Na noite da última terça-feira, dia 14 de agosto, Christine Hallquist, uma ex-executiva, tornou-se a primeira candidata transgênero nomeada por um partido grande para concorrer ao governo de Vermont, nos EUA. Ela derrotou outros três candidatos na primária democrata no estado.
— Esta noite, fizemos história — disse Christine, dirigindo-se a apoiadores em uma festa na noite da eleição em Burlington. — Estou muito orgulhosa de ser o rosto dos democratas hoje à noite.
É um marco notável, mesmo para um ano eleitoral já dominado por um grande concorrência de mulheres e um número recorde de candidatos e candidatas que se identificam como lésbicas, gays, transexuais ou queer.
“A vitória de Christine é um momento decisivo no movimento pela igualdade trans e é especialmente notável, dada a escassez de autoridades eleitorais trans em qualquer nível de governo”, disse em um comunicado Annise Parker, chefe-executiva da L.G.B.T.Q Victory Fund, que treina e apoia candidatos gays e transexuais. “No entanto, os eleitores de Vermont escolheram Christine não por causa de sua identidade de gênero, mas porque ela é uma candidata aberta e autêntica com uma longa história de serviços prestados ao Estado e que fala sobre as questões mais importantes para os eleitores”, completou.
OUTRAS PESSOAS TRANSGÊNERO NAS ELEIÇÕES
Christine não foi a única candidata transgênero a participar das eleições do país nos últimos dias. No Havaí, no sábado, a advogada Kim Coco Iwamoto chegou a disputar uma nomeação ao cargo de vice-governadora pelo Partido Democrata, mas perdeu a indicação.
E mais candidatos transgêneros estarão nas urnas em breve, incluindo Alexandra Chandler, ex-analista de inteligência naval que concorre no Terceiro Distrito de Massachusetts. Ela está tentando se diferenciar enfatizando a natureza histórica de sua candidatura.
“Estou concorrendo ao Congresso para ser uma voz para as crianças trans”, disse, em um recente vídeo de campanha.
CAMINHO DIFÍCIL ATÉ O GOVERNO
No caso de Christine, não havia outros grandes nomes na primária democrata de Vermont para ofuscá-la. No entanto, daqui para frente, seu caminho para ocupar o gabinete de governo será mais difícil. Ela enfrentará um republicano, Phil Scott, que está concorrendo a um segundo mandato com a história ao seu lado — os cidadãos de Vermont não deixaram de reeleger um governador sequer desde 1962.
A popularidade de Scott caiu, no entanto, especialmente entre os conservadores, depois que ele assinou medidas de controle de armas este ano. Ainda assim, uma pesquisa realizada em julho por organizações de mídia públicas no estado mostrou que dois terços da população apoiavam a lei, e quase metade dos democratas tinha uma opinião favorável sobre Scott. Apenas 18% dos entrevistados democratas na mesma pesquisa disseram ter uma opinião favorável sobre Christine, e 55% ainda não sabiam quem ela era.
Isso pode mudar agora que a candidata é a indicada do partido, e é provável que ela atraia a atenção nacional — e dólares para arrecadação de fundos — por causa do potencial histórico de sua candidatura.
— Ela vai levantar mais dinheiro e sua mensagem vai chegar mais longe — disse Eric Davis, professor emérito do Middlebury College de Vermont. — Mesmo que ela não seja eleita governadora, a maior contribuição de sua campanha seria aumentar a conscientização sobre as questões que as pessoas transgênero enfrentam.
TRANSIÇÃO REGISTRADA EM DOCUMENTÁRIO
Antes de concorrer ao governo, Christine passou 12 anos como diretora executiva da Vermont Electric Cooperative, uma empresa de energia que ela ajudou a reerguer, quando a companhia estava próxima da ruína. Sua transição do sexo masculino para o feminino ocorreu em 2015, quando ela estava no comando da empresa, e foi tema de um documentário feito pelo próprio filho.
Fonte: O Globo
Foto: Stringer/Reuters