A intenção de consumo das famílias em outubro caiu 0,3% depois de duas altas consecutivas, posicionando o indicador no mesmo nível de junho (86,7 pontos).
Em 2018, as famílias têm se mostrado reticentes com relação às intenções de consumo. Influenciam as decisões a lenta recuperação do mercado de trabalho, o comportamento dos juros, o elevado endividamento, a alta do dólar, os reajustes das tarifas e, principalmente, a indefinição quanto ao rumo da economia em 2019. Portanto, 2018 tem se caracterizado pela volatilidade do consumo em decorrência da conjuntura.
Em outubro, a trajetória da intenção de consumo das famílias não se confirmou, após duas altas em agosto (+0,6%) e setembro (+1,5%).
A pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que, dos sete componentes do ICF, quatro subindicadores apresentaram- se negativos, com destaque para Momento para Duráveis (-3,3%) e Perspectiva de Consumo (-1,2%). Renda Atual (+1,0%) foi o subindicador que mais subiu, enquanto Nível de Consumo Atual (+0,3%) e Emprego Atual (+0,1%) cresceram moderadamente.
Na comparação com outubro do ano passado, a percepção das famílias quanto às intenções de compra cresceu 11,3%; sinal de que atualmente a distribuição de recursos dentro do orçamento pode estar melhor, apesar da insatisfação. Destacaram-se na comparação anual Nível de Consumo Atual (+24,4%), Perspectiva de Consumo (15,0%) e Renda Atual (12,6%).
Condições de Consumo
A queda de 3,3% do subindicador Momento para Duráveis refletiu a cautela das famílias para com a aquisição de produtos duráveis. Para a retração deve ter pesado o elevado nível de endividamento. Mesmo assim, em relação ao ano passado as famílias demonstraram estar com maiores intenções. Em outubro de 2017, cerca de 23,2% das famílias consideravam o momento favorável, enquanto 69,9% revelaram que o momento era ruim.
Nessas condições, Compra a Prazo também caiu (-0,3%), porém com menor intensidade. Apesar da volatilidade, este subíndice cresceu 5,6% entre janeiro e outubro de 2018.
O subindicador Nível de Consumo Atual subiu +0,3%, indicando que as famílias perceberam melhora no padrão de compras em relação a setembro. Apesar da volatilidade das intenções de consumo, este subíndice (67,8 pontos) tem crescido gradualmente, com maior ênfase em 2018. É o maior patamar desde junho de 2015 (70,3 pontos). Em relação a outubro de 2017, é o subindicador do ICF que apresentou maior taxa de incremento (+24,4%).
Mercado de Trabalho
A elevação do subíndice Renda Atual (+1,0%) pode ter sido influenciada pelo impacto da liberação dos recursos do PIS/Pasep. Também se pode considerar que a renda tenha crescido em virtude de ganhos adicionais decorrentes de trabalhos extras, como meios para aumentar o orçamento.
Nesse contexto, a compreensão de que a renda melhorou coube a 31,6% das famílias, enquanto piorou para 28,8%. A compreensão sobre a capacidade de compra há um ano era menos otimista. Em outubro de 2017, cerca de 27,3% das famílias reconheciam que a renda havia aumentado; e para a maioria a renda havia diminuído (36,0%).
A sensação quanto à segurança no emprego manteve-se praticamente estável (+0,1%) em relação a setembro. Dos sete subíndices do ICF, Emprego Atual e Perspectiva Profissional são os únicos acima da zona de 100 pontos. Em outubro, o Emprego Atual (com 113,4 pontos) ficou praticamente no mesmo estágio de março deste ano (113,5 pontos).
Perspectivas de Consumo e Profissional
Embora o indicador Perspectiva de Consumo tenha caído 1,2% em outubro e apresentado alta de +15,0% na comparação anual, as famílias intuíram estar numa situação melhor do que há um ano. As perspectivas de consumo são maiores para 27,1%, ao passo que eram maiores para 24,3% das famílias em outubro de 2017.
A ligeira queda do subíndice Perspectiva Profissional (-0,1%) espelhou o comportamento da economia brasileira, na medida em que mostrou o entendimento de que são praticamente estáveis as possibilidades de melhorias profissionais pelos próximos seis meses. Contudo, o indicador mostrou-se positivo para 44,8% das famílias; enquanto em outubro do ano passado 41,3% consideravam as perspectivas melhores.
Conclusões
A tendência deverá ser que até dezembro o ICF continue apresentando volatilidade, reflexo da reticência das famílias quanto à intenção de gastos. Mesmo assim, dá sinais de recuperação. Apesar da queda de outubro (-0,3%), o ICF cresceu 6,1% nos dez primeiros meses deste ano. No mesmo período do ano passado, a alta foi bem menor, de 2,2%.
No contexto da lenta recuperação das atividades econômicas, a CNC revisou sua projeção para o volume de vendas do comércio, em 2018, de +4,3% para +4,5% – a primeira alta desde maio deste ano. Contribuíram para a estimativa o desempenho da economia (+1,4%), cujo PIB poderá crescer acima do ano passado (+1,0%); a geração de empregos; o crescimento da renda; o menor patamar de juros médios desde dezembro de 2014; além dos recursos do PIS/Pasep; o endividamento e a relativa estabilidade cambial e dos preços.