Detran visa ampliar programa de redução de velocidade no Distrito Federal

Iniciado em março de 2016, em Águas Claras, o programa de redução de velocidade nas vias do Distrito Federal deve ser ampliado. Nesses dois anos, nove pistas tiveram o limite diminuído em 10km/h. Um dos principais corredores do Plano Piloto, a avenida W3, onde é permitido dirigir a até 60km/h, passa por estudos de engenharia do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Na Avenida Alagados, em Santa Maria, e Contorno, no Gama, a mudança é certa, assim como na Universidade de Brasília (UnB), onde o trecho entre os Institutos Centrais de Ciências (ICCs), o Restaurante Universitário e o Banco do Brasil vai cair de 40km/h para 30 km/h, neste mês. No câmpus da instituição de ensino, funcionários pintaram faixas no asfalto e colocaram placas.
A mudança mais recente, de 60 km/h para 50 km/h, aconteceu no início de fevereiro, nas vias N2 e N3 de Ceilândia. A família de Ricardo de Castro Souza, 46 anos, aprovou. Ele, a mulher Margarida Fernandes, 44, e a filha Bárbara Fernandes Souza, 20, circulam diariamente pela região. Todos são motoristas e acreditam que a velocidade mais baixa diminui os acidentes. “As pessoas passam a ter mais cuidado e atenção”, ressalta Margarida.
Noroeste, Águas Claras, Lago Norte, Taguatinga e Plano Piloto também tiveram reduções de velocidade, assim como rodovias sob o controle do GDF. Um trecho da EPTG passou de 80 km/h para 60 km/h, por exemplo. Em vigor desde 21 de fevereiro, a medida vai valer por quatro meses, tempo previsto para execução de uma obra de alargamento de pista perto de Vicente Pires, perto da Faculdade Mauá.
Moradora de Águas Claras, Tassia Rodrigues Machado, 31 anos, considera a medida válida. “Se for para trazer benefícios e evitar acidentes é uma alternativa importanta”, defende. Para a aposentada Angelita Pereira Vencato, 51 anos, melhor seria aumentar o número de semáforos. “Eles ajudam a reter o trânsito e facilitam na hora de as pessoas atravessarem sem travar o fluxo de veículos”, pondera.
 

Estatísticas

O Detran-DF mudou o limite de velocidade nessas vias baseado nas estatísticas de violência no trânsito. O diretor-geral do órgão, Silvain Fonseca, diz que, em 2017, um depois da mudança em Águas Claras, não ocorreu nenhum acidente fatal na cidade.  O mesmo dado positivo foi anotado na Avenida Comercial, em Taguatinga, e no Setor Terminal Norte. “São áreas de grande conflito de todos os atores do trânsito e buscamos proteger os mais frágeis, pedestres e ciclistas”, destaca Fonseca.
O diretor-geral do órgão refuta a ideia de que as mudanças são para gerar mais multas. “Nessas regiões não houve aumento de multas. As reduções são feitas baseadas em resoluções do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e nas legislações de trânsito. Nenhuma via tem velocidade alterada sem necessidade. Atuamos com estudos de engenharia e ações de educação e fiscalização.”
Na pista principal do Lago Norte, 129 motoristas foram multados por excesso de velocidade em novembro, antes de a pista passar de 70 km/h para 60 km/h. Em janeiro, dois meses depois da mudança, o número de autuações caiu para 92. O Detran-DF não divulgou os dados das outras vias que tiveram a velocidade reduzida.
O presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito (IST) e professor da Universidade de Brasília (UnB), David Duarte, explica que atropelamentos provocados a 30 km/h matam, em geral, cerca de 5% das pessoas. Mas a mesma ocorrência a 60 km/h provoca a morte de 90% das vítimas. “Toda vez que se dobra a velocidade as colisões tornam-se quatro vezes mais brutais e mais letais. O corpo humano não resiste. Por isso, a velocidade é tão nociva”, esclarece.
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Segundo o professor, velocidade, álcool ao volante e o uso de dispositivos móveis são os principais causadores de acidentes com mortes. Ele ressalta que o ideal é uma via urbana nunca exceder 60 km/h.

Ponto crítico

Diminuir a velocidade aumenta a segurança?

SIM
» Paulo César Marques, 
professor e engenheiro de engenharia de tráfego da UnB
Todos os lugares que passaram por redução de velocidade experimentaram a civilidade dos acidentes e a redução do número de ocorrências. Essa é uma medida extremamente necessária, principalmente em uma cidade como Brasília que tem muitas vias com velocidades altas e infraestrutura deficiente para pedestres, com calçadas inadequadas. A resistência certamente há, porque algumas pessoas acham que vão sofrer prejuízos, mas isso é uma ilusão.Uma coisa é viajar de Brasília para Belo Horizonte a 80 km/h ou a 110 km/h, mas, na cidade, o tempo ganho para uma velocidade de 50 km/h, 60 km/h ou 70 km/h é muito desprezível. Ao fim do dia, o motorista conseguiu de três a quatro minutos.  As maiores capacidades das vias e escoamento do trânsito acontecem com uma velocidade mais baixa. Reduzir o limite não afeta a capacidade das pistas. Está mais do que comprovado que os bons índices de segurança viária passam pela redução de velocidade nas pistas, como o que aconteceu na maioria das cidades europeias.
NÃO
» Marcus Quintella,
professor e engenheiro da Fundação Getúlio Vargas
Essa é uma tendência de várias cidades do mundo, mas só diminuir o limite não traz resultado imediato. Em países da Europa só se faz isso em locais de grande concentração de pedestres e ciclistas, mas existem regras. Em vias marginais, por exemplo, essa medida não vai adiantar. Não se reduz velocidade em trechos que têm a característica de serem rápidos. Se a via é de alta capacidade e se ela existe para desafogar o trânsito, não adianta criar uma medida simplesmente para diminuir velocidade. A redução precisa observar critérios. Não adianta passar o limite de uma via para 50 km/h ou 60 km/h se continuar existindo uma travessia vulnerável, com pessoas que não obedecem às legislações e corredores de motociclistas entre os carros. O ideal seria uma via monitorada com velocidade média, com pontos de entrada e saída e monitoramento permanente, mas no Brasil não tem nada nesse sentido.  A redução é importante em locais nos quais a velocidade é um grande causador de acidentes e em endereços com grande concentração de pedestres e ciclistas. Caso contrário, tira a capacidade de tráfego de uma via concebida para isso.
Fonte: Correio Braziliense