O depoimento da secretária do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso à Polícia Federal, revelou que a cúpula do Comitê Olímpico da Rio 2016 também presidido por ele tinha conhecimento que ela sofria pressão do empresário senegalês Papa Diack por pagamentos. O africano, segundo os investigadores, cobrou milhões de dólares em troca de votos para trazer a Olimpíada para o Brasil.
Ela foi ouvida na quinta-feira (5), mesmo dia em que Nuzman foi preso, junto com seu braço-direito e ex-diretor do COB e do Comitê, Leonardo Gryner. Foi a segunda fase da Unfair Play (jogo sujo, do inglês), operação do Ministério Público Federal (MPF) e da PF, em cooperação com investigadores da França, que apura irregularidades na escolha da sede dos últimos Jogos Olímpicos.
Papa Diack é filho do ex-presidente do Comitê Internacional de Atletismo, Lamine Diack, e apontado pelo ministério público de finanças francês como um dos principais elos num esquema de compra de votos. Nas quatro páginas do depoimento, a secretária de Nuzman disse que, antes mesmo da eleição, em 2 de outubro de 2009, Papa dizia que Nuzman lhe devia algum pagamento.
Disse que achava que o pagamento seria para restauração de pistas de atletismo na África, que Papa era insistente, mas que Nuzman alegava não saber do que se tratava e que não tinha nada a ver com isso. Os contatos, segundo ela, aumentaram depois que o Rio conquistou a vaga.
Papa Diack ligava insistentemente, inclusive em horários absurdos, de madrugada. De acordo com os relatos de Maria Celeste, por e-mail, Diack reclamava que o dinheiro combinado não havia sido depositado em contas que ele mantinha no Senegal e na Rússia.
A secretária disse que estranhou que um dinheiro que supostamente seria para pistas de atletismo na África fosse enviado a uma conta russa. Em outro e-mail, que aparece no pedido de prisão feito pelo MPF, Papa Diack cobra diretamente a Nuzman o que seria o pagamento do restante da propina.
Diz que isso estava causando constrangimento entre as pessoas com quem ele havia se comprometido em Copenhague, onde foi realizada a votação para a sede da Olimpíada. Diz ainda que tentou, sem sucesso, falar com o então diretor do COB, Leonardo Gryner.
Os investigadores querem saber agora quantos votos foram vendidos para que o rio pudesse sediar a Olimpíada. Antes da prisão de Nuzman, a polícia descobriu que ele guardava 16 quilos de ouro em um cofre na Suíça, que ele só declarou à Receita Federal há duas semanas, depois de uma chave ter sido apreendida na casa dele, na primeira fase da operação Unfair Play.
O que dizem os citados? Nuzman é apontado pelos investigadores como elemento chave no esquema de compra de votos. O advogado dele nega qualquer envolvimento.
Não participou de nenhum pagamento, não concordou com nenhum pagamento, não tem conhecimento de nenhum pagamento, disse Nélio Machado. No sábado, Nuzman pediu ontem afastamento do cargo, o que pode abrir caminho para a renúncia.
A defesa de Leonardo Gryner negou a participação dele no esquema.
Foto: Reprodução
Fonte: G1/NotíciaPlus
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