O propósito de transformar a indústria da moda em uma atividade socioambiental responsável uniu a designer e estilista Itiana Pasetti e a publicitária Adriana Tubino na criação da marca inovadora e sustentável de acessórios Revoada. Antes, elas trabalharam durante anos no mercado de design e publicidade. Em 2013, as duas gaúchas resolveram empreender e acabaram inventando um empreendimento inédito, baseado nos princípios da sustentabilidade e da Economia Circular em Porto Alegre. Hoje, a Revoada é referência no país.
Adriana e Itiana contam que se incomodavam muito com o desconhecimento dos consumidores sobre os impactos sociais e ambientais que existem por trás do glamour das roupas e acessórios de moda. Não queriam iniciar mais um negócio gerador de consumo e resíduos em mundo já sufocado com tanto lixo.
“Decidimos produzir acessórios de moda para substituir o couro e descobrimos as nossas matérias-primas na câmara de pneu e no tecido de nylon de guarda-chuvas descartados”, diz Adriana. Esses dois resíduos levam mais de 200 anos para se decomporem, informa.
Assim as empreendedoras deram início à cadeia produtiva da Revoada, baseada nos princípios da sustentabilidade e da Economia Circular, na sabedoria coletiva chamada Design Vital, um híbrido de ferramentas como a Cradle to Cradle, o Design Thinking e a Fluxonomia 4D.
Consultorias
O nome escolhido para a grife de acessórios de moda sustentável não poderia ser mais perfeito, pois provocou uma verdadeira ‘revoada’ no mundo da moda, quando a novidade chegou ao mercado. O novo olhar e modo de produzir chamaram a atenção. Hoje, as empresárias são palestrantes convidadas a participar de eventos empresariais para contar a história e propósito do empreendimento.
Neste ano, Adriana foi um dos palestrantes do 3º CICLOS-Congresso Internacional de Sustentabilidade, realizado pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) em Cuiabá (MT), que mobilizou um público com mais de 500 pessoas de vários estados.
As duas sócias se tornaram, também, fonte de inspiração para o setor corporativo. Passaram a dar consultorias de economia circular a grandes empresas. Ação-Reinvenção é o nome da consultoria de vivência e troca com as empresas, durante a qual elas compartilham a experiência vivida ao construírem um negócio com impacto social que produz eco-produtos, por meio de processos circulares e relações de consumo consciente. A consequência foi o surgimento da terceira linha de produtos da Revoada: brindes corporativos customizados.
Borracharias, cooperativas de recicladores e ateliês de costureiras são parceiros remunerados pela marca.
Ambiental e social
A borracha de câmaras de pneus descartados é coletada e encontrada em borracharias, centros de triagem de aterros sanitários ou nas ruas por recicladores. A Revoada transforma esse material em belas bolsas, mochilas, malas de viagem, pochetes, carteiras, entre outros acessórios. É quase impossível perceber que os produtos são feitos de borracha reaproveitada devido à qualidade do design e do acabamento.
“Borracheiros e cooperativas de recicladores são nossos parceiros remunerados”, diz Adriana. Os produtos da Revoada já foram apresentados ao grande público em figurinos de telenovelas da TV Globo, conta a empresária.
A outra linha de produção reutiliza tecidos de nylon coloridos e estampados de sombrinhas e guarda-chuvas também descartados, que após desmontados e lavados se transformam em jaquetas, agasalhos e sacolas com design moderno. Essas peças agradam jovens e adultos conscientes da necessidade de reaproveitar resíduos, que vão parar em aterros, na melhor das hipóteses. Cooperativas de recicladores e oficinas de costureiras são parceiras remuneradas da Revoada nessa produção.
A marca já retirou do meio ambiente 14 toneladas de câmaras de pneu, reutilizou 13 mil unidades de guarda-chuvas e gerou trabalho e renda para 300 famílias, segundo Adriana.
Consumo consciente
A venda por lotes, anunciados no site do empreendimento (www.revoada.com.br ), é outra inovação da grife. Os interessados se candidatam a comprar os produtos e aguardam ficarem prontos. Desse modo, a Revoada produz apenas o que já foi vendido e os trabalhadores envolvidos são remunerados por cada lote.
“É perfeito, porque nós arcamos com todos os custos do lote, gerando renda certa para os fornecedores, que são pequenas oficinas e ateliês de costura e corte”, explica Adriana. “Também não há o risco de produzir além da demanda e gerar sobras, resíduos e despesas com logística. Tudo funciona melhor assim”, ressalta.
Ela também garante que os clientes aprovam o modelo de venda em lotes e não se incomodam com a espera da produção e entrega, pois entendem o sistema e adotam seus valores. Desse modo, a Revoada contribui para a mudança de mindset (mentalidade) das mais 50 mil pessoas já impactadas pela marca.
Dificuldade inicial
No início, as duas sócias procuraram as unidades de triagem de lixo seco da capital gaúcha e propuseram às trabalhadoras que retirassem os tecidos dos guarda-chuvas e ficassem com o metal para vender. Não foi fácil, no entanto, convencê-las da real intenção de parceria.
As costureiras também achavam que seria impossível costurar borracha. Com o tempo todos compreenderam que se tratava de um novo modelo de negócio com propósito. (www.revoada.com.br )