Quem anda pelo centro de grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, certamente, já esbarrou em patinetes elétricos, verdes ou amarelos, aparentemente largados pelas esquinas ou calçadas. A alternativa de transporte surgiu de forma discreta, levantando a curiosidade do brasileiro e, aos poucos, começou a cair no gosto popular, transformando-se em “febre”. Desde a chegada do serviço de aluguel desses equipamentos, é comum ver pessoas circulando rapidamente entre os pedestres ou mesmo entre os carros em pequenos patinetes elétricos.
Na avaliação de especialistas ouvidos, a nova opção traz vantagens para a mobilidade de grandes cidades. Entretanto, é necessário que o Poder Público regulamente o uso do equipamento para que haja regras que garantam a segurança de usuários, motoristas e pedestres.
Professor do Programa de Engenharia de Transporte do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronaldo Balassiano defende o aumento no número de opções de transporte, sobretudo nos locais onde os carros são os grandes poluidores.
“Do ponto de vista de se locomover em distâncias pequenas, entre 5 km ou 6 km, nas redondezas de casa ou do trabalho, o patinete traz uma contribuição boa para a mobilidade urbana. O grande problema é que as nossas autoridades, responsáveis por regular esses modos, continuam na idade da pedra. O patinete já vem sendo usado nos Estados Unidos e na Europa há alguns anos. Por que nós não nos preparamos para um mínimo de regulamentação?”, questionou.
Os equipamentos, alimentados por uma bateria, podem chegar a uma velocidade máxima de 20 km por hora, tornando difícil frear ou mesmo desviar de um obstáculo a tempo de evitar uma queda ou colisão.
Especialista em mobilidade, Balassiano destacou que a regulamentação do Poder Público trará mais segurança.
Segundo ele, não se trata de “engessar” o modo de transporte, mas evitar acidentes, uma vez que os patinetes alcançam velocidades muito altas para serem usados nas calçadas. “Se atropelar um idoso, uma criança ou uma gestante, a chance de acontecer um acidente grave é muito alta. Por outro lado, nas ruas, a gente sabe que os carros e os ônibus não respeitam nem as bicicletas, o que dirá os patinetes”, advertiu Balassiano.
Na avaliação dele, o ideal é que os patinetes trafeguem em ciclovias ou ciclofaixas, juntamente com as bicicletas.
“O que precisamos é algum tipo de norma para esse veículo, para não causar acidentes com terceiros ou mesmo com os usuários. O mais razoável seria trafegarem, junto com as bicicletas, em faixas específicas e ciclovias. Mas não é isso que acontece”, lamenta o professor.
“Na França, para alugar um patinete, é preciso ter uma carteira de motorista, colocando um veículo que vai ter uma certa velocidade nas mãos de quem já tem alguma ideia de como dirigir”, completou o especialista, sugerindo o desenvolvimento de uma grande campanha conjunta, entre o Poder Público e as empresas, de conscientização dos usuários.
Mobilidade e segurança
Com quase 50 anos de profissão, o taxista Augusto César dos Santos diz que falta respeito por parte das pessoas que andam de patinete no centro do Rio de Janeiro. Eles se misturam ao pesado trânsito urbano das vias centrais, ziguezagueando entre carros e ônibus.
“Eles andam na contramão, não respeitam a legislação, é uma coisa horrível. Eu já tive diversos problemas de quase atropelar, pela imprudência e imperícia deles, principalmente aqui no centro. Tem que se tomar uma atitude, pois isso pode virar morte a qualquer momento”, reclamou o taxista.
Consciente dos riscos e dos benefícios do patinete, a atuária Samara Alce que trabalha no Centro do Rio diz que usa o modal para se deslocar com mais rapidez pelas ruas, mas tem cuidado com a velocidade e não trafega entre os carros.
“Eu tenho muito cuidado para usar o patinete. Quem sabe usar bem, sabe qual o objetivo do patinete, não vai se meter em acidente. Só se envolve em acidente quem quer se arriscar”, disse Samara, que já utilizou quatro vezes o meio de transporte, mas sente falta de que seja oferecido capacete aos usuários.
Para o estudante de direito Igor Santos, o patinete é seguro, desde que se preste atenção ao terreno e se tenha o mínimo de habilidade. Ele costuma usar o equipamento para integrar o transporte de barcas, na Praça 15, com as estações de metrô na Avenida Rio Branco. “É tranquilo. Eu pego daqui para a barca ou de lá para o metrô. É mais rápido”, disse enquanto desbloqueava o equipamento – procedimento padrão feito com o telefone celular, após um cadastramento prévio de dados, incluindo um número de cartão de crédito, para debitar o valor do uso.
“Eu vi um dia desses na rua e me perguntei porque uma pessoa deixava um patinete ali. Depois ela me falou que existia o aplicativo e hoje viemos experimentar. Vamos fazer uma experiência”, disse Rodrigo.
Usuário do serviço desde que ele começou na capital, o ex-servidor do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) Leonardo Dias disse que a opção pelo patinete para lazer e pequenos deslocamento na cidade coincidiu com o aumento no preço dos combustíveis.
“Eu tenho um carro que consome muito e o patinete serviu nessas horas justamente pela economicidade e praticidade. Todo mundo fala sobre o perigo de se andar no patinete, mas é muito tranquilo. Agora mesmo rodei quase cinco quilômetros e deu R$ 12. Pela economia, eu indico”, afirmou Leonardo, ressaltando a limitação dos patinetes para percorrer grandes distâncias em razão da pouca autonomia de bateria.
Em entrevista, ele afirmou não ter vivenciado problemas ao se deslocar de patinete para trabalhar, mas ressaltou que os motoristas ainda não veem a alternativa como meio de transporte, mas como equipamento de lazer.
O ex-servidor público disse ainda que, mesmo utilizando os patinetes para se deslocar na cidade, não acredita na necessidade de regulamentação do serviço. “As bikes vieram, mas logo depois vieram os patinetes e tomaram conta. Muita gente, querendo ou não, está optando pelo patinete quando o deslocamento é muito próximo. Mas como o serviço é novo, não acho ainda necessária uma regulamentação”, afirmou.
Fonte: Agência Brasil