A crise econômica interna, com inflação elevada e alta taxa de juros, não impediu a parcela privilegiada da população brasileira de retomar o hábito de viajar para o exterior. Isso é comprovado pelo aumento no número de passaportes expedidos pela Polícia Federal no ano passado, 2,3 milhões, quase o dobro dos documentos emitidos em 2021 pelo órgão, 1,2 milhão.
Esse resultado seria ainda melhor se a corporação não tivesse sido obrigada a suspender o atendimento de novos pedidos, entre novembro e dezembro do ano passado, por alegar falta de recursos para a confecção dos passaportes.
Nos últimos dois anos, o interesse em renovar ou fazer a primeira via do passaporte aumentou de maneira proporcional ao afrouxamento das medidas restritivas relacionadas ao risco de contágio pelo coronavírus. Em março de 2020, quando foi decretada a pandemia, os postos responsáveis pela emissão desse documento suspenderam o atendimento ao público, assim como grande parte dos órgãos públicos do país.
Outras empresas ligadas ao turismo, como hotéis e pousadas, agências de viagem, companhias aéreas e de transporte rodoviário, restaurantes, locação de automóveis, catering, bufês e demais serviços de comida preparada ficaram praticamente paradas.
No acumulado do ano, o total das atividades turísticas caiu 36,7% frente a igual período de 2019, segundo dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em janeiro do ano passado.
Em 2020, a Polícia Federal emitiu 1,030 milhão de passaportes, quase um terço da quantidade de documentos expedidos no ano anterior: 2,9 milhões, resultado acima da média dos demais anos.
Em dezembro de 2020, o volume de atividades turísticas no Brasil, medido pela PMS, registrou índice negativo pelo décimo mês consecutivo, de 29,9%, na comparação com o mesmo mês de 2019. O desempenho foi puxado, principalmente, pela queda na receita das empresas que atuam no setor.
Com o avanço da vacinação e a retomada gradual das atividades, o setor de turismo cresceu 21,1% no acumulado de 2021. Só em dezembro, a alta foi de 3,5% frente ao mês anterior, a sétima taxa positiva em oito meses, o que representa um ganho acumulado de 66,7% no período. Mesmo assim, informou o IBGE, o segmento de turismo ainda se encontrava 11,4% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.
No ano passado, de janeiro a novembro, o agregado especial de atividades turísticas cresceu 32%, impulsionado pelos aumentos de receita nos ramos de transporte aéreo de passageiros, restaurantes, hotéis, locação de automóveis, transporte rodoviário coletivo de passageiros e serviços de bufê. Os dados são da PMS divulgada pelo IBGE em 12 de janeiro.
A pesquisa mostra que, no acumulado do ano, o transporte de passageiros teve expansão de 31,3% frente a igual período de 2021, enquanto o de cargas avançou 15,2%. O segmento de turismo ainda está 2,5% abaixo do patamar de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e 9,6% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.
“O turismo foi uma das atividades que mais sofreram com a pandemia. Por isso, temos o compromisso de fortalecer o setor, trabalhando pela promoção dos nossos destinos, pela melhoria do ambiente de negócios e pelo fomento ao empreendedorismo e à geração de empregos”, falou a ministra do Turismo, Daniela Carneiro.
Levantamento feito pela Alagev (Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas) mostra que as viagens corporativas cresceram 90% entre janeiro e novembro de 2022 em relação ao ano anterior.
O faturamento do setor com viagens corporativas já recuperou o patamar pé-pandemia, de acordo com dados da Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas): foi movimentado R$ 1,06 bilhão em novembro de 2022, ante R$ 967 milhões no mesmo mês de 2019.
“Hoje, seis a cada dez assentos no avião são ocupados por quem está em uma viagem corporativa. Esses profissionais que viajam a trabalho e para eventos empresariais circulam por destinos diversos ao longo de todo o ano e têm um tíquete médio maior, tanto no gasto com hospedagem quanto com alimentação”, diz Luiz Moura, conselheiro de turismo da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) e diretor de negócios da Voll, agência de viagens corporativas.
Segundo Moura, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) contabilizou, no ano passado, o volume de passageiros em voos desde de 2020. Foram 82,2 milhões no mercado nacional, um aumento de 31,4% em relação a 2021 e de 81,8% frente a 2020. Nos voos internacionais, houve 15,6 milhões de passageiros, alta de 226% sobre 2021.
Os gastos dos turistas nas viagens também aumentaram. Entre junho e agosto de 2022, as compras em lojas e comércios pagos com cartões com a bandeira Visa ficaram 13% acima das do mesmo período de 2019, informa a empresa de crédito. Os gastos dos turistas internacionais em outras categorias, como hotéis, restaurantes e entretenimento, foi maior e registrou um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2019.
O Banco Central do Brasil calcula que visitantes estrangeiros deixaram 4,952 bilhões de dólares no Brasil em 2022, montante que representa um crescimento de 68% em relação ao ano anterior, quando foram contabilizados 2,947 bilhões de dólares, o que demonstra, segundo a instituição, a recuperação do setor. Isso também mostra que houve alta de 62,6% em comparação ao ano de 2020, quando teve início a pandemia de Covid-19.
Os números refletem o aumento na circulação de turistas no Brasil. Dados da Polícia Federal, consolidados pelo Ministério do Turismo e pela Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), mostram que, de janeiro a novembro de 2022, mais de 3,1 milhões de turistas entraram no país. Nos dois anos anteriores, 2020 e 2021, ainda sob o impacto da pandemia, o Brasil recebeu 2,9 milhões de visitantes de outras nações.
A OMT (Organização Mundial de Turismo) estima que o turismo vai movimentar, em todo o mundo, algo entre 80% e 95% dos níveis registrados antes da pandemia da Covid-19.
No Brasil, o setor pode ter um resultado ainda melhor: “Em um ano com nove feriados em dias úteis, mais pessoas vão querer embarcar em avião e se hospedar em hotéis e pousadas a lazer. É preciso planejamento, porque os preços podem subir para todos, e economizar vai fazer a diferença”, afirma o conselheiro da FecomercioSP.
A expectativa é de uma consolidação da retomada do turismo ao longo do ano. A FecomercioSP projeta um faturamento 53,6% maior em 2023 na comparação com o do ano passado. “Os dados são animadores. Turistas e gestores de viagens corporativas já encontram, na prática, desafios para fazer reservas para datas específicas, e isso tem impulsionado ainda mais a procura por suporte profissional no planejamento das viagens”, diz Moura
A projeção de crescimento inclui todos os segmentos. Para o primeiro trimestre, o FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), por exemplo, estima aumento superior a 20% na taxa de ocupação e no custo médio da diária. A partir de abril, o crescimento deve oscilar de 5% a 15%.
Para a ministra do Turismo, 2023 promete ser um dos melhores anos para o setor, com a atração de mais turistas estrangeiros para destinos nacionais. “Como já disse o presidente Lula, os argentinos estão retornando ao nosso país, assim como os uruguaios e turistas dos países vizinhos. Vamos trabalhar para que mais turistas, incluindo de mercados mais distantes, possam retornar”, destacou Daniela.
Uma das datas de maior faturamento do turismo nacional, o Carnaval deverá movimentar pouco mais de R$ 8 bilhões neste ano, conforme projeção da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que considera os ganhos de diferentes negócios, como hotéis, restaurantes e bares.
A estimativa supera os resultados de 2022, de R$ 6,45 bilhões, que foi 24% inferior aos valores movimentados em 2020. Mesmo assim, a alta não deve ser suficiente para recuperar o nível de faturamento da folia pré-pandemia.
Só no segmento de bares e restaurantes devem circular R$ 3,63 bilhões, segundo a CNC. Para a entidade, também vão se destacar neste período as empresas de transporte de passageiros, cuja projeção de faturamento é de R$ 2,35 bilhões, e os serviços de hospedagem em hotéis e pousadas, que devem movimentar R$ 890 milhões.
*Com informações do R7