O estudante Gabriel Ciola começou a investir na B3, a Bolsa de Valores brasileira, em 2017, incentivado por propagandas que prometiam muito dinheiro em pouco tempo com operações de day trade. “Eu comecei errado, já achando que a Bolsa era lugar de plantar dinheiro e colher o dobro”, relata.
Com os primeiros erros, ele passou a estudar e se informar sobre os principais produtos e mecanismos da Bolsa. Hoje, com a lição aprendida e uma carteira de investimentos diversificada, Ciola é influencer financeiro e ajuda outras pessoas a começar a investir.
A história dele acompanha um movimento extraordinário da Bolsa de Valores brasileira, que viu o número de investidores explodir desde 2018 após diversos anos com a quantidade de CPFs cadastrados fixa em cerca de 500 mil.
Depois de duplicar de 2018 para 2019 e chegar a 1,4 milhão, a base manteve seu crescimento vertiginoso mesmo em meio às incertezas econômicas que a pandemia de Covid-19 trouxe desde o início de 2020. Desse período até o final de 2021, o aumento total foi de 200% e a B3 chegou a 4,2 milhões de investidores. Desses, cerca de 1,5 milhão faz investimentos ao menos uma vez por mês. Em 2022, o número total já superou 5 milhões.
Esse grupo é consideravelmente mais jovem que os anteriores e investe menos dinheiro nos produtos. Desde 2016, a idade média caiu quase 11 anos (de 48,7 para 37,9) e tem R$ 44 como valor mediano do primeiro investimento, o menor registrado desde janeiro de 2014.
Especialistas citam a baixa inédita da Selic, taxa básica de juros do país, em 2020 até meados de 2021, como um dos motivos para a entrada de novos investidores. Com o valor fechando em 2% no primeiro ano da pandemia, os investimentos em renda fixa, que têm taxas prefixadas de retorno com base na Selic, passaram a ser prejudicados.
“Os últimos dois anos foram os com a menor taxa Selic da história. O investidor brasileiro está muito acostumado com poupança, com renda variável e produtos menos sofisticados. E quem tinha algum capital buscou diversificação e rentabilidade, e com isso, resolveu entrar na Bolsa”, explica o especialista em negócios e tendências, Arthur Igreja.
O perfil desses novos investidores, mais jovens e com menos dinheiro, aponta ainda a influência de outros dois fatores que motivaram a expansão da B3: a tecnologia e o aumento do conteúdo brasileiro sobre educação financeira.
“Mudanças na macroeconomia, maior acesso à informação e conteúdo sobre investimentos ‘na palma da mão’ com ferramentas mais amigáveis e de fácil acesso fizeram com que o mercado de capitais passasse a fazer parte da poupança do brasileiro. Com isso, diversos mitos em torno dos investimentos caíram, como por exemplo, de que é necessário valores altos para começar a investir”, explica o diretor de Relacionamento com Clientes e Pessoa Física da B3, Felipe Paiva.
Além da facilidade de investir em centenas de oportunidades por meio da tela do celular, a estrategista-chefe da Rico Investimentos, Betina Roxo, cita diversos produtos novos da Bolsa que refletem tendências de comportamento dessa parcela da população, entre eles fundo de investimentos para empresas lideradas por mulheres, para a gestão da água, energia solar, etc.
“Tem uma parte dessa faixa etária que é muito ligada com sustentabilidade, toda essa questão de ESG [sigla em inglês para os princípios ambiental, social e de governança] e novos produtos focados para temas como esse”, relata.
Diferentemente da renda fixa, a Bolsa de Valores brasileira é composta principalmente por produtos de investimentos de renda variável – que não têm retornos prefixados e podem flutuar de acordo com o cenário econômico e social.
São diversas categorias diferentes em que os investidores podem colocar seu dinheiro em troca de participação em possíveis lucros: ações das empresas com capital aberto, FIIs (fundos de investimento imobiliário), índices da Bolsa, BDR (Brasilian Depositary Receipts), ETFs, entre outros.
Para entrar na bolsa, alertam os especialistas, o primeiro passo é determinar o perfil do investidor, com seu capital e seus objetivos a longo, médio e curto prazo. “Busque informação sobre a empresa e seu ativo. Afinal de contas, quando se fala em bolsa em geral é renda variável, e são oscilações que nem todos perfis aguentam”, complementa a analista da Rico Investimentos Paula Zogbi.
Com a Selic em plena ascensão desde 2021 e já na marca de 10,75%, produtos de renda fixa voltaram a ser atraentes, com retornos muito maiores do que a inflação. O capital investido em renda variável, no entanto, ainda pode gerar diversas oportunidades aos investidores, empresas e à economia em geral.
“As pessoas estão investindo e se tornando sócias das empresas mais bem posicionadas no mercado, com a melhor governança e os melhores executivos (…) Se cria um ciclo virtuoso, onde as empresas captam mais dinheiro para investir em projetos e as pessoas são beneficiadas por isso”, diz Arthur Igreja.