Se em outubro de 2020 nenhum estado estava com os hospitais em alerta crítico e a situação parecia controlada, cinco meses depois, 26 das 27 unidades federativas do Brasil estão com taxa de ocupação dos leitos de UTI para covid-19 acima de 80%, de acordo com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Além disso, o Brasil registrou ontem 2.648 mortes pelo novo coronavírus em apenas 24 horas – é o segundo dia seguido perto dos 3 mil.
Diante dos dados, o boletim extraordinário da Fiocruz aponta a situação como o “maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”. Segundo pesquisadores da fundação, a melhor saída possível para conter a pandemia é aumentar as medidas restritivas em todo o país, como um lockdown.
Em entrevista à BandNews FM, o infectologista da Fiocruz Julio Croda afirmou que o lockdown é necessário porque “o país está de pés e mãos atadas” em relação à abertura de leitos. “O Brasil entrou em colapso e sem a perspectiva de melhora. Não há fornecedor de material, não há equipe médica suficiente, não há logística para transportar oxigênio para a abertura de novos leitos de UTI”, disse.
Segundo o pesquisador, diante deste cenário, somente o distanciamento social pode barrar “este momento trágico”. “Só nos resta medidas preventivas, tanto as individuais, quanto as coletivas, como um lockdown mais amplo em todo o país, pelo menos nas grandes capitais”, avaliou Croda.
Para além das ações que devem ser tomadas neste momento, o infectologista também elencou as causas que levaram o Brasil ao maior colapso hospitalar da história. “Chegamos nesta situação muito pela dificuldade de ter uma organização no combate à pandemia baseada na ciência e no que os organismos internacionais recomendaram desde o início da circulação do vírus.”
Para a pesquisadora em saúde da Fiocruz Margareth Portela, “não houve de fato uma coordenação nacional em mais de um ano de pandemia”. Além disso, ela avalia que o lockdown é necessário porque o governo federal falhou no processo de aquisição de imunizantes.
“Eu sou uma pessoa muito otimista em relação à vacina e somente ela pode nos tirar da pandemia. Mas as vacinas deveriam ter sido negociadas e compradas pelo governo no ano passado, logo no começo da pandemia, e não agora”, afirmou.
Em meio ao colapso da saúde, a previsão dos pesquisadores não é animadora: sem as medidas necessárias, o Brasil pode registrar mais de 3 mil óbitos em 24 horas nos próximos dias.
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