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Principal destino turístico religioso da América Latina, o município de Aparecida, a 170 quilômetros da capital paulista, tornou-se um triste exemplo dos problemas econômicos causados pela pandemia de covid-19. Dependente dos milhares de fieis que visitavam o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida todos os anos, o município enfrenta a paralisação de quase toda as suas atividades.

Segundo o prefeito Luiz Carlos de Siqueira, o Periquito, com cerca de 36 mil habitantes, o município está com cerca de 70% de desempregados. O medo da doença e as medidas restritivas adotadas para tentar conter a disseminação do novo coronavírus (Sars-CoV-2) afastaram os turistas, levando cerca de 95% dos hotéis da cidade a suspender o funcionamento por tempo indeterminado e a demitir funcionários. Muitos donos de estabelecimentos inclusive estão inseguros quantos à retomada das atividades dentro de algum tempo.

“Nossos restaurantes também demitiram. Temos uma feira que reúne 2,5 mil ambulantes que labutam aos sábados e domingos para ganhar o pão com que atravessam a semana. Esta feira está fechada, causando uma tragédia socioeconômica. São 600 vendedores de refrigerantes, uma quantidade enorme de sorveteiros. Todos perderam suas fontes de sustento”, disse Siqueira.

O prefeito participou, na manhã desta sexta-feira (26), da cerimônia de entrega de cestas básicas a famílias em situação de vulnerabilidade – evento que serviu, também, para o Ministério da Cidadania lançar, em parceria com o Programa Pátria Voluntária, o projeto Brasil Fraterno.

De acordo com Siqueira, a distribuição de alimentos doados pela população e por empresas foi a forma que a prefeitura encontrou para dar uma resposta ao problema mais urgente causado pela pandemia: a fome. “A cidade está estrangulada socioeconomicamente. Nossas famílias estão sofrendo”, alertou o prefeito.

Ele afirmou que, depois de ter seus apelos divulgados na imprensa na semana passada, toneladas de alimentos doados começaram a chegar à cidade. Só a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), empresa pública federal, doou, nesta semana, 292 toneladas de frutas, verduras e legumes que começaram a ser distribuídos hoje à população. A operação teve a colaboração de voluntários que separaram os alimentos e a montaram as cestas.

“Nosso povo é generoso, tem compaixão. Foi com esse coração que o povo brasileiro começou a me ligar de todos os lugares, inclusive do exterior, querendo contribuir nesta hora de adversidade”, afirmou o prefeito que, no começo da semana, viajou a Brasília em busca de apoio federal. A iniciativa contribuiu para a escolha de Aparecida para o lançamento do projeto Brasil Fraterno.

Aparecida exerce uma grande influência sobre outras cidades do Vale do Paraíba e, por isso, a crise afeta também municípios vizinhos. Ontem (25), a prefeita de Potim, Erica Soler, pediu auxílio a Siqueira, que determinou que parte dos alimentos doados a Aparecida fossem redistribuídos para esta cidade. Alguns mantimentos foram entregues nesta manhã. Nas redes sociais, Erica disse que os perecíveis já estavam sendo separados e que, no decorrer do dia, a prefeitura divulgaria a forma de distribuição aos necessitados.

A uma internauta que sugeriu à prefeita informar a imprensa sobre a situação do município para conseguir mais ajuda, Erica disse que já tinha conversado com outras instâncias. “Estamos esperando ajuda e correndo atrás. Em breve, teremos mais contribuições chegando!”, escreveu Erica. A outro internauta, a prefeita informou que, além dos hortifrutigranjeiros, chegará mais ajuda em breve.

Números da pandemia

Até a tarde de ontem (25), o município de Aparecida tinha 1.896 casos confirmados de covid-19, dos quais 50 resultaram na morte dos pacientes. Aguardavam resultado de exames laboratoriais 122 pessoas com suspeita de terem sido infectadas.

Como contribuir

Quem tiver interesse em contribuir financeiramente com o Fundo Social de Aparecida pode depositar qualquer quantia no Banco do Brasil – agência 1451-6, conta-corrente 3320-0, CNPJ 46.680.518/0001-14. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (12) 3104-4000 (ramal 4045).

Os que moram na região e querem doar alimentos, roupas ou produtos de higiene devem levar os produtos ao Centro Educacional do Jovem Aprendiz (Ceja/Cemep), na Rua Simplício Soares, sem número, centro, antigo Mercado Municipal.

Brasil Fraterno

Nesta sexta-feira, a cerimônia de lançamento simbólico do projeto Brasil Fraterno, do governo federal, levou até Aparecida os ministros da Cidadania, João Roma, e do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, além da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que preside o conselho do Programa Pátria Voluntária, e vários parlamentares.

Segundo o Ministério da Cidadania, o Brasil Fraterno tem o objetivo de arrecadar alimentos doados e distribuí-los para pessoas em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. O objetivo é “criar uma rede nacional de solidariedade para garantir segurança alimentar às famílias necessitadas”.

Aparecida foi escolhida para dar início ao projeto depois que o ministro João Roma “se sensibilizou com o apelo do prefeito Siqueira”, mas a expectativa é que a iniciativa se espalhe por todo o país. A ação de hoje beneficiará cerca de 7 mil famílias, que vão receber mais de 300 toneladas de alimentos arrecadados por meio de parcerias – incluindo as 292 toneladas de hortifrutigranjeiros doadas pela Ceagesp.

Durante o evento, o ministro da Cidadania destacou a intenção de despertar a fraternidade e solidariedade do povo brasileiro. “Este momento simboliza uma grande mobilização nacional, um movimento de fraternidade. É uma ação pontual, mas que não pode perder suas perspectivas, pois estamos tratando de segurança alimentar; de oferecer o mínimo de dignidade ao nosso povo. O que nos move é um ato de compaixão”, afirmou Roma.

O ministro questionou as medidas que limitam a atividade econômica: “Uma coisa é o isolamento, outra o distanciamento. O distanciamento é, sim, necessário, assim como o uso de máscara, de álcool em gel, de protegermos as pessoas que amamos. Mas não podemos parar, porque existem mazelas [consequências]”, afirmou Roma.

Edição: Nádia Franco / foto: Oswaldo Corneti