Já parou para pensar quanto tempo do dia você passa olhando para o celular? Pois saiba que o uso de dispositivos móveis está acelerando o processo de envelhecimento em uma região difícil de tratar: o pescoço; além disso, os smartphones ainda estão relacionados a inflamações na pele, como alergias e acne; e sua luz azul pode piorar doenças fotossensíveis mais raras e também as comuns, como o melasma. Convidamos a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia, para explicar a relação entre os problemas de pele e o uso de celulares, bem como uma forma eficaz de ficar livre dessas alterações:
Rugas Tech Neck – as linhas do pescoço
O que acontece: De acordo com o estudo da Universidade de Chung-Ang, na Coreia do Sul, sobre nova técnica para combater rugas no pescoço, mulheres a partir dos 29 anos já apresentam vincos nessa região, enquanto o natural seria depois dos 40. “Recentemente, o número de pacientes com rugas do pescoço vem aumentando. Além disso, um número crescente de pacientes jovens apresentou essa condição, possivelmente devido ao efeito da postura que eles adotam ao olhar para baixo quando usam smartphone ou outros dispositivos”, afirma o estudo. Nos Estados Unidos, a imprensa especializada até apelidou o problema como ruga “Tech Neck”. A dermatologista Dra. Claudia Marçal ressalta que os movimentos repetitivos formam sulcos, como se fossem “colares cervicais”. “A pele do pescoço é muito fina, praticamente sem glândulas sebáceas, com espessura próxima a dois milímetros, pouco hidratada e onde há grande movimentação natural pela própria dinâmica da região. A inclinação frequente da cabeça para baixo a fim de olhar o celular, tablet ou outro dispositivo, provoca sinais de envelhecimento mais rápidos”, explica a médica, acrescentando que a área é quase sempre esquecida, mesmo para quem tem o hábito de cuidar do rosto.
O que fazer: De acordo com a dermatologista, uma dica importante é, mesmo quando mexer nos dispositivos, manter a cabeça em um ângulo de 0 grau e a postura alinhada. O celular deve ser erguido na direção dos olhos. Com relação aos cuidados diários, a médica indica sabonetes neutros ou loções de limpeza à base de ativos calmantes. “As loções tônicas vêm na sequência e vão preparar a pele para receber o sérum tensor que pode conter Hyaxel, ácido hialurônico de baixo peso molecular, antioxidantes, vitaminas e glicosaminoglicanas, além de substâncias que recuperem a volumetria da região como Adipofill e Sculptessence”, conta. O protetor solar deve ter FPS 30 no mínimo e ser reaplicado após quatro horas no dia a dia. No caso dos tratamentos, a toxina botulínica figura entre os procedimentos mais utilizados hoje para tratar as linhas de expressão que formam os colares horizontais. “Ela também pode ser usada em sessões realizadas a cada seis meses”, afirma. Além disso, tratamentos com lasers também apresentam bons resultados.
Manchas e piora do melasma
O que acontece: A luz visível é toda a luz que enxergamos a olho nu, do sol, das lâmpadas artificiais dentro de casa, dos smartphones, tablets, computadores, entre outros. “Essa luz visível pode desencadear ou piorar doenças de pele e o surgimento de manchas escuras principalmente no rosto. Isso acontece porque ela estimula a melanogênese, ou seja, a pigmentação, sendo um fator importante de piora do melasma e de doenças que apresentam fotossensibilidade como o Lúpus e a rosácea e causar maior inflamação na pele produzindo radicais livres como superóxidos, espécies reativas de nitrogênio e carbono”, explica a médica. A luz visível também causa danos nos tecidos, inflamação e age diretamente no DNA das células. Ao interagir com a melanina, pigmento que dá cor à pele, ela gera uma forma de oxigênio altamente reativa que deteriora inclusive o material genético celular.
O que fazer: Se está difícil não usar tanto o celular, acrescente cremes antioxidantes na sua rotina skincare. Para os portadores de doenças de pele fotossensíveis, o acompanhamento dermatológico é fundamental. “No caso do melasma, existem tratamentos com bons resultados com o microagulhamento com a radiofrequência muito baixa e peeling de crystal. Mas como o melasma tem uma característica hereditária não adianta achar que vai controlar para sempre esse processo. É necessário fazer uso de medicação tópica e de medicação via oral. Gosto de indicar substâncias como B-White e principalmente Wonderlight, um ativo extraído do lúpulo que combate a dendritogênese (prolongamento de dendritos e espalhamento da mancha) durante o processo inflamatório”, explica.
Acne
O que acontece: Pelo fato do celular concentrar alto número de bactérias, mais até que um vaso sanitário, isso acaba sujando o rosto e ajudando na formação de espinhas e acne, principalmente no contato direto com o celular ou se a pessoa tem o costume de passar a mão no rosto.
O que fazer: Limpar a tela do celular com produtos específicos é recomendado. Além disso, deve-se evitar passar a mão no rosto várias vezes ao dia, ainda mais se você tem a péssima mania de espremer espinhas. E a médica lembra: consulte sempre um dermatologista, pois a acne é um problema multifatorial e somente um médico especialista pode indicar o melhor tratamento para evitar a recidiva do problema.
Alergias
O que acontece: O cromo e o níquel são dois componentes dos celulares que estão relacionados com o aumento do número de alergias na pele. Segundo a Associação Britânica de Dermatologistas, a alergia a níquel afeta 30% da população no Reino Unido e figura entre as dermatites de contato mais comuns. E pior que o níquel está em quase todo o celular: na bateria de lítio (que traz níquel na composição) até o fio de ligação de cada chip (que é revestido com ele), passando pelo microfone, eletrônica e revestimentos decorativos.
O que fazer: Além de usar case e película, é necessário consultar um dermatologista percebendo qualquer alteração na pele para a indicação do melhor tratamento.
Dra. Claudia Marçal
Dermatologista da Clínica de Dermatologia Espaço Cariz, com especialização pela Associação Médica Brasileira (AMB), membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e membro da American Academy of Dermatology (AAD), CME (Continuing Medical Education) na Harvard Medical School