Países da Europa estão tentando superar um dos maiores impactos da pandemia nas economias: a queda da arrecadação com o turismo. Na Espanha, o 2º destino mais visitado do mundo, a situação é crítica. O setor responde por 12% do PIB (Produto Interno Bruto), e a recuperação econômica é refém de um cenário de incertezas.
Em 2020, o país perdeu 77% dos visitantes estrangeiros, de acordo com dados do INE (Instituto Nacional de Estatística). Para compensar a queda, o governo tomou decisões que fizeram da Espanha um dos poucos países europeus com medidas brandas de mobilidade e de funcionamento de serviços ao público.
Pouco antes da Semana Santa, a entrada de turistas estrangeiros foi liberada. A medida provocou certo desconforto, em parte porque os próprios espanhóis estão proibidos de sair de suas comunidades autônomas (equivalentes a Estados).
Ou seja, o turismo interno continua restringido, mas cidadãos da União Europeia podem passar suas férias na Espanha. É o caso, por exemplo, dos turistas alemães que chegam em massa às Ilhas Baleares desde que a Alemanha deixou de considerar o arquipélago uma zona de risco.
Ou dos franceses que desembarcam em Madri, onde a situação é ainda mais favorável aos visitantes. Todo o comércio está aberto, bares e restaurantes fecham às 23h e o toque de recolher começa mais tarde, também às 23h. Mas as medidas mais brandas trouxeram consequências. Durante o feriado da Páscoa, a Polícia de Madri desmantelou, em 3 dias, 384 festas ilegais, a maior parte delas em apartamentos turísticos. Em um dos eventos, estavam 48 jovens de 10 nacionalidades diferentes.
A preocupação com a transmissão do coronavírus também aumentou. O teste de RT-PCR com resultado negativo 72 horas antes do voo é uma mera recomendação no país. Diante das críticas sobre a chegada em massa de turistas, a ministra das Relações Exteriores, Arancha González Laya, apelou para a “responsabilidade individual”.
“Todos os governos recomendam a seus cidadãos que não se desloquem se não por motivos fundamentais”, disse. Passada a Semana Santa, o Ministério da Saúde registrou 10.875 novos casos de covid-19 na 6ª feira passada (9.abr.2021). A incidência acumulada chegou a 182 casos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias.
Apesar dos dados, salvar o turismo é uma das grandes metas da Espanha. Em termos de emprego nesse segmento, 327 mil pessoas foram demitidas no último ano, e a crise está levando ao desaparecimento de muitas empresas que sofrem com a falta de liquidez.
“A pandemia nos atingiu com força e os efeitos sobre o setor estão sendo devastadores”, disse Reyes Maroto, ministro da Indústria, Comércio e Turismo, na última 5ª feira (8.abr.2021).
Com ajuda do fundo europeu (a Espanha receberá € 140 bilhões, que serão destinados a vários setores), o país espera recuperar parte dos recursos perdidos com a crise. Os primeiros dados oficiais sobre o comportamento da economia espanhola no 1º trimestre deste ano serão divulgados em 30 de abril. Mas, segundo o próprio governo, nenhuma atividade começou o ano como esperado. A previsão de crescimento do PIB para este ano, de 9,8%, caiu para 6,5%. Muitos acreditam que a chave para a recuperação é continuar investindo no turismo. “Vamos apostar no que somos bons e manter essa liderança”, disse o ministro Maroto.
*Por Isabella de Luca/Poder 360