Trinta e seis inacreditáveis dias. Esse foi o tempo que durou a apuração dos votos das eleições americanas em 2000, quando o democrata Al Gore e o republicano George W. Bush se enfrentaram nas urnas.
Dezoito anos depois da lambança na apuração dos votos na Flórida, o risco de um novo caos eleitoral aumenta a cada dia que os Estados Unidos se aproximam do pleito de 3 de novembro, quando os eleitores escolherão entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden.
Dessa vez, a confusão pode ocorrer em vários estados, não em apenas um. “Podemos assistir à reprise não de uma, mas de várias ‘Flóridas 2000’”, afirma Maurício Moura, pesquisador da Universidade George Washington e CEO da Ideia Big Data, instituto de pesquisa especializado em opinião pública.
Um possível apocalipse eleitoral pode ser desencadeado pela demora no processo de apuração dos votos. Em razão da pandemia, espera-se que grande parte de eleitores vote pelo correio para evitar aglomerações. Em 2016, cerca de 31 milhões de pessoas enviaram seus votos por correspondência. Este ano, pode-se chegar ao triplo disso e ninguém sabe quanto tempo a contagem de votos pode levar.
Fora a questão da apuração em si, as eleições deste ano têm um agravante: o presidente Donald Trump, que, há meses, está atrás nas pesquisas de intenção de votos.
O republicano vem dando sinais cada vez mais fortes de que pode contestar o resultado das urnas. Durante o debate com Biden na terça-feira (29), Trump usou as palavras “fraude”, “vergonha” e “desastre” para classificar o processo de votação por correspondência.
Perguntado pelo moderador se pedirá paciência a seus apoiadores e se aguardará até o final da apuração sem se declarar vitorioso, o republicano se esquivou de responder. Disse que há milhões de cédulas sendo enviadas pelo correio sem que os eleitores tenham pedido (o voto não é obrigatório), e finalizou com a frase: “Isso não vai acabar bem”.
Dias antes, o atual ocupante da Casa Branca já havia se recusado a dizer se fará uma transição de governo amistosa, caso seja derrotado nas urnas por Biden. Ao repórter que lhe questionou, respondeu com um vago “Vamos ver o que acontece”.