que vem:

– O que esse grupo fez é brincadeira. Chegaram desacreditados, nós mesmos tínhamos muitas dúvidas, mas a Chape contratou certo. A diretoria foi um pouco criticada, mas contratou jogadores que, mais do que vir a Chapecó ganhar dinheiro, vieram fazer história. E fizeram. (Jogar a Libertadores) é um mimo de Deus na minha vida. Vou treinar muito.

Remanescente dentro de campo, Alan Ruschel se juntou aos companheiros na celebração e ficou de pé no carro-maca:

– Por tudo que passamos o ano todo, fomos coroados. Conseguimos a maior pontuação da história do clube, conseguimos a vaga depois de tudo que passamos na reconstrução. São momentos únicos que temos que deixar registrados. Estou muito feliz por viver esse momento.

Viver como todo povo de Chapecó viveu. Cada momento de 12 meses. Doze meses que separaram o velório coletivo da festa da classificação. Que separaram a incerteza pós-tragédia pela certeza da vida.

 

Foto: Sirli Freitas/Chapecoense

Fonte: GE/UOL

 


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