Encenado nas ruínas da escola desativada da Vila Maria Zélia, em São Paulo, o Grupo XIX de Teatro volta em cartaz com a peça Teorema 21 de 19 de novembro a 11 de dezembro, aos sábados e domingos, às 18h. Os ingressos são gratuitos, mas podem ser reservados pelo site do Grupo XIX ou na bilheteria com 1 hora de antecedência.
Com direção de Luiz Fernando Marques e Janaína Leite, a dramaturgia é de Alexandre Dal Farra (Prêmio Shell de Melhor autor em 2012 pela peça Mateus, 10 e indicado ao Prêmio APCA em 2014) livremente inspirada na obra Teorema, do italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Cineasta, escritor e poeta, Pasolini é considerado um artista visionário e fazia duras críticas ao consumismo.
Para o grupo, o atual momento do país faz uma relação direta com o discurso do espetáculo. “Em janeiro quando estreamos, parecia um mau presságio – passados 11 meses a realidade do Brasil mudou – e a fábula da peça encontra uma triste simetria com os dias de hoje”.
Uma família retorna ao seu antigo lar. Ao buscar encontrar novas possibilidades de existência nesse ambiente antigo, recriam as suas relações e experimentam novas formas de contato. O núcleo familiar é constituído por um patriarca, a mãe, o filho e a filha. Vive na casa, ainda, a criada Emília. Tudo parece estável. Mais do que isso, estagnado. A chegada de um estrangeiro ameaça transformar a estrutura dessa família.
A trama se passa na casa onde a família morou há alguns anos e agora volta sem nenhum motivo aparente. A montagem é encenada ao entardecer na antiga escola de meninas, hoje desativada, localizada dentro da Vila Maria Zélia, um lugar quase sem teto, com as paredes em ruinas, em meio aos escombros. Ao entrar no espaço e ocupar as cadeiras giratórias dispostas aleatoriamente, o público é inserido no interior da sala de estar e pode girar as cadeiras para escolher o melhor ângulo para cada cena.
Teorema 21, parte ainda de outras referências como os filmes Dente Canino (Giorgos Lanthimos, 2009), Funny Games (Michael Haneke, 1997) e o Saló (1975), do próprio Pasolini. Saló foi o último e um dos seus mais polêmicos filmes. Numa entrevista publicada seis dias após seu assassinato, Pasolini disse ao jornalista: “Pretendo que você olhe em torno e se dê conta da tragédia. Qual é a tragédia? A tragédia é que não existem mais seres humanos, existem estranhas máquinas que se batem umas contra as outras”.
Cinema, literatura e teatro
Teorema estreou no cinema, em 1968 e ganhou uma versão literária, escrita pelo próprio Pasolini, no mesmo ano. Por meio de suas personagens, o autor critica a futilidade, o comodismo e a alienação da burguesia. O livro recria a obra estilisticamente, a partir do que é característico a cada linguagem. Se o filme é quase sem palavras, o livro descreve a exaustão a simbologia que se expressa na relação entre as personagens.
“Convidamos o dramaturgo Alexandre Dal Farra para analisar os recursos narrativos que são diferentemente empregados no livro e no filme homônimo, levantando hipóteses para um possível recorte, agora, no teatro. Não se trata de uma adaptação, mas de uma recriação da obra citada com texto inédito”, explica Luiz Fernando Marques.
Pasolini entrou tardiamente para o cinema, tendo sido a literatura e a poesia seu canal de expressão da realidade por muitos anos. Menos conhecida ainda é sua obra teatral. É considerado um pioneiro, um autor multimídia, e o cineasta italiano mais estudado, mesmo antes de sua morte.
Homossexual, foi brutalmente assassinado em novembro de 1975. O processo judicial concluiu que foi morto por um garoto de programa, porém essa versão é contestada até hoje. Pasolini morreu um dia depois de voltar de Estocolmo, onde havia se reunido com Ingmar Bergman e outros representantes da vanguarda cinematográfica sueca, e de ter dado uma entrevista à revista L’Espresso com declarações polêmicas sobre tema favorito: “Considero o consumismo como uma forma de fascismo pior que a versão clássica”.
Fotos: Divulgação
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