Restrições mais duras se espalham pelo estado de São Paulo

Mirando no exemplo de Araraquara, no interior, que chegou ao colapso no sistema de saúde com a explosão dos casos de covid-19, e que viu a curvar baixar depois de fazer lockdown, dezenas de prefeituras estão adotando medidas mais rígidas do que as definidas pelo governo estadual na fase emergencial para tentar conter o avanço da pandemia.

Em 16 de fevereiro, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), escreveu nas redes sociais que não havia mais nenhum leito disponível, diante do aumento das contaminações, provocado pelas novas variantes. Em resposta, a cidade adotou um rigoroso lockdown, que vigorou entre 21 de fevereiro e 2 de março.

Neste fim de semana, um mês depois do confinamento, Edinho voltou às redes sociais e apresentou dados animadores. Houve queda de 50% na média móvel diária de novos casos (de 189 para 94) e redução de 31% no número de pacientes internados (de 247, no auge, para os atuais 169).

De olho nesse desempenho – e enquanto esperam por restrições mais rígidas vindas do governo do estado –, pelo menos outras 30 cidades já anunciaram um aperto maior na quarentena.

Os municípios estão tornando mais rígido o toque de recolher, restringindo o funcionamento dos serviços essenciais e até mesmo suspendendo a venda de bebidas alcoólicas e a locação de imóveis, tudo para ampliar o distanciamento.

Porém a medida mais restritiva ainda é o lockdown, que já foi adotado em Ribeirão Preto, ainda está em vigor em São José do Rio Preto e que será aplicado a partir de hoje também pelas nove cidades da Baixada Santista.

O pedido é para que as pessoas só saiam para trabalhar ou em caso de emergência. As prefeituras do litoral, que vão reduzir o horário de funcionamento dos ônibus e fechar mais cedo os serviços essenciais, mandaram também um recado para os turistas da capital: “não venham”. Isso porque a cidade de São Paulo também adotou medidas adicionais à fase emergencial, como rodízio de veículos noturno e o megaferiado de 10 dias – que começa nesta sexta-feira e vai até o dia 4 de abril, sem nenhum dia útil, para que as pessoas fiquem em casa.

Lockdown estadual

Diversas prefeituras e especialistas têm defendido a necessidade de aperto nas restrições pelo governo, como um lockdown estadual.

Vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM) afirmou que o Palácio dos Bandeirantes ainda está avaliando os resultados dessa primeira semana dentro da fase emergencial e que novas medidas restritivas poderão ser adotadas, mas considerou que as regras em vigor “já são equivalentes a um lockdown”.

Integrante do centro de contingência, o médico José Medina disse que não é possível estabelecer lockdown em todo o estado. “São Paulo tem mais de mil entradas terrestres na divisa com outros estados. É muito difícil. Além do mais, isso pode provocar quebra na linha de produção de itens para serviços essenciais. Talvez, se o lockdown tiver de ser aplicado em São Paulo, terá de ser localizado, como fez Araraquara – com as suas consequências e, em algumas vezes, até com instabilidades sociais.”

APERTANDO O CINTO

Restrições adicionais determinadas por algumas cidades que vão além das medidas da fase emergencial

ABC

Os prefeitos da região decidiram aderir ao megaferiado da capital, com um dia a menos. Entre 27 de março e 4 abril, o serviços essenciais terão de fechar às 17h (hoje podem funcionar até as 19h), o transporte público ficará mais restritito e a venda de bebidas alcoólicas, proibida.

Araçatuba

Mandou fechar as praças e outros espaços públicos abertos para evitar a reunião de pessoas. Em outra cidade, Franco da Rocha, a prefeitura mandou fechar uma praça onde havia registro de constantes aglomerações

Baixada Santista

A suspensão da operação descida pelo sistema Anchieta-Imigrantes, por ordem do governo do estado, deve reduzir o número de turistas, mesmo que as praias estejam bloqueadas. Ainda assim, as prefeituras do litoral sul decidiram ir além e determinaram um lockdown a partir de hoje, que vai durar 13 dias. As pessoas só poderão sair de casa para trabalhar ou em alguma emergência. O transporte público vai funcionar em horário reduzido e não rodará no fim de semana. Os hotéis devem receber só hóspedes corporativos. Os supermercados, só poderão operar até as 20h – e, nos fins de semana, só por delivery. Quem descumprir as regras poderá ser punido. Em Santos, as multas variam de R$ 300 a R$ 10 mil.

Campinas

A cidade vai punir até as reuniões familiares e promete multar em R$ 3,5 mil os responsáveis por encontros que reúnam mais de 10 pessoas. A prefeitura também determinou que parte dos serviços essenciais, como supermercados, só pode funcionar até as 20h, mesmo horário em que o delivery deve ser encerrado, para qualquer atividade. Todas as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas aderiram ao toque de recolher mais rígido, que prevê a abordagem de pessoas nas ruas depois das 20h.

São José do Rio Preto

A cidade ficará em lockdown até 31 de março. Na primeira etapa, que acabou domingo, o transporte público deixou de operar e a maior parte dos serviços essenciais só funcionou por delivery. Na segunda etapa, a prefeitura prevê flexibilizar as atividades aos poucos. Ribeirão Preto encerrou seu lockdown no último domingo.

Socorro

Estância hidromineral, a cidade vetou o aluguel de espaços como chácaras e sítios para a realização de eventos.

Tupã

Suspendeu a venda de bebidas alcoólicas por dois fins de semana e proibiu a presença de crianças menores de 12 anos em espaços comerciais e de serviços.

*Por André Vieira – Metro / foto – capa:Araraquara quando fez lockdown – João Moura/UAI Foto/ Folhapress