Se você acompanha moda regularmente, prepare-se para ouvir e muito falar de um novo nome que passa a encabeçar o núcleo de moda de uma das coleções mais importantes do circuito no Brasil, a do Museu de Arte de São Paulo: Hanayrá Negreiros. Depois de terem passado pelo cargo profissionais mais mainstream do mercado, a direção do museu optou por um perfil mais acadêmico e menos fashionista, buscando outros ares para a coleção.
“Eu me formei em Negócios da Moda, mas migrei para pesquisa, cambiando mais para esse lugar acadêmico”, diz Hanayrá, que somou à formação um mestrado em Ciência da Religião pela PUC-SP. “Fiquei encantada em pesquisar memórias negras de candomblé e a importância da indumentária nessa religião, na liturgia.”
Neta de um alfaiate, por parte de pai, e de uma costureira, por parte de mãe, mistura de maranhense e paulistas da região cafeeira do Estado, Hanayrá escolheu as salas de aula para atuar. Foi via cursos, aliás, que começou o namoro com o mais emblemático dos museus brasileiros, projetado por Lina Bo Bardi. “Fiquei superfeliz com o convite do Adriano (Pedrosa, diretor artístico do museu), porque entendi como um reconhecimento do meu trabalho. Desde 2018, ministro cursos no Masp.”
Conversa que desemboca em outra, a da moda inserida num contexto museológico – vale lembrar que no Masp esse encontro ocorre desde os anos 60, com o Masp Rhodia, e segue agora com o Masp Renner. “Sempre fui muito fã de museu, de pensar o vestir neste espaço; costurar antropologia, história, música; o vestir das grandes divas do jazz. Pensar além do capitalismo, moda como cultura, como memórias de família, pensar além da passarela.”
Ampliando a visão
A visão mais acadêmica vem acompanhada pelo frescor que ela traz à instituição e à própria moda: Hanayrá tem 29 anos e olhar voltado para a diversidade. “Quando cursei a faculdade, entre 2010 e 2013, ainda não tinha tanta abertura para estéticas negras, indígenas”, conta.
“Essas modas, esses corpos negros, ficaram à margem da sociedade, mas não podemos deixar de lembrar que mulheres negras sempre trabalharam essa questão do vestir, costuraram para marcas de moda. Sempre estiveram ali, mesmo que fosse em posições subalternas. É incontornável agora a gente pensar também sobre a presença negra em posições de poder em todas as áreas.”
Sem revelar quem fará parte da sua lista como curadora adjunta, solta pistas aqui e ali do que poderemos ver, expondo uma lista eclética: a cantora Zezé Motta, a modelo Alek Wek, Clementina de Jesus, a historiadora Beatriz Nascimento, a escritora Gilda de Mello e Souza e sua avó Thereza.
“Penso numa continuidade do trabalho desenvolvido, mas minha gestão também traz novos olhares que partem da minha experiência acadêmica e das minhas vivências como mulher negra brasileira.” Resultado a checar em 2022/2023, período em que a exposição Masp Renner deve ser aberta ao público.
*Por Renata Piza/Estadão