Ibovespa cai 3,44% em agosto e perde os 100 mil pontos

O Ibovespa fechou em queda no início da semana e encerrou o mês com perda acumulada de 3,44%. Com isso, agosto teve a primeira desvalorização mensal do índice desde março, interrompendo a sequência da retomada após o crash do coronavírus.

Lá fora, contudo, o mês foi de alta nas bolsas americanas. Apesar das leves baixas registradas hoje, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 7,57%, 7,00% e 9,58%, respectivamente, em agosto. Foi o melhor desempenho do Dow Jones para o mês desde 1984 e a melhor performance do S&P 500 em um agosto desde 1986.

Analistas ouvidos pela CNBC atribuíram esse desempenho tão forte às contínuas sinalizações de membros do Federal Reserve no sentido da manutenção das taxas de juros dos Estados Unidos em patamares próximos de zero.

Entretanto, o Brasil acabou passando longe deste grande otimismo nos mercados internacionais. Segundo Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, o mês teve um noticiário atribulado na frente fiscal, o que implicou em bastante incerteza.

A grande virada da Bolsa em agosto ocorreu a partir do dia 11, quando os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pediram demissão do Ministério da Economia. Até então, o Ibovespa subia 0,52% no mês, de modo que desde aquele dia, o benchmark caiu 3,94%.

Em relatório, a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos destaca que as particularidades políticas e econômicas do País tornam os movimentos dos ativos menos previsíveis e mais intensos.

Gabriel Fonseca lembra ainda que agosto concentrou o grosso da temporada de resultados relativos ao segundo trimestre de 2020, justamento aquele em que as empresas mais foram afetadas pela pandemia.

Para Ari Santos, trader da H.Commcor, as movimentações do governo em questões como Orçamento e gastos acabaram causando uma deterioração nos mercados. “Balanços foram negativos, mas era inevitável. Agora, na virada do mês, os investidores estão mais receosos. A grande preocupação é que o governo precise levantar o teto de gastos”, avalia.

Contudo, Santos ressalta que após três meses de forte alta, a queda de agosto não é tão preocupante. “O importante é observar como se desenvolve o próximo mês em termos de atração de investidores às compras na B3 dentro deste contexto de renda fixa rendendo tão pouco.”

Vale lembrar que agosto é historicamente um mês de forte volatilidade nas bolsas mundiais por conta das férias de verão no Hemisfério Norte, o que reduz a liquidez porque os investidores americanos possuem presença expressiva e garantem boa parte do volume negociado em quase todas as bolsas do mundo.

Semana começa no vermelho

Hoje, a Bolsa refletiu uma maior preocupação com o ambiente fiscal depois da entrega do Orçamento de 2021. O governo elevou a projeção de déficit fiscal para R$ 233,6 bilhões. O valor da extensão do auxílio emergencial deve ser anunciado amanhã.

Também hoje saiu o resultado das contas públicas do mês passado. O déficit fiscal brasileiro em julho foi de R$ 81,1 bilhões, menor que a mediana das expectativas dos economistas, que apontava para um déficit de R$ 89,8 bilhões. No mês anterior, o governo teve R$ 188,7 bilhões a mais de despesas em relação a receitas.

Com isso, o Ibovespa hoje teve queda de 2,72%, aos 99.369 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 24,993 bilhões. O grosso da queda se concentrou na última hora do pregão conforme saíam as notícias sobre o Orçamento.

Enquanto isso, o dólar comercial subiu 1,2%, a R$ 5,4799 na compra e R$ 5,4807 na venda. No mês, a moeda dos EUA se valorizou em 5,02% em relação ao real. O dólar futuro para outubro sobe 1,97%, a R$ 5,497 no after-market. O contrato de dólar futuro para setembro venceu hoje cotado em alta de 1,49% a R$ 5,471.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 teve alta de três pontos-base, a 2,84%, o DI para janeiro de 2023 avançou cinco pontos, a 4,05%, o DI para janeiro de 2025 registrou ganhos de sete pontos-base, a 5,89%, e o DI para janeiro de 2027 subiu seis pontos-base, a 6,85%.

Outro driver macroeconômico relevante foi a retomada mais fraca da economia chinesa. O índice gerentes de compras (PMI) da indústria de agosto foi de 51,0 pontos, ante 51,1 pontos em julho. Segundo analistas ouvidos pela Reuters, a expectativa era de um PMI de 51,2 pontos em agosto. Mesmo assim, o resultado acima de 50 pontos indica que a indústria está crescendo.

Ao mesmo tempo, as tensões entre a China e os Estados Unidos se agravaram depois que a China anunciou novas restrições às exportações de Inteligência Artificial, que poderiam complicar ainda mais a venda das operações da TikTok nos Estados Unidos.

Entre os indicadores nacionais, os economistas do mercado financeiro revisaram suas projeções para a queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 e esperam uma retração menor do que a estimada na semana passada, revelou o Relatório Focus do Banco Central.

De -5,46%, a expectativa para a variação da atividade econômica nacional este ano foi para -5,28%. Já para 2021 a projeção se manteve em um crescimento de 3,5% do PIB.

Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) as projeções subiram de 1,71% para 1,77% para este ano. As expectativas para 2021, por sua vez, mantiveram-se em avanço de 3% da inflação.

Para o dólar, os economistas esperam que a moeda americana termine 2020 cotada a R$ 5,25, contra R$ 5,20 previstos na semana anterior. A expectativa segue em R$ 5,00 para 2021.

Já para a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, a projeção dos economistas continuou em 2,00% ao ano para 2020, porém foi reduzida de 3,00% para 2,88% ao ano para 2021.