Fazer os funcionários trabalharem apenas quatro dias na semana pode melhorar não só a qualidade de vida da equipe, mas os resultados das empresas? Centenas de companhias vão testar essa iniciativa na Espanha — e parte do dinheiro virá do governo.
Pedro Sanchez, o primeiro ministro espanhol, afirmou que vai investir 50 milhões de euros do orçamento público em um teste nacional para uma jornada de trabalho com 32 horas em quatro dias por semana.
O teste terá duração de três anos. O dinheiro público será usado para manter os mesmos salários aos funcionários, ainda que trabalhem por menos horas. Esse seria um apoio transitório. Após o final dos testes, as empresas deverão sustentar o mesmo salário apesar da redução de jornada.
“Faz 100 anos desde que nós encurtamos nossa jornada de trabalho e chegamos até as oito horas diárias. Continuamos a produzir mais com menos horas de trabalho, mas essa habilidade de produção mais por conta da tecnologia não gerou mais tempo livre para as pessoas”, disse Errejón.
Errejón defende a iniciativa desde antes da pandemia de Covid-19, mas diz que essa crise na economia e na saúde mostrou que é possível ter um ambiente de trabalho mais flexível. “Era algo reservado para poucas companhias inovadoras, que decidiram implementar essa medida por conta própria. Virou agora um debate nacional.”
Jornada reduzida ajuda nos resultados?
O movimento The 4-Day Week Campaign escreveu uma carta endereçada a diversos líderes políticos em novembro – desde o presidente americano Joe Biden até o próprio primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez. Na carta, o movimento pede uma jornada de trabalho menor como resposta para a pandemia.
“Durante crises e recessões econômicas, é uma forma de distribuir a carga horária de maneira mais igualitária entre os desempregados e os sobrecarregados com trabalho”, escreve o The 4-Day Week Campaign. “Menos horas de trabalho não seriam boas apenas para a economia, mas cruciais para melhorar a saúde mental e combater mudanças climáticas. Uma semana de trabalho com quatro dias seria uma mudança crucial no desenho das nossas economias, voltadas então para o bem-estar das pessoas e da natureza.”
Jacinda Ardern, premiê da Nova Zelândia, recomendou em maio deste ano que as empresas do país adotassem o novo regime de trabalho como uma forma aumentar o turismo doméstico e reduzir o estresse crônico causado pela pandemia. O Japão agora está com uma proposta em tramitação para aderir à semana de trabalho com quatro dias – um país conhecido por suas longas jornadas profissionais.
Nessas empresas, o salário é o mesmo apesar de menos horas trabalhadas. Dessa forma, as empresas precisam pagar mais seus funcionários por hora. Os ganhos de produtividade compensam?
A Microsoft reportou resultados positivos no Japão. A filial fechou seus escritórios aos 2.300 funcionários toda sexta-feira durante um mês. As vendas por empregado saltaram 40%. Ao mesmo tempo, os custos com eletricidade foram reduzidos em 23% e a impressão de papéis caiu 59%.
Para Ronaldo Loyola, sócio da área de capital humano da Grant Thornton Brasil, os ganhos em produtividade podem não apenas equiparar as vendas vistas antes redução de jornada, mas também compensar outros custos das empresas.
Um deles é o que chama de “presenteísmo”. “As pessoas estão durante oito horas no escritório, mas produzem no máximo metade desse tempo. O resto da jornada é cheio de desmotivação. Tem quem trabalhe mais horas e acabe sendo menos produtivo. O foco da empresa deve ser em resultado, não em carga horária”, afirmou ao InfoMoney.
Outro custo poupado pelas empresas com a redução de jornada é o de assistência médica. “Essa é uma das linhas mais caras dentro dos custos empresariais, porque o índice de sinistralidade é alto. Os funcionários podem ter problemas físicos e mentais por conta do estresse no trabalho, e diminuir a jornada pode ajudar a combater problemas como ansiedade, estresse e fadiga crônica.”
O maior entrave para a adoção de uma semana de trabalho com quatro dias é a cultura das organizações e dos seus líderes, na visão do especialista.
“Uma jornada menor é uma disrupção e a empresa precisa transformar sua cultura. Mas essa mudança não precisa vir por causa de uma dor, como foi a pandemia forçando o home office”, exemplifica Loyola. “Líderes têm de mudar sua mentalidade e entender que é possível manter uma jornada de quatro dias. Quem exerce muito comando e controle e tem dificuldade de inovar sofrerá mais.”