O castelo com mais de 100 quartos construído pelo cantor sertanejo José Rico em Limeira, no interior de São Paulo, e penhorado por dívidas trabalhistas, está à venda pela metade do preço. Avaliado por R$ 3,2 milhões, o imóvel pode ser comprado, até 12 de setembro próximo, por R$ 1,6 milhão. Esse era o lance mínimo para o leilão judicial, mas nenhum interessado se apresentou.
José Rico foi parceiro de Milionário por cerca de 40 anos, tornando-se uma das duplas sertanejas mais conhecidas do Brasil. O cantor morreu em 2015, aos 68 anos, deixando o castelo inacabado. O próprio cantor dizia que o projeto saiu de sua cabeça e, quando queria acrescentar mais um cômodo, desenhava no papel e entregava ao construtor. O plano era ter um espaço para a família e um estúdio de gravação no imóvel.
Conforme a descrição da empresa leiloeira, o imóvel aparenta estado de abandono, com janelas quebradas e pichações nos muros. A construção foi feita em terreno com declive, ocupando uma parte do terreno de 48 mil metros quadrados. Segundo a Justiça do Trabalho, a área penhorada corresponde a 21,2% do total, já que o restante ainda está em processo de regularização.
A localização da mansão abandonada é um dos seus principais atrativos: fica em uma vicinal pavimentada que liga a rodovia Anhanguera, uma das principais do estado, ao bairro Jaguari, na divisa com Americana. A construção tem fachadas com bordas recortadas em forma de pirâmide que lembram remotamente um castelo.
Em 1996, o sertanejo compôs a canção Castelo, em que dizia ter construído “um castelo bonito para dar de presente à pessoa amada”. A música integra o álbum Saudade, lançado em 1996, quando a construção estava no início.
As obras começaram em 1991 e se arrastaram por mais de 20 anos. Entre as lendas que cercam o castelo, a mais citada é sobre uma cigana que teria dito a José Rico que ele nunca deveria parar de construir sua casa, como aconteceu no filme americano ‘A Maldição da Casa Winchester’, lançado em 2018. No filme, a herdeira da fábrica de armas é assombrada pelas almas dos mortos pelo rifle e se vê compelida a construir uma mansão para afastar os espíritos.
Em 2017, o castelo de José Rico foi alvo de ladrões. Os suspeitos furtaram um disco de ouro, um dos muitos prêmios recebidos pelo cantor, uma Brasília ano 1974, um buggy amarelo, um trailer, um triciclo, violões, sapatos e objetos pessoais do sertanejo. Guardas municipais de Limeira recuperaram os pertences que estavam escondidos no estacionamento e em um apartamento de um residencial.
Ação e penhora
A ação contra José Rico foi movida por um músico que trabalhou com a dupla de 2009 a 2015, ano em que o cantor morreu. No processo, ele relatou ter trabalhado em até 19 shows por mês, sem ter recebido os direitos trabalhistas. Em julho de 2021, o espólio do cantor foi condenado a pagar R$ 6,7 milhões ao reclamante. O valor inclui honorários advocatícios, periciais e custas processuais, além de juros e correção monetária.
Sem que a dívida fosse paga, a 2.a Vara do Trabalho de Americana determinou a penhora da mansão. Além de perder o castelo, o espólio ainda terá de arcar com o restante da dívida, ficando sujeito a penhoras de outros bens do cantor. O sertanejo Milionário também foi acionado, mas fez um acordo de pagamento da dívida, por isso foi excluído do processo.
O escritório Lara Martins Advogados, que moveu a ação trabalhista, informou que o processo já teve julgamento definitivo e está em fase de liquidação (cumprimento da sentença). Procurada, a advogada da família de José Rico, Joani Brumiller, informou que iria consultar uma das herdeiras dele para poder se pronunciar. A reportagem ainda aguarda retorno.
*Por José Maria Tomazela/Estadão