Enquanto a bolsa disparava 16% em novembro, o dólar passou por um período de forte queda ante o real. Desde a eleição americana, em 3 de novembro, até a última quinta-feira, a moeda dos Estados Unidos registrou perdas de 10,8%, batendo seu menor patamar desde julho e indo de R$ 5,762 para R$ 5,14.
O movimento foi favorecido por um cenário mais positivo no exterior e por alguns eventos domésticos, mas se tratando do câmbio, ficou muita dúvida nos investidores de até onde se sustenta essa melhora do real contra o dólar.
Bruno Lavieri, economista e sócio da 4E Consultoria, afirma que via o câmbio em um “patamar estranho” acima de R$ 5,50 e que a cotação do dólar estava sustentada por uma visão de risco excessivo pelos investidores. “Esse temor até se justificava, mas agora vemos o câmbio corrigindo para um nível que condiz mais com os fundamentos”, explica.
Isso porque, conforme os investidores enxergam que o mundo começará a caminhar para a normalidade com a distribuição das vacinas – ainda que no curto prazo haja um alerta de aumento de casos -, há uma busca por ativos mais arriscados.
Como o dólar é considerado um dos ativos mais seguros que existe, começa a haver um movimento geral de saída da moeda americana em momentos de maior apetite ao risco, fazendo com que ele perda valor ante seus pares globais. Em novembro, o Dollar Index, um índice que compara o dólar contra uma cesta de moedas, caiu 3,6%.
Este movimento ocorre ainda em um cenário em que se espera que as taxas de juros nos EUA permaneçam baixas por um longo período, enquanto aumenta a expectativa de que em breve o Congresso americano aprove um novo pacote de ajuda econômica. Tudo isso enfraquece a moeda do país.
Em entrevista para a Bloomberg, Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, apontou que principalmente fatores externos pressionaram a moeda americana frente ao real na semana.
“Há expectativa de taxas de juros baixas em todo o mundo, esperanças em relação a um pacote de ajuda (fiscal) nos EUA e otimismo em relação a vacinas […] Isso acaba contribuindo para o bom humor dos mercados”, afirmou.
Essa foi a primeira vez que o Tesouro fez captação com prazos diferentes no mesmo momento. Os juros foram os mais baixos já obtidos em todas as captações do Tesouro.
Lavieri destaca que sua projeção já há algum tempo era de que o dólar terminaria este ano próximo de R$ 5,10, enquanto para 2021 vê a cotação podendo recuar para R$ 4,70 até o fim do ano.
Segundo ele, o cenário externo tem melhorado e está ajudando, mas o principal ponto é o interno. “O maior peso no câmbio ainda é doméstico. Sinalizações do governo sobre reformas ou qualquer notícia positiva no lado fiscal vão ajuda mais”, afirma.