No último ano escolar é comum surgirem algumas dúvidas para a maioria dos jovens. O período, além de representar o encerramento de um ciclo, ainda é decisivo para acertar a direção da nova fase que se inicia. Entre os principais dilemas para resolver estão as provas finais, a formatura, o vestibular e o maior de todos: a graduação a cursar. E, embora a vocação ainda seja a principal motivação para essa escolha, as tendências do mercado também pesam, inclusive, esse é o fator mais relevante para boa parte dos jovens, de acordo com uma pesquisa da área, realizada pela Companhia de Estágios – assessoria e consultoria especializada em vagas de estágio e trainee.
De olho no futuro, esses estudantes fazem o caminho inverso e observam a expectativa de crescimento profissional e até onde a carreira pode os levar para decidir a melhor formação. Fatores que, até um tempo atrás, tinham grande influência sobre a decisão, como a pressão familiar, hoje, já apresentam um índice muito baixo. Para os especialistas os jovens estão mais independentes e se preocupam em unir o útil ao agradável, ou seja, o prazer à ascensão profissional, nessa fase que representa um marco entre o final da adolescência e o início da vida adulta.
A hora da escolha profissional
Antigamente a escassez de informações sobre os cursos, o difícil acesso ao currículo detalhado e as vagas possibilidades de atuação levavam muitos alunos a escolhas equivocadas. Mas, hoje em dia, esse cenário é bem diferente: as universidades disponibilizam suas grades curriculares e descrevem as profissões e as possíveis carreiras; além disso, sites especializados propõem testes e orientação vocacional, ainda há coaches de carreira e feiras de profissões, isso sem contar que, tanto na internet quanto na mídia impressa, é possível ficar por dentro das principais tendências do mercado de trabalho.
Ou seja, atualmente, há um excesso de informações, cursos e áreas de atuação que, muitas vezes, também acabam gerando dúvidas para os estudantes. Diante disso, o que priorizar? O levantamento revela que, para a maioria as preferências pessoas são o fator que mais pesa na escolha, mas o interesse profissional com base nas projeções do mercado vem ganhando seu espaço entre os aspirantes a uma carreira de sucesso.
Sobre o estudo
De acordo com a pesquisa “O Perfil do candidato a vagas de estágio em 2018”, que contou com a participação de 5.410 estudantes de todas as regiões do Brasil, 61.8% dos participantes afirmam que a escolha do curso superior foi feita com base no critério de vocação, esses alunos revelam que optaram pela formação porque gostam da profissão e desejam exerce-la. Já para 33.1% dos estudantes a decisão foi tomada pensando no mercado de trabalho e ponderando sobre as oportunidades, remuneração, chances de crescimento, etc. A influência familiar foi relevante apenas para 2.3% dos entrevistados e fatores como o custo e a obtenção do diploma registraram, cada um, pouco mais de 1% das respostas.
O que move a decisão
Se fosse a tempos atrás esse resultado poderia ser diferente, isso porque era comum que os filhos seguissem os passos dos pais e ainda herdassem a clientela dos seus negócios. Mas, atualmente, as coisas acontecem de outra forma. Segundo a psicóloga Greta Munhoz a juventude está mais independente e isso se reflete em suas atitudes, especialmente na tomada de decisões: “Essa geração está mais conectada e informada do que a geração dos seus pais, por isso é natural que haja um rompimento desse vínculo. A família influencia cada vez menos nessa escolha profissional porque o estudante quer trabalhar com algo que desperte paixão, como comprova o estudo”.
No entanto, é possível observar que, na corrida pela vaga na universidade, os idealistas também perdem terreno para aqueles que priorizam maior facilidade de inserção no mercado de trabalho e possíveis melhorias de carreira. “Os jovens se guiam até o caminho profissional por três vertentes principais: afinidade, boa remuneração ou maiores chances de sucesso. No primeiro caso estão aqueles que encontraram o curso que mais se identificam, mesmo que signifique salários menos atraentes, já nos outros, a tendência de crescimento de determinado campo de trabalho nos próximos anos tem mais relevância” – explica a especialista.
Segundo Munhoz, poucos levam em conta se têm talento, ou não, para exercer a profissão, fato que, além de gerar maior ansiedade e insegurança na hora da escolha, ainda pode acabar resultando em frustrações a longo prazo. Para uma escolha mais assertiva a psicóloga dá a dica: “É preciso que o aluno faça um levantamento sobre o seu universo de interesses e limpe o terreno para deixar vir o que lhe é natural e compatível com sua personalidade. É possível cruzar as habilidades com as atividades que mais gosta de realizar e defrontar com as oportunidades do mercado”.
Construção de carreira
De acordo com Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios, para atenuar o peso dessa escolha o jovem deve encarar o ensino superior apenas como ponto de partida e, a partir daí procurar investir constantemente na formação: “Para aumentar as chances de sucesso e evitar uma decisão prematura sobre rumos da vida profissional é necessário que não haja uma imposição de limites, pelo contrário, a rota desse caminho pode ser alterada por novos cursos, como especialização, mestrado, ou, até mesmo, uma formação complementar. O importante é ter em mente que a graduação é uma porta que se abre para novas descobertas e o profissional pode se atualizar e enriquecer seu currículo com o tempo”.
Além disso o especialista afirma que também há algumas ferramentas que auxiliam nessa empreitada, como a internet, que faz parte da vida de nove entre dez adolescentes e figura entre os meios mais utilizados na busca de informações precisas e rápidas. Mas as fontes não param por aí, há também iniciativas de faculdades públicas e privadas que abrem suas portas e oferecem visitas guiadas aos estudantes mais minuciosos, ou ainda oferecem o serviço de orientação vocacional.
Visão de mercado
Outro meio utilizado pelos jovens para se certificar da escolha certa e acelerar o desenvolvimento profissional é o estágio. Segundo Mavichian é comum, inclusive, que muitos se inscrevam às vagas já nos primeiros períodos do curso: “De acordo com nosso levantamento, 57.6% dos entrevistados procuram especificamente uma vaga de estágio, e mais de 66% afirma que o principal objetivo é ganhar experiência profissional. Ou seja, nesses programas, os alunos conseguem aplicar os conhecimentos obtidos em sala de aula e vivenciar o dia a dia da profissão”.
Além disso, o especialista afirma que é possível experimentar várias áreas de atuação que o mesmo curso oferece, facilitando muito a escolha do campo a seguir. “Nosso levantamento também apontou que para mais de um terço dos estudantes, ter experiência para se tornar mais competitivo no mercado de trabalho é a principal preocupação no momento, o que fortalece ainda mais o programa de estágio como uma ferramenta para que esses novos profissionais tenham contato com a profissão, fator que pode ser determinante para conseguir uma boa colocação ao final do curso” – explica o diretor da recrutadora.
Maior otimismo
A pesquisa ainda revela que, para a maioria dos estudantes, o maior ponto negativo do programa de estágio é o menor número de vagas no mercado de trabalho. 57% deles consideram a falta de oportunidades o pior efeito da crise que o país enfrenta nos últimos anos. Mas, mesmo em meio a esses percalços da economia brasileira, 78% dos entrevistados tem uma visão otimista do mercado e crê que o cenário irá melhorar – 2% a mais em comparação com o ano passado.
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