MSF pede investimentos para tornar mais acessível nova vacina contra pneumonia

No momento em que a Gavi, a entidade internacional dedicada ao desenvolvimento e disseminação de vacinas, inicia as celebrações de seu vigésimo aniversário e lança um novo apelo para arrecadar fundos, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) enfatizou que mais deve ser feito para garantir que as 55 milhões de crianças que não têm acesso à vacina contra pneumonia estejam protegidas contra a doença. A pneumonia ainda é considerada a doença mais letal que atinge crianças em todo o mundo, e agora uma nova vacina mais acessível está finalmente disponível para combatê-la.

Em dezembro de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) atestou a qualidade de uma nova vacina contra a pneumonia, finalmente fornecendo uma alternativa às versões da Pfizer e da GlaxoSmithKline (GSK), que até agora eram as únicas duas vacinas contra a doença disponíveis em todo o mundo. O medicamento mais recente, produzido pelo Serum Institute of India, deve ter um preço 30% mais baixo do que os mais baixos preços globais praticados por Pfizer e GSK, com um valor substancialmente mais acessível para os países de renda média, que compõem a grande maioria dos 50 países que ainda não começaram a usar a vacina, principalmente devido ao seu alto preço.

Trabalhamos na última década para obter acesso à vacina contra pneumonia para nossos pacientes e estamos muito empolgados com o fato de finalmente haver outra versão mais acessível. Toda as organizações que trabalham com vacinação deveriam se esforçar ao máximo para garantir que todos os países possam começar a proteger todas as suas crianças contra pneumonia, agora que finalmente há uma vacina que não irá falir os orçamentos de saúde dos países no longo prazo“, disse Kate Elder, consultora sênior de políticas de vacinas da Campanha de Acesso de MSF. “Agora não há desculpa – Gavi, a OMS, a UNICEF e a Fundação Gates têm um papel importante a desempenhar para garantir que cada criança esteja protegida contra esta doença fatal.

Cerca de dez anos atrás, a Gavi lançou um programa especial para estimular o desenvolvimento de vacinas contra a pneumonia que atendam às necessidades dos países em desenvolvimento e acelerar o lançamento dessa vacina que salva vidas nos países mais pobres do mundo. Esse programa (chamado Compromisso Avançado do Mercado) envolveu o pagamento de um subsídio de reposição especial à Pfizer e à GSK, além do preço cobrado pela vacina. Até agora, as duas empresas receberam 1,2 bilhão de dólares (cerca de 5,4 bilhões de reais) do subsídio de 1,5 bilhão de dólares (cerca de 6,3 bilhões de reais). MSF pede agora que os 262 milhões de dólares restantes (cerca de 1,1 bilhão de reais) não sejam pagos à Pfizer e à GSK, mas que sejam usados para introduzir a nova vacina mais acessível nos países.

Até o momento, Pfizer e a GSK ganharam juntas 50 bilhões de dólares (cerca de 209 bilhões de reais) em vendas globais combinadas da vacina contra pneumonia e reduziram minimamente seu preço para Gavi na última década. Ao mesmo tempo, somente a vacina contra pneumonia responde por 44% do que a Gavi gasta em vacinas – atualmente, a Gavi financia o uso de 12 vacinas diferentes.

Além dos países que são elegíveis para receber apoio da Gavi, estão as dezenas de países de renda média que lutaram para introduzir a vacina contra a pneumonia. Enquanto o preço global mais baixo da vacina é de 8,70 dólares (cerca de 36 reais) por criança (para os países mais pobres do mundo), e a vacina mais nova deve custar 6 dólares por criança (aproximadamente 25 reais), os países de renda média em que MSF trabalha, como Filipinas e Líbano, foram forçados a pagar até 49 dólares (cerca de 205 reais) e 245 dólares (aproximadamente 1.028 reais) para vacinar uma criança, respectivamente, tornando proibitivo o uso da vacina.

“A Gavi poderia ter feito muito mais ao longo dos anos para pressionar a Pfizer e a GSK a reduzir o preço da vacina contra pneumonia, para que ela não consumisse uma parcela tão grande de seu orçamento e os governos tivessem mais chance de manter seus programas no longo prazo”, disse Elder. “Agora é hora da comunidade global de vacinas – Gavi, OMS, UNICEF e Fundação Gates – para compensá-los e colocar todo o seu peso em favor da introdução desta vacina mais acessível, para que beneficie os bebês nos países mais pobres do mundo, bem como em lugares onde bebês e crianças ainda não têm acesso a ela”.