A prefeitura de Botucatu (SP) decidiu aplicar a 4ª dose da vacina contra a covid-19 a partir desde o último domingo, 6, no grupo com 70 anos ou mais. A 4ª injeção já é permitida nacionalmente, desde 21 de dezembro, só para imunossuprimidos, como transplantados e pacientes de câncer. A decisão da cidade paulista foi tomada após a alta de internações do grupo mais velho em Botucatu.
O governo de São Paulo também avalia aplicar a 4ª dose da vacina contra a covid-19 em toda a população do Estado, segundo disse no sábado, 6, a coordenadora do programa paulista de imunização, Regiane de Paula. “Estamos avaliando a 4ª dose para a população, mas antes precisamos terminar a 3ª dose de todos os elegíveis”, afirmou.
“Aguardamos também o Ministério da Saúde, […]mas nós, muitas vezes, vamos além do ministério. Trabalhamos para que a população receba a vacina em tempo oportuno”, disse ela, que não deu mais detalhes e ressaltou o foco agora na 2ª e na 3ª dose.
Botucatu, no ano passado, vacinou toda a população ao mesmo tempo na experiência de proteção em massa com a AstraZeneca. Lá, portanto, os idosos tomaram as doses há mais tempo e foi considerado na decisão local o risco de queda de proteção das vacinas.
Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do comitê que assessora a prefeitura, o infectologista Alexandre Naime Barbosa diz que a decisão de autorizar a 4ª dose para o grupo de 60 anos ou mais se deve à alta, a partir de dezembro, de idosos hospitalizados que tomaram as 3 doses. Conforme a gestão municipal de Botucatu, entre 60% e 70% dos internados são idosos com mais de 70 anos que já haviam tomado as três doses há cerca de quatro meses.
O aumento também coincide com a chegada da Ômicron ao Brasil. A nova variante do coronavírus é mais contagiosa e fez explodir o número de mortes. Agora a cepa faz subir a quantidade de internados e mortos pela doença.
Neste domingo, eram elegíveis ao novo reforço entre 3 mil e 4 mil idosos: 2.710 compareceram e receberam a vacina da Pfizer. “Conseguimos passar a mensagem para a população”, avalia o secretário municipal de Saúde, André Spadaro. Idosos em casas de repouso já foram imunizados novamente e a prefeitura deve estenderem breve para a faixa entre 60 e 69 anos.
“Naturalmente, idosos já têm uma condição de perder essa carga protetiva das vacinas.” Mas ele pondera: “Botucatu é um ponto fora da curva, por já ter 92% da população com o reforço. O que se faz no município não necessariamente é o que será feito no País. O principal foco do Brasil hoje é a D3 e a D2, mas aqui já passamos dessa fase.”
Volta Redonda (RJ) também optou por estratégia similar na última sexta, após notar aumento de mortes de idosos. “Os idosos, em geral, têm o processo imunológico comprometido, o que reduz a imunidade natural devido à idade avançada. A produção das células de defesa é inferior no comparativo com um organismo mais jovem. Outro fator muito significativo são as doenças crônicas (comorbidades)”, disse o médico sanitarista Carlos Vasconcellos, coordenador da Vigilância em Saúde do município fluminense, em comunicado sobre a decisão.
Sem consenso
A 4ª dose para além do grupo de imunossuprimidos já ocorre em Israel e no Chile, mas não há consenso científico. Em Israel, é dada para pessoas acima dos 60 anos e profissionais de saúde, além dos imunossuprimidos. Já no Chile, acima de 55 anos.
Diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas e Alérgicas (EUA), Anthony Fauci declarou a uma rádio no fim de dezembro que era precoce falar em nova dose. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em janeiro, disse ainda não haver evidência científica da necessidade disso para todos.
“Até agora, não há evidência de que precise da 4ª dose. Mas é uma avaliação constante. Se observarmos que a 3ª não está sendo suficiente, está perdendo a proteção, certamente a 4ª será indicada”, afirma Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. / COLABORARAM FERNANDA NUNES EVERTON SYLVESTRE, ESPECIAL PARA O ESTADÃO