A Vila Kennedy, na Zona Oeste, foi dividida em quatro regiões: Metral, Progresso, Rua Congo e Manilha. A ordem para a divisão, segundo fontes da Polícia Civil, veio de dentro do Complexo de Gericinó. Em cada uma dessas partes, um traficante dá as ordens. Ao contrário de outras comunidades, onde os chefes do tráfico proíbem roubos, os quatro “gerentes” da Vila Kennedy incentivam a formação de “bondes” que atacam caminhões de carga e fazem arrastões. A favela também vira abrigo para os criminosos, quando são procurados pela polícia.
A Vila Kennedy foi a escolhida pelo interventor federal, general Walter Braga Netto, como “laboratório”. Desde o dia 23, as Forças Armadas fizeram quatro operações no local. Nenhuma das ações apreendeu armas. Na primeira, agentes encontraram 170 sacolés de cocaína e três embalagens com maconha. Não houve apreensão nas outras.
O dia a dia dos moradores da favela é cheio de regras impostas pelo quarteto de traficantes. Desde o fim do ano passado, motoristas de aplicativos, por exemplo, são proibidos de entrar lá. A ordem foi estabelecida em novembro, quando um morador, motorista de Uber, foi baleado por criminosos por não ter visto uma “blitz” do tráfico num dos acessos.
Tortura e fotos na internet
Na Vila Kennedy, quem julga e pune também é o tráfico. Em junho do ano passado, um adolescente de 17 anos, morador da favela, procurou a Polícia Civil para denunciar que havia sido espancado por traficantes do local. Sua própria mãe o teria entregado aos criminosos após ele ter bebido o leite de seu irmão de 4 anos. Segundo o depoimento do adolescente, os traficantes o “amarraram com fita isolante as mãos, com jornal e fita cobriram a sua cabeça e desferiram golpes com pedaços de madeira”.
Os criminosos que dominam a Vila Kennedy gostam de se exibir nas redes sociais. Fotos que fazem parte de uma investigação da Polícia Civil mostram os traficantes segurando pistolas e fuzis em vários pontos da favela. Numa das imagens, é possível ler as inscrições “Metral” e “CPX” num fuzil — uma referência ao Complexo do Alemão, dominado pela mesma facção. De acordo com a Polícia Civil, no fim de 2017, a favela passou a receber muitos criminosos de outras comunidades, para evitar invasões de traficantes da vizinha Vila Aliança.
Para a venda de drogas, o tráfico coopta adolescentes: um deles, preso no último dia 22, contou à polícia que ganha R$ 50 a cada 50 pinos de cocaína vendidos.
A primeira das ações das Forças Armadas na Vila Kennedy aconteceu após a ação, no dia 20 de fevereiro, de um dos bandos de ladrões que a favela abriga. Na ocasião, criminosos mataram o sargento do Exército Bruno Cazuca, em Campo Grande, após tentativa de assalto. Marlon Brando da Silva, de 21 anos, morador da favela, foi identificado como integrante do bando.
Fonte: Extra