Um pouco da cultura brasileira na Rússia

Há pouca influência da Rússia na cultura do Brasil, mas já influenciamos em alguns pequenos aspectos os distantes russos. A BBC News Brasil conversou com pessoas familiarizadas com a vida cultural na Rússia para descobrir:

1. Novelas

Novelas brasileiras são uma das principais fontes de conhecimento dos russos sobre o Brasil, e uma delas em particular cativou a população a ponto de impactar a política e a vida social da Rússia: Escrava Isaura(1976-77).

Transmitida na URSS nos anos 1980, em pleno regime soviético, a novela fazia as famílias se sentarem juntas ao redor da TV para assistirem à história da escrava branca que se torna propriedade de um homem mau-caráter.

Escrava Isaura foi tão famosa que, no dia da transmissão do último capítulo, o Parlamento russo terminou sua sessão mais cedo, segundo contou à BBC News Brasil em 2003 o russo Anatoli Sostanov, então consultor na área de TV internacional.

Outra curiosidade é que, graças a Escrava Isaura , a palavra “fazenda” entrou para o dicionário russo. O próprio conceito de espaço rural que abrigava uma família rica causava estranheza entre os soviéticos.

A novela acabou abrindo espaço para outros folhetins brasileiros. Um exemplo é que “entre 1999 e 2001, houve 17 novelas brasileiras sendo transmitidas por emissoras russas”, diz o livro Russian Television Today .

2. Na literatura, um ‘tornado tropical’

Um escritor brasileiro em especial provocou furor na Rússia: Jorge Amado.

A “alegria de viver” na obra de Amado era uma coisa “estranha à literatura russa”, escreveu em ensaio a tradutora e pesquisadora Elena Beliakova.

Ela identificou que o primeiro livro do baiano a ser publicado foi São Jorge de Ilhéus, lançado em 1948, cinco anos antes da morte de Stálin. Mas foi Dona Flor e Seus Dois Maridos que acabou sendo o livro de Amado mais vendido na antiga URSS.

Hoje, porém, ele disputa a popularidade como escritor brasileiro com Paulo Coelho. “Coelho é muito famoso na Europa em geral e vários russos já me disseram terem lido O Alquimista “, conta Fabricio Carraro.

3. No cinema, da Bahia a Copacabana

A Mostra de Cinema Brasileiro na Rússia, que fará neste ano sua 11ª edição, costuma lotar salas de exibição em Moscou e virou um evento importante no calendário cultural do país.

“As estreias costumam ter cerca de mil pessoas, e é um evento muito expressivo em comparação até a festivais de cinema europeu no país”, diz Fernanda Bulhões, organizadora. E mais de 95% do público são os próprios russos. “Acho que (esse interesse) vem do imaginário russo sobre o Brasil, de praia e calor, da cultura de assistir novela. Filmes com atores globais são sucesso na certa.”

Entre os filmes que tiveram público expressivo no festival, segundo Bulhões, estão Nise – O Coração da Loucura (Roberto Berliner, 2015); Deus é Brasileiro (Cacá Diegues, 2003) e, por motivos bem particulares ,Copacabana (Carla Camurati, 2001) e Capitães de Areia (Cecília Amado, 2011).

No caso de Capitães , o motivo de sucesso é que muitos russos já conheciam a história, e não pelo livro de Jorge Amado, e sim por um filme homônimo rodado na Bahia em 1969 e estrelado por atores americanos. Quando chegou aos cinemas soviéticos, em 1973, o filme foi assistido por cerca de 43 milhões de pessoas e deixou profundas marcas em toda uma geração de russos.

Já o interesse por Copacabana remete a um personagem popular da literatura russa, Ostap Bender, que no livro 12 Cadeiras dizia sonhar em “passear pelas praias” do Rio de Janeiro “vestindo uma calça e um chapéu branco”.

Fonte: Terra