Bruno Rocha/Fotoarena/Estadão Conteúdo – 25.03.2020
Algumas das principais entidades de setores econômicos do país destacam, por meio de estudos e notas técnicas, os prejuízos causados pela paralisação das atividades por causa da quarententa contra o coronavírus. Todos são pessimistas, e apontam que o desemprego é inevitável em todas as áreas.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, pede a retomada do comércio e de serviços para se evitar um mal econômico difícil de ser contornado.
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Andrade afirmou que algumas atividades podem retomar ao trabalho desde que se adotem todos os cuidados para evitar a contaminação. “O capital financeiro das empresas está comprometido. O desemprego gera falta de consumo. Isso vai ser uma cadeia. Fazer home office se consegue na área de serviços, mas no comércio e na indústria é muito difícil”, diz.
“Temos contato com 700 mil empresas que representam 10 milhões de trabalhadores. Estamos procurando acalmar o ambiente pela seriedade do momento, mas temos que ter responsabilidade com o país”, afirmou Andrade.
Na mesma linha, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, defende “o funcionamento parcial de atividades que são fundamentais para a sociedade”.
Um estudo da Fiemg aponta que Minas Gerais pode terminar este ano com a perda de 2,02 milhões de empregos formais, considerando a paralisação quase total das atividades produtivas em um período 30 dias, devido à pandemia do novo coronavírus. No país inteiro, diz a entidade, podem ser encerradas 16,7 milhões de vagas.
“O distanciamento social é uma medida eficaz para evitar a propagação do vírus, mas traz efeitos colaterais como a paralisação de diversas atividades econômicas, provocando de forma súbita choques de oferta e de demanda no Brasil e em Minas Gerais”, analisa Roscoe.
Segundo o estudo, se a paralisação durar 30 dias, a queda do PIB brasileiro pode alcançar 8,3%.
A Confederação Nacional do Comércio (CNC) diz que as perdas já são sentidas em todos os setores. Somente na primeira quinzena de março, o volume de receitas do segmento encolheu 16,7% em relação ao mesmo período do ano passado — uma perda equivalente a R$ 2,2 bilhões.
Dos três grandes setores da economia, o comércio de bens, serviços e turismo (terciário) é o que apresenta maior potencial de impacto negativo. “As empresas não têm caixa para se manter diante de um quadro tão tenebroso. O terceiro setor recruta muita mão de obra, diferentemente da indústria e da agricultura, que já estão altamente mecanizados e com inteligência artificial. Vamos ser profundamente atingidos”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Outro estudo, da Confederação Nacional dos Serviços, publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, mostra números ainda mais trágicos. As restrições de produção em diversas atividades econômicas podem levar a um prejuízo de mais de R$ 320 bilhões à economia brasileira e fazer com que 6,5 milhões de trabalhadores percam seus empregos.
Se a quarentena durar de 60 a 90 dias, de acordo com a CNS, o setor de serviços terá prejuízos de cerca de R$ 117 bilhões em faturamento. O comércio perderá quase R$ 80 bilhões e a indústria de transformação deixará de faturar em torno de R$ 66 bilhões.
O setor de serviços cresceu 0,6% em janeiro sobre dezembro de 2019, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas atividades que pesam 40% na Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada nesta quarta-feira (25), deverão ser diretamente atingidas pela crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus.
O impacto negativo deverá aparecer apenas na divulgação da PMS de março, prevista para ser divulgada somente em 12 de maio, conforme o calendário do IBGE, disse o gerente da PMS, Rodrigo Lobo.
Dados divulgados quarta-feira (25) pela startup Truckpad, que une empresas a caminhoneiros de todo o país, mostram que desde o início das paralisações já houve uma queda de 25% no volume de cargas.
O fechamento do comércio de rua e de shoppings foi responsável sozinho, segundo a TruckPad, por uma redução de quase 30% das entregas.
“Penso que este percentual de queda deve aumentar na próxima semana, quando teremos o reflexo de um período maior de dias nos quais a população consumidora tenha sofrido com as restrições de movimentação”, afirma Carlos Mira, CEO da TruckPad.
A Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), que representa 577 estabelecimentos no país, responsáveis por mais de um milhão de empregos, afirma que aceita as restrições necessárias para conter a covid-19, mas se preocupa com o futuro de lojas e serviços.
“Nossa maior preocupação é evitar, ao máximo, a disseminação do novo coronavírus, porém em momento algum deixamos de pensar e discutir medidas para a manutenção de milhões de empregos e famílias que se dedicam diariamente para fazer do setor de shopping centers um agente de desenvolvimento”, diz entidade, em nota.