Em menos de 15 dias, as vendas de carros populares já consumiram 64% de todo o dinheiro reservado pelo governo federal para o programa de descontos de veículos 0 km. Isso porque as montadoras já pediram R$ 320 milhões dos R$ 500 milhões disponíveis — uma alta de 88% em apenas três dias, em relação aos R$ 170 milhões divulgados na sexta-feira (16).
A FCA Fiat Chrysler disparou na lidera os pedidos, com R$ 130 milhões (mais de 40% de todo o dinheiro solicitado por todas as empresas). Ela é a montadora com mais modelos com subsídio do governo e fez um “Dia D” de ofertas no fim de semana para estimular as vendas. Agora, pediu mais R$ 100 milhões.
Na sequência aparece a Volkswagen, que estava empatada com a Fiat na sexta (com R$ 30 milhões) e subiu sua solicitação para R$ 50 milhões (“apenas” R$ 20 milhões a mais). Depois vêm Peugeot/Citroën (R$ 40 milhões), Renault (R$ 30 milhões), Chevrolet – General Motors e Hyundai (R$ 20 milhões cada uma) e Honda, Nissan e Toyota (R$ 10 milhões cada uma).
O governo considera a Jeep como parte do grupo FCA Fiat Chrysler, junto com a Fiat, e a Peugeot e a Citroën como uma montadora só. Mas as quatro empresas fazem parte do mesmo grupo automotivo: a Stellantis. Já a General Motors (GM) é a dona da Chevrolet.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou em nota que a relação de automóveis incluídos no programa não mudou: são 266 versões de 32 modelos. Os descontos patrocinados pelo governo vão de R$ 2 mil a R$ 8 mil por veículo (que custam até R$ 120 mil), mas as montadoras podem aplicar descontos adicionais por conta própria.
Até SUVs mais caros
A Jeep, por exemplo, reduziu o preço do Renegade em até R$ 15 mil para entrar no programa e ganhou mais R$ 4 mil de subsídio do governo (e, com isso, o preço da versão Sport caiu R$ 19 mil). Outras montadoras fizeram o mesmo com outros SUVs, para se aproveitar do programa.
As montadoras estão incluindo no programa até modelos fora de fabricação, como o Volkswagen Gol (que foi o carro mais vendido do país em 27 dos 40 anos em que foi produzido), e anunciando descontos em modelos que não fazem parte da medida, como a Caoa Chery, com o Tiggo 5X, e a Fiat, com a Toro (porque os veículos custam muito mais que R$ 120 mil).
Diante do interesse dos consumidores, a Fenabrave (federação das concessionárias) disse que o movimento nas revendas chegou a mais do que triplicar na primeira semana de descontos e que os créditos tributários autorizados pelo governo (até R$ 500 milhões) não devem durar muito mais do que 30 dias.
Desconto direto ao consumidor
O ministério afirma que o subsídio concedido deve ser convertido em desconto ao consumidor na hora da compra do veículo. O desconto será abatido na própria concessionária, e o valor que a concessionária deixar de receber será coberto pela montadora (que depois vai reverter esse desconto em crédito tributário).
O MDIC reforça que o programa tem duração de 4 meses, mas vai acabar “quando os recursos disponíveis se esgotarem”, pois a medida é “uma ação conjuntural, de curto prazo”, feita para “atenuar a crise em um setor que responde por 20% do PIB da indústria de transformação e está com 50% de sua capacidade instalada ociosa”.
O governo está subsidiando:
- Veículos de passeio: de R$ 2 mil a R$ 8 mil por veículo (até o limite total de R$ 500 milhões);
- Caminhões e ônibus: de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil por veículo (até o limite de R$ 700 milhões para caminhões e R$ 300 milhões para ônibus);
Pressão por mais subsídio
Para definir os descontos dos automóveis o governo considerou três fatores: preço, eficiência energética e “densidade industrial” (quantidade de peças do veículo produzidas no Brasil). Cada critério tem uma pontuação e, quanto maior a soma total desses fatores, maior o desconto no carro.
Já há pressão no governo para ampliar a verba destinada aos carros, pois a Anfavea (associação das montadoras) projeta que os R$ 500 milhões destinados devem durar cerca de um mês “ou um pouco mais”. Mas há declarações divergentes das autoridades sobre a ampliação ou prorrogação do programa — inclusive do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Por Lucas Sampaio,Giovanna Sutto/InfoMoney