Nem Canastra, nem frescal. Nem Serra das Antas, nem Azul Mantiqueira. O modo artesanal de fazer queijo em Minas Gerais pode ser declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade. O primeiro produto gastronômico brasileiro laureado com o título concedido pela Unesco (o ofício das baianas do acarajé entre outros são patrimônio cultural imaterial brasileiro).
A candidatura partiu do governo mineiro, fruto de uma articulação entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais Iepha). Segundo o documento, isto “visa a assegurar a preservação de conhecimentos e técnicas relacionadas à produção de queijo desenvolvidas ao longo dos últimos três séculos por pequenos produtores rurais de Minas Gerais”.
O documento enviado à sede da Unesco, em Paris, ressalta o caráter familiar das propriedades envolvidas na produção do Queijo Minas Artesanal e destaca a tradicional preocupação dos produtores com o bem-estar animal. É também enfatizado o papel do queijo, em conjunto com outros fatores, na articulação de um modo de vida marcado pela importância das relações de vizinhança e por um forte sentido de pertencimento ao plano local.
Se confirmado, o registro contribuirá para o desenvolvimento econômico inclusivo e sustentável, para a segurança alimentar e para combate ao êxodo rural. O resultado será divulgado na convenção mundial da Unesco, entre novembro e dezembro de 2024. O local do encontro ainda não foi definido.
Na referida lista também constam os seguintes elementos brasileiros: ‘Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi’ (2008), ‘O Samba de Roda do Recôncavo da Bahia’ (2008), ‘Frevo: Expressão Artística do Carnaval de Recife’ (2012), ‘Círio de Nossa Senhora de Nazaré’ (2013), ‘Roda de Capoeira’ (2014), ‘Complexo Cultural do Bumba-Meu-Boi do Maranhão’ (2019).
Durante 15 anos, o Iphan tem registrado patrimônios imateriais brasileiros. Englobam bens de natureza imaterial, incluídos aí os modos de criar, fazer e viver dos grupos formadores da sociedade brasileira.
Este tipo de registro é recente na lista da Unesco, que passou a incluir diversas comidas, saberes e práticas alimentares. Entre elas a dieta mediterrânea, a refeição “à moda francesa”, a gastronomia tradicional mexicana da região de Michoacán, o pão de gengibre do norte da Croácia e o Washoku, sistema alimentar e culinário tradicional dos japoneses, entre outros exemplos.
*Por Luciana Fróes/O Globo