O estado da Geórgia, no sul dos Estados Unidos, se tornou um dos centros de atenção de eleitores e do mercado nas eleições presidenciais em novembro, com o democrata Joe Biden vencendo o republicano Donald Trump em uma disputa bem apertada e que ajudou a definir o resultado final.
Porém, a corrida pelo Senado ganhou outra proporção exatamente por conta desse estado, que ganhou um raro segundo turno marcado para esta terça-feira (5). E o resultado tem poder para impactar toda a estrutura do futuro governo Biden.
Isso porque até a eleição, o democratas tinham a maioria da Câmara do Representantes (similar à Câmara dos Deputados no Brasil), enquanto o Senado era comandado pelos republicanos. Essa divisão entre as Casas é importante porque traz ponderação para o governo, já que um presidente não terá facilidade de passar qualquer projeto que quiser.
Com o resultado do pleito, o Senado ficou dividido em 50 cadeiras para os republicanos, 46 para os democratas, dois independentes (que costumam votar com os democratas) e duas cadeiras vagas a serem definidas pelo segundo turno da Geórgia.
Se os democratas conseguirem vencer as duas cadeiras em disputa nesta terça, irão empatar com os republicanos no controle do Senado. Nos EUA, porém, quem decide as votações na Casa em casos de empate é o vice-presidente, que agora será Kamala Harris, deixando os democratas com o poder de decisão.
Após sua vitória, Biden decidiu também entrar na campanha para ajudar seu partido a ganhar essa disputa na Geórgia, o que tem elevado as chances de realmente os republicanos perderem o controle do Senado.
Para piorar, no último fim de semana, o caso envolvendo um áudio em que o presidente Donald Trump pede para que o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, “encontre 11.780 votos” a favor dele, virou mais um peso contra os republicanos.
Desde antes de Biden ser declarado vencedor da eleição, em 7 de novembro, Trump tem alegado que ocorreram diversas fraudes em vários estados americanos, mas até o momento nenhuma delas foi comprovada pela Justiça. Na conversa, publicada pelo Washington Post, Raffensperger rebate o presidente diversas vezes dizendo que os números em seu estado estão corretos.
Confira o que está em jogo na eleição para o Senado na Geórgia:
Por que ocorreu um 2º turno e quem está disputando?
As regras eleitorais nos EUA são de responsabilidade dos estados e na Geórgia é estipulado que um candidato precisa de 50% dos votos para vencer a disputa. Neste pleito, duas cadeiras estão em disputa e em nenhum dos casos houve alguém que atingiu esse percentual.
Em ambos os casos o cenário é de um republicano tentando a reeleição e um democrata como adversário. A primeira é do senador David Perdue contra Jon Ossoff, enquanto a segunda vaga é disputada pela senadora Kelly Loeffler contra o Reverendo Raphael Warnock.
Por que essa disputa é tão importante?
O Senado é controlado pelos republicanos desde 2014. Comandar a chamada câmara alta do Congresso é muito importante porque ela é decisiva para a aprovação de leis, nomeações de integrantes do governo e até da escolha de integrantes do Supremo Tribunal do país.
Se os democratas vencerem na Geórgia, as duas cadeiras extras darão a eles controle efetivo. Na teoria, existem atualmente 46 democratas e dois senadores independentes – Bernie Sanders e Angus King – mas eles normalmente votam com os democratas.
Portanto, em um empate de 50 a 50, a vice-presidente democrata Kamala Harris teria o voto decisivo, dando a vantagem para seu partido. Caso os republicanos consigam manter o controle do Senado, quem fica no comando é o líder da maioria, Mitch McConnell.
Como o resultado impacta o mercado?
Como destaca a equipe da XP Política em relatório, um Congresso dividido dificultaria o andamento de pautas mais arrojadas do Executivo. “Em vista disso, mercados tendem a se favorecer com uma vitória republicana no Senado”, apontam os analistas lembrando que democratas têm maioria na Câmara.
“De todo modo, ressaltamos que mesmo na hipótese de uma maioria democrata, o governo Biden deve enfrentar dificuldades para aprovar propostas mais polêmicas diante do fato de uma parcela relevante de senadores, mesmo sendo democratas, figurarem como representantes de estados onde eleitores conservadores têm maior peso”, explicam. “Esse cenário torna mais provável o voto contrário a propostas de certos temas, como regulações ambientais e revisão de impostos”, .
Quem está na frente na disputa?
Um democrata não vence uma corrida para o Senado na Geórgia há décadas, o que torna essa eleição historicamente difícil para eles. Além disso, os dois republicanos ficaram na frente no primeiro turno, em novembro.
Por outro lado, Biden venceu a disputa presidencial no estado fazendo uma campanha voltada para os afro-americanos, que segundo o Censo de 2019 representam cerca de 32% da população da Geórgia.
As pesquisas mostram uma disputa acirrada nas duas corridas, mas analistas têm destacado o fato de os levantamentos não terem muita qualidade, deixando o pleito ainda mais incerto.
A votação começou de forma antecipada há algumas semanas e terminou no dia 1 de janeiro, período em que houve um recorde de 3 milhões de votos, o que equivale a 38,8% de todos os eleitores registrados no estado. O pleito presencial ocorre nesta terça-feira (5).
O vazamento do áudio de Trump pode impactar o resultado?
Não se sabe qual será o real impacto desse vazamento, mas já é possível ver uma mudança no humor, mesmo com as preocupações com a qualidade das pesquisas.
Segundo o agregador Five Thirty Eight, o democrata Jon Ossoff tem vantagem de 1,4 ponto percentual em uma das disputas o democrata Raphael Warnock está 2 pontos à frente na outra.
Na mesma linha, Ossoff passou a liderar a disputa, com 0,54 de chance de vitória, contra 0,44 no dia 31 de dezembro. Ou seja, os dois candidatos democratas estariam hoje na liderança, segundo as apostas.
Apesar disso, a equipe da XP reforça que a Geórgia é um estado tradicionalmente republicano que, até 2020, não havia votado por um candidato democrata à presidente desde Bill Clinton em 1992. No ano passado, Biden venceu no estado por apenas 0,2%, ou 12.670 votos.
“Os conservadores têm um peso relevante na composição do eleitorado estadual e, por isso, uma vitória nas duas disputas não será nada fácil para os democratas”, conclui a XP.