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A turnê de Taylor Swift pelo Brasil, encerrada neste domingo em São Paulo, foi para múltiplas gerações de fãs a primeira oportunidade de ver a cantora ao vivo e a cores. Outros, porém, se adiantaram por temer que este dia nunca chegasse ou fugir de uma venda de ingressos disputada e marcada por conflitos com cambistas.

É o caso da assistente de mídias sociais Giuliana Maestrini, de 24 anos, fã de Taylor Swift desde 2008. Em 2018, ela pagou US$ 500 no ingresso para ver a “loirinha”, como a cantora é chamada, em Los Angeles, nos Estados Unidos. Gastou ainda R$ 2.000 de passagem, comemorando não ter tido gastos com estadia, pois se hospedou na casa de amigos.

“Ela demorou para vir para o Brasil, e nesse receio eu decidi viajar para vê-la”, conta, sobre um sonho que se realizou depois de uma tragédia. “Sempre pedi para os meus pais que viajássemos para vê-la. Meu pai disse que não tinha dinheiro, mas que iria fazer de tudo para que eu fosse.”

Em 2015, o pai de Maestrini morreu. Ao receber o seguro de vida, ela guardou o dinheiro até que Swift anunciasse uma turnê, o que aconteceu três anos depois. “Meu pai me ajudou a realizar esse sonho, sem saber.”

Antes que a passagem pelo Brasil de “The Eras Tour” fosse anunciada, Maestrini se antecipou e comprou o ingresso para ver novamente a cantora em Los Angeles. O preço foi semelhante ao de cinco anos atrás, mas desta vez a passagem saiu por R$ 4.700.

Se ela soubesse que Swift se apresentaria em São Paulo, onde mora, viajaria mesmo assim. “A gente trabalha tanto no dia a dia e gosta de ter um lazer. Toda vez que viajo para ver a Taylor, aproveito para tirar férias e fazer turismo.”

Maestrini não é a única. Ela integra um movimento expressivo de pessoas que decidem viajar para ver seus artistas preferidos fora do Brasil.

Markinhos Fagundes, publicitário de 53 anos, se considera um “aficionado por show e festival”, obsessão que descobriu em 2010, quando viajou para ir ao festival Coachella, nos Estados Unidos. “Descobri que o que mais gosto na vida é viajar para ver shows. Comecei a fazer minhas férias em função disso. Cheguei a comemorar meus 40 anos no Lollapalooza de Chicago.”

Recentemente, Fagundes viu Madonna em Lisboa, em Portugal. Ele foi o brasileiro que gritou “gostosa!” para a rainha do pop, que agradeceu a interlocução no microfone em um vídeo que viralizou nas redes sociais.

Com 13 anos de experiência, Fagundes diz que grandes figuras do pop demoram para aterrizar em solo brasileiro e, no caso de Madonna, que completou 65 anos e enfrentou uma infecção grave em junho, ele não queria perder tempo.

Os preços dos ingressos, apesar de altos, são mais baratos do que no Brasil, diz ele. “Aqui é sempre muito caro. Fui para o Primavera Sound em Barcelona, no ano passado, e era mais barato do que o daqui. E o lineup lá fora é mais legal”, diz.

O mesmo vale para shows de grandes artistas, acrescenta, mas inflação nos últimos anos piorou as cifras. “Antes, para ir ao Coachella, com um pacote com tudo incluso e ficando em um resort, eu gastava R$ 10 mil. Hoje sai mais do que R$ 25 mil”, conta Fagundes.

Para Rodrigo Rovaroto, de 25 anos, o show de Beyoncé que assistiu na Alemanha em junho deste ano foi o seu primeiro internacional. “Fui com a minha família para Paris, para realizar o sonho da primeira viagem à Europa. Depois, fui sozinho para a Alemanha só para ver o show”, relata.

Fã de Beyoncé desde pequeno, ele conta que não conseguiu ver a estrela do pop em suas passagens pelo Brasil, em 2010 e 2013, por questões financeiras.

Gisele Jordão, especialista em economia da cultura na Escola Superior de Propaganda e Marketing e líder do Panorama Setorial da Cultura Brasileira, pesquisa nacional que monitora as práticas do consumo na indústria do entretenimento, afirma que o preço não tem freado o consumo de cultura por parte dos brasileiros.

“Se a atração está de acordo com a intenção da pessoa, o preço será só um critério impeditivo, mas não um critério de decisão”, diz. Jordão dá como exemplo os shows sertanejos. “O preço [do ingresso] pode equivaler a um quarto do salário familiar da classe C e, ainda assim, as pessoas da classe C compram o tíquete, gastando o salário do mês inteiro.”

Ir a shows, segundo a especialista, é uma atividade mais relacionada à autorrealização, motivo pelo qual não atende a uma lógica econômica racional em relação ao que é considerado caro ou barato. “A realização pessoal está acima da questão econômica, e isso vale para qualquer produto de entretenimento e arte”, ela diz.

A pesquisa ajuda a explicar como os ingressos para os shows de Swift em São Paulo se esgotaram no mesmo dia em que as vendas foram anunciadas.

O fenômeno, para Jordão, está ligado a uma sociedade pautada pelo consumo, o que é potencializado pelas redes sociais. “As pessoas estão nos shows para se considerarem pertencentes a um grupo. Elas sentem que não podem estar de fora de grandes movimentações.”

Por FOLHAPRESS