Ausente de quase todas as posses de ministros ao longo do dia – com exceção daqueles diretamente ligados ao Palácio do Planalto – em razão de compromissos na agenda, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) acompanhou pessoalmente nesta quarta-feira (2) a transmissão de cargo para o novo ministro da Defesa, general da reserva Fernando Azevedo e Silva.
A cerimônia ocorreu no Clube do Exército, em Brasília, e contou com momentos de emoção e de elogios ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. Bolsonaro ainda fez um discurso enfático em defesa da pátria, assemelhando-se ao tom usado pelo norte-americano Donald Trump.
Convidado especial, Collor recebeu agradecimentos nominais tanto de Bolsonaro quanto de Azevedo e Silva, com quem trabalhou durante seu mandato. O atual presidente do STF, ministro Dias Toffoli, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e o comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, também acompanharam a cerimônia. O militar, inclusive, chegou a se emocionar durante discurso de Bolsonaro.
Último a falar durante o evento, o novo presidente fez agradecimentos a Villas Bôas, dizendo que o “que nós já conversamos morrerá entre nós”. Em seguida, o comandante, que sofre de uma doença degenerativa e estava em uma cadeira de rodas, apareceu com lágrimas nos olhos.
Na sequência, Bolsonaro citou a necessidade de tornar uma ‘pátria grande’, termo semelhante ao utilizado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, em sua campanha eleitoral, que falava em tornar os Estados Unidos grandes de novo (“make America great again”).
Mais do que defender a pátria, queremos fazer dessa pátria grande, e só faremos isso com uma boa equipe, onde todos conversam entre si, onde não há ingerência político-partidária que levou à ineficácia do estado e à corrupçãoPresidente Jair Bolsonaro
Depois, ele enumerou benefícios que os militares receberam durante os governos José Sarney (1985-1990), Fernando Collor (1990-1992) e Itamar Franco (1992-1994). Ele se dirigiu diretamente a Collor, citando a criação de uma lei que estabeleceu uma gratificação à atividade militar. “Muito obrigado pelo reconhecimento”, afirmou Bolsonaro a Collor.
Em seguida, disse ter tido problemas com o governo posterior, de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). E afirmou que esse foi o início de uma fase em que os militares foram esquecidos pela classe política.
“Esquecidos por quê? Porque as Forças Armadas são um obstáculo para quem quer usurpar o poder”, afirmou o presidente.
“Nossas Forças Armadas sofreram um brutal desgaste junto à classe política, mas não ao povo brasileiro, que continuou acreditando em nós. As Forças Armadas sempre refutaram a citação de sociedade civil, porque somos uma sociedade só. E a situação que o Brasil chegou é uma prova que o povo, em sua maioria, quer hierarquia, respeito, ordem eprogressoPresidente Jair Bolsonaro
Bolsonaro fechou o discurso exaltando as Forças Armadas – cinco militares estão no primeiro escalão do governo – e a escolha pelo general como ministro da Defesa. “Cumpri todo o meu trabalho nos últimos quatro anos, buscando viabilizar uma eleição. Escolhi ministros técnicos para suas respectivas áreas, e com a Defesa não poderia ser diferente”.
Ministro diz que reestruturar a carreira é prioridade
Em seu discurso, o novo ministro da Defesa disse que a pasta tem duas prioridades, sendo a primeira delas a redução de “custos operacionais periféricos” e a “canalização de recursos para as atividades do braço armado e projetos estratégicos essenciais ao Brasil”.
A outra, segundo ele, é a “urgente reestruturação da carreira militar”, criando novos atrativos à classe.
Azevedo e Silva ocupava o cargo de assessor especial de Dias Toffoli antes de assumir a Defesa. Ele também atuou no governo Collor, tendo sido chefe da ajudância de ordens do ex-presidente durante sua passagem pelo Planalto, entre 1990 e 1992. Em seu discurso, ele agradeceu aos dois presentes.
Sobre Bolsonaro, disse ter visto com satisfação a ascensão à Presidência de “um companheiro dos bancos acadêmicos, parlamentar dedicado a questões das Forças Armadas e agora o primeiro presidente eleito formado na Academia das Agulhas Negras.”
Ex-ministro deve assumir função no governo
A cerimônia de hoje foi aberta pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna, que ocupava o cargo de ministro da Defesa desde fevereiro do ano passado. Ele agradeceu a Michel Temer por “quebrar o paradigma” de indicá-lo ao cargo, após uma sequência de ministros civis que comandavam a Defesa desde a criação da pasta, em 1999.
Ao citar Silva e Luna em seu discurso, Bolsonaro disse que pretende contar com ele e que não chegou a hora de o general “vestir pijama”. Em resposta, o militar levantou da cadeira em que estava sentado no palco e prestou continência ao presidente.
Questionado pela reportagem do UOL, ele contou que Bolsonaro o consultou dentro de uma sala reservada no clube do Exército, antes de entrarem, para saber se ele estava disposto a trabalhar no governo.
O general disse ter concordado mesmo sem saber qual posto deverá ocupar, mas que imagina que vai atuar na área econômica, de gestão.