Temer é suspeito de chefiar grupo criminoso na construção de Angra 3

O ex-presidente da República, Michel Temer, preso ontem (21), no Rio, a pedido da Força-Tarefa da Lava Jato do Rio de Janeiro, deve prestar depoimento, hoje (22), à Polícia Federal. Ele é suspeito de chefiar organização criminosa na construção da usina nuclear de Angra 3, que teria negociado R$ 1,8 bilhão em propina. O advogado de defesa do presidente considerou a prisão arbitrária e entrará com pedido de habeas corpus.

A prisão foi decorrente das investigações das Operações Radioatividade, Pripyat e Irmandade, um desdobramento da Operação Descontaminação. Embasada na delação premiada de José Antunes Sobrinho, dono da construtora Engevix, a investigação apurou crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraudes à licitação, em esquema criminoso para pagamento de propina na contratação de empresas para a construção de Angra 3.

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(Crédito: Marcelo Camargo – Agência Brasil) 

De acordo com o que foi apurado, a empresa contratada  pela estatal Eletronuclear para a execução do serviço, a AF Consult Brasil,   tem  participação da Argeplan, que está ligada a João Baptista Lima Filho (Coronel Lima), homem de confiança do ex-presidente, cuja prisão também foi decretada.  Houve também a subcontratação da empresa Engevix, em razão da empresa não possuir capacidade técnica, nem pessoal para a prestação dos serviços para os quais foi contratada.

Segundo o Ministério Público Federal do RJ (MPF), o Coronel Lima teria solicitado ao sócio da empresa Engevix pagamento de propina, em benefício de Michel Temer. A propina teria sido paga no final de 2014 com transferências que totalizaram R$ 1.091 milhão da empresa Alumi Publicidades para a empresa PDA Projeto e Direção Arquitetônica, controlada por Coronel Lima. Para justificar a transferências dos valores, conforme foi apurado, teriam sido simulados contratos de prestação de serviços da empresa PDA para a empresa Alumi.

As investigações apontam que a organização criminosa  envolve  vários órgãos públicos e mostram que diversas pessoas físicas e jurídicas foram usadas na rede de lavagem de ativos, continuando a  receber e movimentar valores ilícitos,  inclusive no exterior.

“As apurações também indicaram uma espécie de braço da organização, especializado em atos de contrainteligência, a fim de dificultar as investigações, tais como o monitoramento das investigações e dos investigadores, a combinação de versões entre os investigados e, inclusive, seus subordinados, e a produção de documentos forjados para despistar o estado atual das investigações”, informa o MPF RJ.

O Ministério Público Federal também determinou a prisão preventiva  de João Baptista Lima Filho (Coronel Lima), do ex-ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, de Maria Rita Fratezi, de Carlos Alberto Costa, de Carlos Alberto Costa Filho, Vanderlei de Natale e de Carlos Alberto Montenegro Gallo, e a prisão temporária de Rodrigo Castro Alves Neves e de Carlos Jorge Zimmermann. Foi determinada, ainda, a realização de busca e apreensão nos endereços desses investigados, assim como de Maristela Temer (filha do ex-presidente), de Othon Luiz Pinheiro da Silva, de Ana Cristina da Silva Toniolo e de Nara de Deus Vieira.