Os planos natalinos de cerca de 18 milhões de pessoas do Reino Unido foram anulados de repente três dias após o Governo de Boris Johnson confirmar que as restrições sociais seriam relaxadas durante cinco dias.
Downing Street (residência do chefe de Governo britânico) confirmou —e comunicou à Organização Mundial da Saúde — que a nova variante do vírus detectada em Londres e nas zonas do sul e sudeste da Inglaterra tem uma maior capacidade de transmissão (até 70% mais que a anterior) e que, portanto, os contágios acontecem mais rápido. Segundo os últimos dados contabilizados, até 62% das novas infecções registradas na capital britânica respondem à nova cepa, que se tornou a dominante. Johnson, acompanhado em uma coletiva extraordinária neste sábado pelos principais assessores de saúde do Governo, explicou que os dados não levam à conclusão de que a variante produza sintomas mais graves da doença nem uma maior mortalidade. À espera de novas evidências, a equipe científica que assessora o Executivo continua confiando que as vacinas sejam eficazes para essa nova modalidade do vírus. Em qualquer caso, advertiu o premiê, os novos dados obrigaram uma mudança de critério e um endurecimento das medidas de restrição social nas zonas afetadas.
Johnson anunciou que, até nova ordem, as reuniões entre lares diferentes estarão proibidas. Comércios não essenciais, restaurantes, bares e pubs devem fechar suas portas, assim como academias, museus, galerias de arte, teatros e cinemas. A “regra de seis” (até seis pessoas podiam se encontrar em espaços abertos) também foi anulada. As regiões da Inglaterra que permanecerem em níveis de alerta inferiores poderão manter seus eventos familiares, mas não durante cinco dias, e sim apenas em 25 de dezembro, dia do Natal. “Com os últimos acontecimentos detectados, nunca foi tão importante que os cidadãos continuem se comportando em suas zonas de residência de um modo que ajude a reduzir as transmissões”, pediu à população Chris Whitty, assessor médico chefe do Governo de Johnson.
As viagens ao exterior estão proibidas para todos os residentes das zonas de nível 4, salvo se forem realizadas por motivos de trabalho. “Lamentamos profundamente toda essa situação”, afirmou Johnson. “Mas, quando os fatos mudam, você deve mudar de estratégia. Se o vírus muda sua tática de ataque, você deve mudar seu método de defesa.”
Na tarde de sexta-feira, Johnson reuniu vários de seus ministros e o comitê de assessores científicos do Governo para analisar o último aumento de casos, com cifras de até 534 mortes diárias. Semana passada, mais de 170.000 pessoas deram positivo no país. Na manhã deste sábado, o primeiro-ministro reuniu novamente todo o seu Gabinete antes de anunciar as drásticas medidas em público. As UTIs de Londres atingiram a capacidade máxima, e todas as consultas e cirurgias não essenciais foram canceladas.
O líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, anunciou de imediato seu apoio às medidas anunciadas pelo Governo de Johnson, mas sem poupar críticas ao primeiro-ministro, que se dedica sempre, disse Starmer, “a se apartar de qualquer desafio” e “se nega a ver os problemas”. Starmer lembrou que pediu a Johnson, na última quarta-feira, que reconsiderasse o relaxamento previsto para a temporada de Natal, e que a resposta de seu adversário foi a de desejar Feliz Natal a todos os cidadãos.
A decisão deste sábado é um duro golpe ao comércio londrino, que durante as festas esperava se recuperar de todas as perdas sofridas durante a pandemia. O ministro britânico da Economia, Rishi Sunak, já anunciou durante a semana seus planos de estender até abril o Job Retentions Scheme (Esquema de Retenção de Empregos), um sistema de apoio não ensaiado até agora no Reino Unido. “Enfrentamos um novo e duríssimo golpe contra os londrinos e as empresas da capital, após um ano que foi horrível”, afirmou Jasmine Whitbread, presidente da associação de empresários de Londres, a London First. “O Governo deve se preparar para injetar um apoio extra a todas essas empresas para que elas possam continuar funcionando com normalidade. E isso inclui redução de impostos —especialmente o IVA (imposto sobre valor agregado)— e ajudas diretas a todos aqueles que forem obrigados a fechar”, pediu.
O Governo Autônomo da Escócia confirmou a presença em seu território de pelo menos 17 casos da nova cepa do vírus. Embora ali situação seja muito menos grave que a do resto do Reino Unido, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, anunciou neste sábado a proibição dos deslocamentos da Escócia para Inglaterra e Gales, e vice-versa. Sturgeon limitará também as reuniões familiares exclusivamente para o Dia do Natal.
*Com informações de El País