Nenhum outro crime faz mais vítimas na Avenida Brasil do que os roubos em ônibus. De outubro a dezembro de 2017, 863 passageiros tornaram-se alvo dos assaltantes, espalhados por 448 ocorrências, numa média de cinco casos por dia. Pessoas como a analista financeira Bruna (nome fictício), de 35 anos, que entrou duas vezes para a estatística em menos de um mês e, desde então, abandonou a via expressa. Para chegar de Ramos ao trabalho, em Niterói, passou a ir de carona até a Praça Quinze, onde toma uma barca. Na volta, já à noite, prefere o Uber, tornando as viagens mais demoradas e caras — o prejuízo semanal é de cerca de R$ 100. No terceiro dia da série “O crime passa pela Brasil”, o EXTRA mostra o medo constante daqueles que, no transporte público, cruzam a via todos os dias.
Na primeira ocasião em que ficou diante dos bandidos, Bruna presenciou até uma troca de tiros dentro do ônibus. Era noite de 21 de novembro e ela retornava do trabalho. Ainda na Ponte Rio-Niterói, dois jovens anunciaram o roubo e ordenaram que o motorista seguisse direto até o Complexo da Maré, sem parar em nenhum ponto.
Já próximo ao conjunto de favelas, um PM do 22º BPM (Maré) estranhou a movimentação e, após um primeiro disparo no pneu do veículo, embarcou no coletivo. Um dos assaltantes reagiu, dando início ao confronto. O criminoso acabaria morrendo a caminho do hospital, enquanto o comparsa conseguiu fugir.
Por alguns dias, Bruna fugiu da linha 760D (Charitas/Galeão), que liga a Zona Sul de Niterói ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, trajeto que atrai ainda mais os assaltantes. Pouco depois de retomar a rotina, em 19 de dezembro, a cena se repetiu. Bandidos embarcaram no mesmo ônibus, e desceram na mesma altura, perto da Maré. Dessa vez, sem intervenção policial, a bolsa com celular, carteira e outros pertences não foi recuperada.
— Na Brasil eu não passo nunca mais — resume ela.
Empresa foi alvo 21 vezes
Uma única empresa, a Viação Mauá, aparece 21 vezes como “lesada” nos registros analisados pelo EXTRA, referentes ao último trimestre do ano passado. Nos ônibus da companhia de São Gonçalo, que opera cinco linhas intermunicipais que passam pela Avenida Brasil, a média é de um assalto a cada quatro dias, aproximadamente.
Os roubos em coletivos que circulam entre cidades distintas são uma constante na via expressa, por sua característica como principal entrada e saída do Rio. Além das linhas que ligam o município a Niterói e São Gonçalo, até ônibus com destinos não tão óbvios, como Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, figuram entre os atacados.
Foi o que ocorreu em 9 de novembro, em um veículo da linha 444 (Central/Cabuçu). Armado, o assaltante embarcou em Guadalupe, na Brasil, e desceu em Realengo, ainda na via. Ele fez a limpa entre os passageiros e levou até R$ 100 da empresa Expresso Real Rio, que estavam em posse do motorista.
“Eu pensei assim: ‘Devo estar ficando neurótica’”
Depoimento de Bruna (nome fictício), analista financeira de 35 anos, moradora de Ramos
“Na segunda vez em que meu ônibus foi roubado, quando vi o trio subindo no mesmo ponto, fiquei desconfiada. Mas pensei assim: “Que nada, devo estar neurótica”, porque essa violência deixa a gente meio pirado. Só que não deu outra, né. Acabei ficando traumatizada.”
Fonte: Extra