Casal acusado de tentar matar bebê é afastado dos quatro filhos

 

A Polícia Civil apura a possível infecção proposital de mais um filho dos pais indiciados por aplicar insulina em um bebê de dois meses no Hospital Universitário de Brasília (HUB), em julho. O abrigo onde estão os quatro filhos do casal relatou que a filha do meio, que era considera saudável, apresenta mais problemas de deficit cognitivo do que a irmã de 6 anos, que tem o diagnóstico. Inclusive, é ela quem tem ajudado a mais velha a fazer tarefas simples, como amarrar o cadarço do tênis. Os quatro filhos do casal suspeito estão em um abrigo há dois meses, devido uma decisão judicial, que determinou o afastamento dos pais.

De acordo com a delegada-titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Ana Cristina Melo, é difícil definir a relação da família. “Não sei o que passava ali. O filho mais velho, de 12 anos, se mostrou bem fechado durante todo depoimento. Ele não falava quase nada e chorou. Tenho convicção que ele sabe que algo aconteceu, mas sempre há o receio de denunciar os próprios pais”, ponderou a delegada.

Para ela, não há dúvidas de que o hiperinsulinismo congênito, diagnosticado no bebê de dois meses, foi causado propositalmente pelos pais. A criança sobreviveu. “O médico responsável pela análise do caso confirmou que não há doença por meio de laudos e imagens. A mãe teve muito azar e a criança, sorte. Ele é um profissional extremamente competente e deu uma aula pra mim durante o depoimento. O bebê não tem problema de saúde nenhum, está vivendo normalmente no abrigo”, contou Melo.

Além disso, chamou a atenção da equipe médica a decisão de os pais não gostarem da suspensão da medicação do bebê, por um curto período, quando ele estava internado no HUB. “A reação dos pais foi algo surpreendente. Eles ficaram muito irritados e enlouquecidos. Esperava-se algo diferente, pois era uma notícia boa. Quem é que não quer ver o filho livre de medicamento?”, questionou Ana Melo.

No depoimento na delegacia, o pai demonstrou tranquilidade, mesmo após saber que a mulher havia confessado ter aplicado alta dosagem de insulina no bebê, segundo a delegada. “Ao saber que a esposa tentou matar o próprio filho a reação, no mínimo, teria de ser de espanto, mas ele simplesmente disse que não tinha nada a ver com isso. Nenhum momento demonstrou indignação”, contou a policial. O homem, em entrevista ao Correio, disse estar indignado com a suspeita sobre ele. Ele alega ter sofrido muita pressão na delegacia e por isso teve tal reação. “É um absurdo falarem isso, olha a situação que eu estava passando. Acusavam-me de tentar ajudar a matar meu filho”, indignou-se.

Casos investigados

Para a delegada responsável pelo caso, o comportamento das crianças após o afastamento dos pais reforça a suspeita sobre o envolvimento dos pais. “Em relação ao caso mais recente, não tenho nem o que dizer. Está comprovado e ela (a mãe) vai responder por isso. Não adianta negar. Agora, sobre as outras duas mortes, temos de ver se temos condições para ir atrás de todo o histórico médico e fazer um levantamento para saber se foi verdade ou se foram causadas”, afirmou.

Há três inquéritos estão abertos contra os pais. Eles tratam dos dois filhos mortos e da menina que está no abrigo e possui o diagnóstico da doença. Um dos próximos passos é obter o histórico médico dos falecidos para saber da real causa da morte deles. A Polícia Civil também quer saber como o casal conseguiu os medicamentos na Secretaria de Saúde. “Precisamos dessas informações para atestar que a motivação de todo o crime foi financeiro”, explicou a delegada. O HUB afirmou que está colaborando com a Justiça, mas não pode se manifestar para não atrapalhar o andamento das investigações.

Ação contra o GDF

Os pais chegaram a ajuizar uma ação de indenização por danos materiais e morais contra o Governo do Distrito Federal, pela falta de medicamento para uma das crianças que morreu. Eles ganharam na primeira instância. Para o Ministério Público, as ações do casal atingiram “não apenas os próprios filhos, mas também o Estado e a sociedade — que foi manipulada para doar dinheiro às campanhas realizadas pelos acusados.”

Promotor que atua no caso, Marcelo Leite pediu a prisão preventiva dos pais, mas o juiz indeferiu. O magistrado autorizou a quebra do sigilo bancário dos acusados. “Era difícil conseguir essa prisão. A delegada já havia pedido, mas o juiz da Vara Criminal tinha negado e determinou como medida alternativa o afastamento”, apontou o promotor. Após a decisão, o caso passou a correr em segredo de Justiça.

Entenda o caso

Em busca de doações

Em julho, a equipe médica do Hospital Universitário de Brasília (HUB) pediu a presença de uma conselheira tutelar para relatar que uma mãe injetou insulina em um bebê de dois meses. Ele estava internado na unidade de saúde desde 24 de junho, com suspeita de hiperinsulinismo congênito. Apesar das reações graves, o garoto teve pronto atendimento médico e sobreviveu.

A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) começou a investigar o caso. A mãe confessou a autoria do crime. Ela contou que o pai do bebê trabalhava como entregador em uma farmácia e fornecia a insulina. Mas, em depoimento, ele negou a participação no crime.

Em 29 de setembro, a promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Brasília denunciou os dois por tentativa de homicídio por motivo torpe contra o filho de dois meses. Outros dois dos seis filhos da mulher, diagnosticados com a mesma doença, morreram no ano passado.

Sob a justificativa de que os medicamentos estavam em falta na Secretaria de Saúde, a mãe chegou a fazer campanhas na internet, nas quais pedia dinheiro para comprar remédios. De acordo com o promotor responsável pela denúncia, a mãe provocou a doença no filho de dois meses na tentativa de gerar mobilização social e se beneficiar das doações.

 

Foto: Reprodução
Fonte: CorreioBraziliense


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